Capítulo 9 - Susto na viagem

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Posso perguntar ao menos para onde você está me levando?

Julianna seguia Zogham pelo Portal de Anaya e a cada passo que dava uma nova pergunta se formulava em sua mente.

– Para uma colônia que fica em um anexo do Portal – Zogham respondeu sem lhe dar muita atenção.

– Uma colônia? Que espécie de colônia? É uma clínica psiquiátrica? – ela perguntou indignada.

– Não. Não temos isso aqui – ele respondeu sem olhar para ela. – Chama-se Colônia Provisória.

– Ué? Por que provisória? Ela vai se mudar para outro lugar?

Mais uma vez Zogham teve vontade de rir da forma como Julianna elaborava as perguntas, tal qual uma criança que começa a descobrir o mundo no qual nasceu. No entanto, ele se conteve e limitou-se a responder friamente.

– Quando a criaram era para servir apenas de modelo para as colônias de estudo, mas tornou-se tão útil ao Portal de Anaya que não a desativaram – ele explicou didaticamente – E, então, o nome permaneceu por não ser relevante alterá-lo.

– Mas por que...

– Chega de perguntas!

A voz de Zogham estava tão seca que Julianna não se animou a continuar sua pergunta. Apenas olhou em volta reparando como tudo era tão deserto. Raramente via alguém, apesar da estrutura do lugar ser enorme, com corredores largos e lojas de diversos tipos. Aparentemente, não havia ninguém nas lojas também, apesar de estarem com as portas abertas. Algumas vendiam trajes exóticos, diferentes de tudo que já tinha visto na Terra; outras eram similares àquela a qual havia entrado e comprado o guia de viagem, mas havia lojas de aparência simples, vendendo objetos que a faziam lembrar dos shopping centers que costumava frequentar quando estava "viva". Esse pensamento a fez divagar por uns instantes, até que ela se lembrou de algo.

– Ei, eu tinha comprado um guia de viagem em uma loja. Onde está? – ela falou repentinamente.

– Você não precisará mais dele – Zogham respondeu sem olhar para ela.

– Mas eu paguei por ele! – ela protestou. – Aliás, onde está minha bolsa e todo o meu dinheiro?

– Também não precisará de dinheiro por um bom tempo – ele continuava fingindo não lhe dar muita atenção. – Sua bolsa está guardada, não se preocupe com isso agora.

– Menos mal, pois eu tinha pouco dinheiro mesmo – Julianna falou pensativa.

Zogham sorriu disfarçadamente.

– Engraçado, sempre me disseram que da vida nós só levaríamos as nossas experiências, que depois da morte, tudo o que fosse material ficaria para trás.

– E lhe disseram a verdade – Zogham respondeu com a voz mais gentil.

– Mas, então, como foi que eu trouxe dinheiro? – Julianna achou que ele não conseguiria explicar-lhe isso.

– Você não trouxe. Você o materializou – ele disse como se fosse o óbvio.

– Como é que é? – Julianna achou que não tinha escutado direito. – Eu fiz o dinheiro aparecer? É isso mesmo?

– Exatamente – Zogham sentiu-se culpado por estar se divertindo com a situação.

– Você está querendo me dizer que eu posso "fabricar" dinheiro? – os olhos dela brilharam ao imaginar essa possibilidade.

– Sim. Mas somente o da Terra e somente porque você passou para "o outro lado", ou melhor dizendo, porque você passou para "o lado de cá" – ele se arrependeu de ter provocado a conversa, pois não queria ter que explicar nada disso agora.

O Portal de Anaya - Livro 1 - A OrigemOnde histórias criam vida. Descubra agora