Capítulo 5 - O Energizador

130 2 0
                                    

Gregório estava de pé ao lado da cama onde Julianna permanecia inconsciente. Apesar de menos agitada, a expressão de seu rosto ainda era de sofrimento.

– Ela realmente precisa de um Energizador... – ele disse para si mesmo.

Os energizadores eram capazes de mapear todos os pulsos elétricos de um ser. Cada pensamento era um pulso e a mentalização que cada um fazia para compor suas ideias e, até mesmo, sua própria forma no universo, era um conjunto deles. Assim, ao longo de uma existência, um indivíduo poderia embaralhar tudo em sua mente, causando um verdadeiro curto-circuito, confundindo as lembranças, fortalecendo as fobias, enfraquecendo a memória. Por isso, era necessário procurar um Energizador regularmente, para colocar ordem nos pensamentos e evitar o desequilíbrio e a confusão mental. No entanto, não era aconselhável ir a qualquer um, mas ter um Energizador de confiança, pois um tratamento malfeito poderia causar muitos danos, tornando a situação do indivíduo pior do que antes, algumas vezes com sequelas irreversíveis, o que significava a eliminação definitiva de uma determinada lembrança ou a fixação equivocada de uma ilusão plantada por meio de manipulação de energia. Gregório estava muito preocupado com Julianna. Ele sabia que ela devia estar presa ao momento de seu atropelamento e, provavelmente, buscava ilusões para fugir da dor e daquilo que se recusava a aceitar como verdade: que seu corpo terrestre não existia mais. Se ela não fosse tratada, era certo que sua mente se refugiaria em suas próprias fantasias e passaria a viver alienada à realidade de sua existência. Mesmo que pudesse permanecer desacordada por um dia do Portal, sua mente continuaria em atividade nesse tempo.

– Por que Zogham está demorando tanto? – mal acabara de dizer isso em voz alta, Gregório viu a porta se abrindo. – Ainda bem que voltou!

Zogham entrou na sala e se aproximou de Julianna, segurando sua mão. No mesmo instante, ela estremeceu suavemente.

– Oi, Gregório. Como ela ficou durante minha ausência? – ele perguntou sem tirar os olhos dela.

– Exatamente como está agora. E a conversa com Mestre Carama? – Gregório quis saber se estava tudo bem.

– Melhor do que eu imaginava – Zogham respondeu aliviado.

– Isso é bom.

E por alguns instantes se mantiveram em silêncio. Gregório observava Zogham que levara a mão de Julianna até os lábios. O Orientador mantinha os olhos fechados e Gregório estranhou que ele transparecesse tanta dor e sofrimento. Não deveria ser assim, ele pensou.

– A propósito, Mestre Carama autorizou o Energizador que solicitei. Logo, logo resolveremos isto – Zogham se voltou para Gregório, mas continuava a segurar uma das mãos de Julianna.

– Mas por que esse Energizador precisou de autorização? – Gregório perguntou curioso.

– Porque ele ainda vive na Terra, era o pai de Julianna.

– Ah, isso explica a permissão especial.

– Gregório, eu agradeço muito por ter ficado aqui com ela, mas sei que iniciei uma crise no Portal por conta do meu erro. Se precisar ir, sinta-se à vontade – Zogham estava realmente grato a Gregório, mas sabia que o Monitor devia estar fazendo falta no apoio a Ariel.

– Tudo bem, Zogham, eu falei com Ariel ainda há pouco e ela conseguiu contornar a situação depois de falar com Mestre Carama. Posso ficar com vocês. Quem sabe não serei útil ainda? – o Monitor respondeu solidário.

– Meu amigo, suas palavras me confortam. Apesar de tudo, estou extremamente confiante. Acho que dará tudo certo e terei Julianna de volta sem danos.

Nesse momento, a porta da sala de recuperação se abriu e um senhor de cabelos brancos curtos e olhos cinza, trajando um manto azul celeste com uma faixa amarela na cintura, entrou. Do alto de sua cabeça, saía um pequeno fluido prateado, denso, em forma de fio, que se dissolvia no ar. Esse fluido era o que o mantinha preso ao corpo físico. A cor variava de acordo com o nível evolutivo e a missão de cada um. O fato de ser prateado, sinalizava a Zogham e a Gregório de que se tratava de um ser em missão e nível elevados. A sala, que era toda branca, refletiu uma intensa luminosidade e o ambiente ficou mais leve. Ele caminhou até Julianna, tocando o ombro de Zogham para que se afastasse. Curvou-se sobre ela e proferiu um sussurro em seu ouvido: – Minha menina, papai está aqui. Vai ficar tudo bem. Papai te ama muito e mamãe também. Ela não pôde vir, mas seu coração está em você – o semblante de Julianna se suavizou e seus lábios pareceram sorrir. O senhor se ergueu e ficou a alguns passos do leito. Dirigindo-se a Zogham e Gregório, disse:

O Portal de Anaya - Livro 1 - A OrigemOnde histórias criam vida. Descubra agora