Capítulo 15 - A outra voluntária

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A outra voluntária

Akólouthos andava de um lado para o outro esperando Mila entrar pela porta da Letras e Acessórios Astrais. Já havia arrumado e desarrumado a prateleira de lançamentos, pelo menos, umas oito vezes. Dois clientes habituais da loja, estranhando o comportamento desatento de Akólouthos, que indicara o romance “A luz de Nívea L.” para um Energizador que estava procurando uma obra técnica sobre a iluminação de seres Nível 1, preferiram ser atendidos por outro vendedor. Um terceiro cliente retornou à loja depois de perceber que Akólouthos não havia lhe cobrado os bônus de energia referentes ao valor da publicação que adquirira.

- Akólouthos Akolyte! O que está acontecendo com você hoje? Está com a cabeça fora do Portal? – reclamou Homa Gelisah sua colega de loja depois de perceber que Akólouthos se preparava para arrumar a prateleira dos lançamentos pela nona vez.

- Quem? Eu? Não, claro que não!

Mas Akólouthos respondeu no mesmo instante em que Mila entrou na loja e, ignorando os protestos de sua colega por ter retirado todos os livros da prateleira e tê-los espalhado pelo chão, ele correu ao encontro de Mila segurando-a pela mão e saindo com ela da Letras e Acessórios Astrais antes que ela pudesse cumprimentar qualquer um pelo caminho.

- Ei! – Mila protestou. – O que houve? Por que está me arrastando dessa forma? Aonde estamos indo?

- Como assim “aonde estamos indo”? A uma sala de recuperação, óbvio! Consegui um passe para utilizar uma alegando que teria uma sessão com um Energizador. – Akólouthos respondeu sem parar de arrastar Mila pela mão, que expressava espanto pelo comportamento inexplicável do amigo.

- Você? Contando uma mentira? Tem alguma coisa muito errada aqui! E por que eu deveria saber que estamos indo a uma sala de recuperação?

Mas Akólouthos não respondeu. Ele apenas tentava não pensar em nada, mesmo assim, achou melhor reforçar o bloqueio mental. Dedicara um tempo enorme a exercícios mais eficazes que garantissem que ninguém leria seus pensamentos.

- Não pense em nada Mila, não pense em nada! – ele repetia sem parar. – Eu sei que você deve estar com a mente a mil, por tudo que deve ter ouvido hoje, mas se esforce para não pensar em nada.

Mila ia responder mas achou melhor esperar para ver no que ia dar aquilo tudo. Por mais que se esforçasse, não havia sentido em nada do que Akólouthos dizia. E enquanto ela procurava compreender o que poderia ter feito seu amigo surtar, Akólouthos andava em ritmo acelerado. Abaixara a aba do boné, tampando os olhos, ao passar por um brilhante grupo de neonianos e se escondera atrás de uma yoctocabine, obrigando Mila a se comprimir contra ele, ao ver um lemuriano segurando um objeto que ele afirmava ser um sugador.

- Akólouthos, sugadores são proibidos no Portal de Anaya. Ninguém, aqui, pode extrair pensamentos dos outros dessa forma! Como ele poderia estar segurando um à vista de todos? – Mila esbravejou. – Você está começando a me assustar! Por que não usamos a yoctocabine para chegarmos a essa tal sala de recuperação que você reservou?

- Por que teríamos que nos separar, e não podemos fazer isso enquanto não traçarmos um plano. – ele falou saindo disfarçadamente de trás da cabine de transferência, ainda segurando Mila pela mão.

- Plano? Mas que plano? Para quê?

Akólouthos parou repentinamente e olhou indignado para Mila.

- Como assim para quê? Será que você não se dá conta da magnitude do que está acontecendo? – e olhando em volta, ele viu uma porta branca. – Pronto, chegamos!

Akólouthos soltou pela primeira vez a mão de Mila e se aproximou da porta, tocando-a com as duas mãos. Imediatamente, seu corpo começou a ser escaneado vertical, horizontal e diagonalmente, até que a porta se abriu. Ele a manteve aberta e gesticulou para que Mila entrasse. Caminhando vagarosamente ao passar pelo amigo, ela o observou com ar de desconfiança, perguntando-se se ele não estaria precisando de uma desenergização com urgência. Quando ambos estavam dentro da sala, Akólouthos fechou a porta e ativou todos os sistemas de segurança disponíveis no ambiente. Depois, tentou acionar o comunicador e vendo que estava sem nenhum sinal, desligou-o. Em seguida, obrigou Mila a fazer o mesmo que, sob muita reclamação, entregou seu aparelho a Akólouthos.

O Portal de Anaya - Livro 1 - A OrigemOnde histórias criam vida. Descubra agora