Nove - COMO EU SAÍ DE NÁRNIA

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Eu tinha 13 anos e estava no oitavo ano.

Meu pai estava começando um novo negócio e estava dando uma festa que já ia para o seu segundo dia. No dia anterior, uma sexta-feira, eu havia tido o meu primeiro beijo com a filha de um dos garçons que veio acompanhando o pai ao trabalho, e mesmo depois disso eu ainda continuava á ter essa atração maluca por pessoas independente de seu sexo.

Foi então enquanto começava á escurecer que eu vi Denis, o filho de um dos acionistas do negócio do meu pai; ele tinha 17 ou 18 anos na época e lembro que assim que o vi senti todo meu corpo arrepiar, não porque ele era lindo – que a propósito ele era e muito -, mas porque ele tinha algo diferente, eu acho que apenas me encantei demais. Não acredito que isso aconteceria hoje.

O fato é que meu pai pediu para que eu o acompanhasse enquanto eles resolviam seus negócios. Durante toda á noite nós nos envolvemos em uma conversa que parecia não ter fim até que sem que eu percebesse estávamos andando pelo jardim de minha mãe. Foi então que paramos no meio das rosas vermelhas um de frente para o outro e eu senti esse impulso estranho e me estiquei e o beijei rapidamente na boca, mas então quando me afastei ele me puxou para perto de si e nós tivemos um daqueles beijos longos, molhados e que á não ser que seja você quem estiver beijando, parece nojento demais.

Nós nos sentamos em um dos banquinhos do jardim e continuamos á nos beijar parando apenas algumas vezes para conversar. O que aconteceu depois era de se esperar, mas estávamos envolvidos demais para prestar atenção em algo: nossos pais apareceram juntos e nos pegaram num momento em que parecia que estávamos colados um no outro.

O pai de Denis o agarrou pelo pescoço e disse que eu o havia corrompido, e se virou e foi embora levando o filho. Meu pai em um acesso de raiva me segurou pelo braço e me puxou para dentro de casa e passou pelos convidados sem se importar que eles estivessem nos olhando e me levou para seu escritório e fechou a porta, no mesmo segundo minha mãe abriu a porta e á fechou rapidamente ao entrar.

-O que aconteceu? – Ela perguntou.

-O que aconteceu é que seu filho estava agarrando o filho de Jorge Frota no jardim – meu pai disse irado tentando falar baixo, mas não estava conseguindo.

-Espera um pouco aí que eu não o agarrei. – Eu disse quase rindo. – Nós nos agarramos eu não o forcei á nada.

-E você fala assim tranquilo? – Ela grita vindo pra cima de mim, mas então minha mãe entra em sua frente.

-Tente se acalmar, Raphael.

-Sim, eu falo tranquilamente – de repente eu senti vontade de falar tudo. – Eu já estou cansado de tentar reprimir todo esse sentimento dentro de mim. Gay, bissexual... Eu não sei realmente o que eu sou pai, mas sei que eu me interesso por pessoas, eu me sinto atraído por pessoas; eu não consigo impor esse código dentro de mim quando o que realmente se passa na minha cabeça é que eu quero quem me quer, e não alguém de um sexo específico. E qual o grande problema com isso? E toda aquela história de amar á todos? Bem, eu não consigo e, sinceramente, não quero amar á todos, mas sei que quando amar quero que seja alguém que me ame também, independente de qual sexo seja.

-Você tem certeza sobre isso Thomás? – Minha mãe perguntou olhando eu meus olhos.

-Eu não sei! Não tenho certeza sobre nada, não sei como as coisas serão daqui há dois ou quatro anos, só posso dizer que mesmo sem ter certeza é assim que eu sou hoje. E só quero ser respeitado por isso.

E então ela me abraçou forte e beijou minha cabeça.

-Tudo bem, não há problema nenhum com isso. – Ela disse e então meu pai sai do escritório e bate a porta atrás de si. – Um dia ele vai acabar aceitando, eu prometo.

E com isso sorri o maior sorriso de todos.  

A Inútil Capacidade de Ser ReceosoOnde histórias criam vida. Descubra agora