Capítulo 1

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Maquiagem: OK, Roupas: OK, Cabelos: OK. Era hora de partir para a noite das meninas. Naquele sábado iríamos à casa da Ana. Calcei meu salto e abracei mamãe dando beijinhos. Apressei alguns passos até a saída e Marcos me acompanhou, abrindo o carro para mim.

- Obrigada, Marcos.

- Para onde, senhorita?

- Ana.

Marcos deu a partida e coloquei meus fones. Os passeios com ele eram sempre tranquilos, ele não acelerava muito e nem eu exigia isso. Adorava abrir a janela e observar os lugares ao redor, por mais repetitivos que fossem, e sentir as leves lufadas de ar.

As ruas da Cidade das Rosas possuíam cheiros maravilhosos, perfumes de flores e folhas se mesclando no ar. E o melhor, a maioria delas tinha ao menos uma loja de roupas! As roupas eram das mais variadas e dos melhores tecidos.

- Chegamos, senhorita. Deseja que eu aguarde?

- Não, Marcos, obrigada. Ligarei quando precisar. – Marcos fez uma mesura com a cabeça e saiu.

As casas da rua de Ana tinham cor amarela ou branca, quase seguindo um padrão, exceto a dela que era rosa. Houve uma série de discussões e implorações para que Ana convencesse os pais a pintá-la assim, eles acreditavam quebrar a harmonia. Ana, mais do que eu, acredita que rosa combina com tudo e para tudo.

Mirei o segundo andar, procurando por Ana na janela, não a vi e toquei a campainha.

- Boa noite, senhora Russel!

- Boa noite, Penélope! As meninas já estão esperando lá em cima.

Agradeci e andei devagar até sair da vista dela, corri as escadas ao perceber que ninguém via. Respirei fundo e abri a porta.

- Oi, meninas!

- Oi, Pê! – Gritou Matilde seguida das outras.

- Que atraso, hein dona Penélope Perna-Grossa? – Ana ralhou e enrubesci.

Minhas amigas me chamavam assim porque de alguma forma eu tinha pernas muito grossas. Não era genética, talvez fosse por conta do balé. Em contraste, meu corpo era esguio e meus braços normais. Por isso odiava quando me chamavam assim, me lembrava dessa pequena irregularidade. Somente minhas amigas tinham permissão para usá-lo – moderadamente. Infelizmente, todos da escola descobriram e adoram frisar esse apelido.

Aquele sábado era dia de reunião das Rosas na casa da Ana. O Clube das Rosas era uma irmandade criada há alguns anos, que tinha o objetivo de unir garotas e torná-las amigas para sempre, mais que isso, irmãs. Uma das partes do Acordo Rosa especifica que as filhas das integrantes rosa entram na irmandade. Nós éramos filhas das antigas rosas, automaticamente entramos no clube também e formamos a segunda geração.

Sentamos no chão e formamos um círculo para iniciar nossa sessão histórias. A primeira etapa era constituída de todas as fofocas mais badaladas da cidade. Ouvíamos e dávamos palpites.

- Perry terminou o namoro! – Matilde sussurrou e piscou o olho para mim.

- Agora o caminho está livre para você, Perna-Grossa. – Ana disse e riu com as outras.

- Ai, meninas! Eu nem sei se realmente gosto dele.

- Está na cara, Pê. Sempre que o encontra fica no mundo da lua! – Léxi justificou e os risinhos recomeçaram.

- Ele nunca vai dar bola para a Penélope, nem para outra de vocês. São todas um bando de bobas. – Miriam disse e todas nós a encaramos.

Miriam era rude e parecia nos odiar. Poucas vezes dizia algo divertido, pois preferia lançar seu veneno. Por que ela estava conosco? Miriam era filha de Jade, uma antiga rosa e de acordo com o Acordo Rosa...

- Ah, Miriam, cale a boca! – Cristina respondeu.

- Tudo bem, meninas, vamos à próxima fofoca. – Léxi sugeriu e mudamos de assunto.

Miriam ficou mais quieta e discutimos todas as fofocas possíveis, então partimos para as histórias pessoais. Ana nos contou sobre seu sonho de ser arquiteta e tornar todas as casas da cidade rosa, nós vibramos e demos nosso apoio. Léxi levou um filme de comédia romântica e Cristina fez duas panelas de pipoca. Esbaldamo-nos nas pipocas e nos "own!". Foi um filme maravilhoso e pedi o DVD emprestado.

- É todo seu, Pê. – Léxi sorriu.

- Obrigada!

- Bem, meninas. Desculpem-me avisar, mas agora é hora de finalizarmos a noite. – Ana anunciou.

- Até que enfim! - Miriam exclamou.

- Eu ainda dou um tapa nela. – Cristina revirou os olhos e gargalhamos.

Abraçamo-nos e trocamos beijinhos e cada uma foi saindo. Enviei uma mensagem para Marcos.

- Pronta, senhorita?

- Sim! – Levantei os braços e bocejei.

O banco traseiro parecia me chamar para uma soneca e passei a viagem inteira resistindo. Depois de muitas lutas, nós chegamos.

- Não vai entrar, Marcos?

- Dona Amélia me liberou por algumas horas, mas se preferir...

- Não, não. Aproveite.

- Sim, senhorita.

Vasculhei a casa inteira e não vi mamãe, já pensava em desmaiar quando Roger apareceu.

- Roger, sabe onde está a mamãe?

- Ela foi à adega há um tempo.

- Obrigada.

Retirei os saltos e corri para a escada que levava ao porão. Pisei devagar nos degraus, pois a lâmpada estava apagada e só a mais afastada estava piscando.

- Mãe?

- Ninguém deveria descer. – Sussurrou uma voz masculina que eu não conhecia.

- Quem está aí? – Minha voz tremeu.

Desci o último degrau e os vi através da fraca luz: três homens cobertos de preto segurando a minha mãe, com os olhos se fechando. Por um instante ela abriu os olhos com força e gritou.

- Penélope, corra!

- Mãe!

Energia surgiu em todo o meu corpo, mas não era fugir o que eu queria, era lutar. Corri até eles e soquei o braço de um, entretanto não houve nenhum efeito. Os dois que seguravam minha mãe gargalhavam.

- Não insista, você não pode. – Disse um e me indignei.

Bati o punho com toda a minha força em cima da cabeça daquele que socara. Ele fechou os olhos e seu corpo balançou, mas logo voltou ao seu estado normal e mexeu a cabeça, despertando. Ele me estapeou e eu caí. Levantei-me rápido e continuei jogando socos em seu corpo. Os outros dois soltaram a minha mãe no chão e seguraram meus braços.

- Você é só uma garota. – Disse o homem livre.

Encontrei mais forças e concentrei-as em um chute. Meu joelho atingiu-o no estômago e ele caiu.

- Que pernas fortes! – Disse o do meu braço esquerdo e colocou um lenço em minha boca e nariz. Tentei prender a respiração, mas assim que o fiz, absorvi a substância. Minha cabeça se desligava aos poucos.

- O que faremos com ela? – Alguém perguntou.

- O plano era só a outra. Vamos deixá-la aqui mesmo.

Senti uma lágrima descendo e remexi meu corpo sem forças. Desmaiei. 

Salto (Irmandade Rosa 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora