As lembranças do passado voltam

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Assim que entramos naquele espaço, o ambiente á nossa volta muda completamente. A brisa fresca com o cheiro do rio e do carvão transforma-se completamente, dando lugar ao calor, suor e álcool. Torço o nariz ao distinguir o último no meio de tanta gente, apesar de ainda não ser exatamente noite, já há muitos adolescentes, e outras coisas mais, a acumularem-se na entrada e no seu interior.

A Briana parece estar adorar, não tenho a certeza se é a música ou o rapaz que a olha fixamente. Reviro os olhos. Os vampiros não podem ver ninguém como a Briana que ficam logo a babarem-se e é, especificamente disso, que eu medo.

- Briana. Sossega, não te deixes levar por eles. – Ela continua com o sorriso colado no rosto mas ao mesmo tempo acena a cabeça afirmando que ouviu. – Não tens remédio. Eu não vou arriscar e ser dominada pelo encanto de um vampiro.

Ela solta uma gargalhada abafada e tenho vontade de lhe dar um soco mas, em vez disso, presto atenção aonde ela está a olhar até reparar num rapaz, por volta dos 15 anos, com os olhos e o cabelo preto aos cachos, que se estendiam até à nuca, e a pele bronzeada. O meu coração deu um solavanco ao reconhecê-lo das reuniões que muitas vezes havia em Alicante e para as quais muitas vezes me esgueirava para entender as decisões da Clave. Só o vi uma vez mas foi o suficiente para ficar fascinada.

- Olha quem está ali. – Ela dá-me uma cotovelada. – O teu grande amor espera-te e está a olhar demasiado para ti.

Sinto as bochechas a ferverem mas controlo a minha postura para não o demonstrar.

- Já te disse que isto não é amor. É só uma paixoneta. – Entro no meio da multidão, que me empurra de todos os lados. – Briana!

Ela já não se encontra comigo. Em vez disso, está a cerca de 7 metros agarrada a um rapaz com os seus 19 ou 20 anos com o cabelo e os olhos castanhos e, tenho de admitir, um corpo perfeito. Não demoro muito para desviar o olhar já que alguém tem a excelente ideia de me dar um empurrão que cambaleio para o lado. Por pouco não caio ao chão mas só porque alguém me segura o braço e me iça para cima.

Ao ver quem é, quase me esqueço de respirar. Raphael Santiago encontra-se á minha frente, na verdade a pouco centímetros do meu nariz, e está a agarrar-me no braço e na minha cintura.

- Estás bem? – A voz dele é rouca mas por alguma razão isso só me faz querer olhá-lo nos olhos, o que é um perigo para qualquer pessoa.

- Sim. Apanhaste-me a tempo. – Lanço-lhe o meu olhar mais angelical e ao mesmo tempo provocador e ele parece entender o recado.

Retira a mão das minhas costas e eu sinto logo a diferença da sua ausência. No entanto não dura muito tempo, porque ele entrelaça os seus dedos finos nos meus, que fazem contraste com a sua pele.

- Queres dançar? Não conseguia encontrar uma companheira certa mas acho que estarás á altura. – Ele sorri-me, disfarçando um pouco as presas por baixo dos lábios.

- Não me subestimes, Raphael.

Por momentos ele fica confuso. Depois começa a olhar fixamente para a mão que agarra e vê a marca da Visão que eu recentemente fiz. O sorriso dele alonga-se um pouco mais, chego até a pensar que ele me está a provocar, mas não é o caso. Os olhos dele carregam uma energia que se demonstra na maneira como parecem claros.

- Ainda melhor. Mostra o que vales, Caçadora. – Ele puxa-me para o meio da pista, onde já se encontra Briana e o seu companheiro de dança.

A loira faz-me sinais de encorajamento disfarçadamente e quase lhe digo para parar com isso.

O DJ Bat coloca uma das músicas que eu mais gosto, nem muito barulhenta nem muito calma e é aí que eu e o Raphael entramos em cena, dançando como dois rivais competindo pelo título de melhor companheiro mas ao mesmo tempo como parceiros inseparáveis.

Cidade Dos Ossos - Vista Por Outros OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora