Será este o final...

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- Lauren. Jace, de que está ele a falar? – O tremor na voz da loira faz-me ficar com a garganta enrolada num nó.

Todos olham para nós. Por instantes, ou momentos, fico com raiva por ninguém estar disposto a ajudar-nos a explicar o que supostamente é a "verdade" para a Briana, que a cada minuto que passa, fica mais nervosa e inquieta, mas logo percebo o por quê. Ninguém conhece a Briana o bastante para saber como faze-la encarar as coisas, e por isso espera que eu e o Jace, aqueles que são mais próximos dela, o consigamos fazer sem dificuldades.

Mas estão equivocados. A Briana é e há de ser sempre um quebra-cabeça que continua em constante mudança á medida que o tempo passa. O que ontem podia ser aceitável, hoje já poderá ser algo de que ela nem mesmo quer falar por odiar. Logo, nem mesmo eu sei o que dizer numa situação como estas. E o Jace, com o seu silêncio mortal também não me ajuda em nada.

- Coitada de ti, Briana. – O timbre do Valentine mostra o quanto se está a divertir em ver a nossa desgraça. – A tua própria família, a quem te devotas de coração, nem mesmo pode dizer algo tão simples? Queres ajuda?

- Vais mentir-lhe. – Replico entre dentes. – Vais distorcer os factos.

- Como posso distorcer o facto de o Jace ser o meu filho. O meu filho e da Jocelyn e irmão da Clary.

Vejo, pelo canto do olho, o Jace a desviar o olhar na direção da Briana, ao mesmo tempo que o Valentine sorri ao ver-lhe a expressão. O Luke, por sua vez, ainda está a digerir a revelação, ou a certeza, que acabou de ser confirmada para todos aqui presentes. A Clary não diz nada e apenas lança olhares a todos nós.

E depois tem a Briana, que entretanto, fincou as unhas da mão livre no meu braço e insiste em fazer cada vez mais pressão sobre a minha pele, começando a rasgar-ma e a fazer o sangue escorrer. Os olhos dela estão embaciados e a adotarem já um tom dourado que parece lutar por espaço com o laranja da sua iris. Os lábios dela não param de tremer e tem as sobrancelhas e a testa franzidas, provocando-lhe uma ruga no meio desta.

- O Jace é seu filho então... - Ela tenta se esforçar ao máximo em não se engasgar com as palavras. – Então eu sou...

Quero que o pesadelo acabe. Nem a Briana, nem o Jace nem a Clary merecem serem filhos de uma besta humana como o Valentine, é impossível que pessoas tão distintas possam ser filhas de uma pessoa que não tem nada a ver com eles. O Jace tem um coração puro e amável, mesmo por detrás de todo aquele sarcasmo e a Briana, apesar da sua personalidade complicada e mau-feitio (sem ofensa porque eu adoro-a mesmo com esse feitio), e uma joia rara de rapariga que ninguém espera encontrar na vida. E também, a Clary tem uma personalidade independente e leal, para não falar justa para com todos e que aceita a diferença de cada um por igual, não como o Valentine que nem mesmo aceita os Habitantes do Mundo-à-Parte que são pessoas infetadas por demónios mas que ainda têm almas humanas.

Olho colérica para ele e vejo que a expressão dele, embora tente esconder um sorriso de vitória, está um pouco mais séria que antes.

- Não termines a frase porque estarás errada. – Ela olha para ele, confusa. – O Jace e a Clary são meus filhos mas tu não. Tu és uma órfã.

- O que quer dizer? Eu sou irmã do Jace! – A loira já tem os olhos raiados de sangue e a conterem as lágrimas, que sempre evita derramar. – Eu sou irmã dele. Eu vivi toda a minha vida ao lado do Jace!

O Jace quase se deixa cair sobre as próprias pernas ao ouvir o que o pai acabou de dizer, pelo modo como os braços e pernas lhe tremem como varas verdes. No entanto, apenas continua na mesma posição de sempre quase como uma estátua, se não fosse pelos tremores.

Cidade Dos Ossos - Vista Por Outros OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora