A missão

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Abato-me sobre o chão, com as lágrimas a provocarem-me um ardor horrível nos olhos. Parece que afinal eu nunca soube a verdade acerca de nada. Todos nós fomos enganados pelo Hodge e agora havia também a hipótese de tanto o Jace como a Briana serem filhos daquele monstro. Não consigo acreditar em tal coisa.

Os meus irmãos...filhos de uma besta como aquela...é algo inacreditável.

Tento conter a dor psicológica que estou agora a sentir e procuro levantar-me. Eu preciso de fazer alguma coisa mas sinto-me tão desamparada e confusa que nem sei como agir em primeiro lugar. Por isso, decido colocar prioridades, como o Alec, em primeiro lugar para depois ocupar-me do resto, em achar um plano para acabar com este show de marionetes.

Vou até ao telefone antiquado, da era industrial, e foco a minha visão em qual poderá ser o número de telefone do Magnus e logo de seguida, os números começam a surgir um por um, fazendo com que eu os disque com toda a força que tenho.

Ao princípio fico com receio de ter ligado para o número errado ou de ele, na pior das hipóteses, estar indisponível e não poder vir até aqui. Mas, felizmente, ouço a voz do feiticeiro do outro lado da linha, segundos depois.

- Espero que seja importante porque não estou com paciência para trabalhar tão perto da hora noturna. – Resmunga ele.

- Magnus. – Custa-me a falar e pareço estar preste a soluçar ao auscultador. – É a Lauren. A do grupo de Caçadores...

- A namorada do Raphel. – Diz ele, sem parecer muito incomodado. – Eu percebi que eras tu quando disseste o meu nome. Mas pareces mesmo agoniada "loirinha".

Engulo em seco. É incrível como nem sequer a nova alcunha que ele me atribui, conseguiu fazer com que eu lhe respondesse mal. Esforço-me por pensar claramente e sem mostrar fraqueza.

- Ninguém te ligou antes de mim?

- Não. – Responde. – Até que têm sido uma noite bem calminha, até me ligares para saber se eu já tinha recebido alguma ligação.

- Peço desculpa, mas estamos numa situação complicada. – Explico, sem muitos detalhes e ainda mais aflita por saber que a Briana nem tempo conseguiu para avisar o Magnus. – O Alec foi ferido e não temos meio de o curar. Foi envenenado por um Superdemónio e as runas não têm efeito nenhum.

Ele solta algo parecido com um "hum-hum" de "entendi mas isso não me traz qualquer benefício" antes de eu ouvir o gato dele a miar bem alto, como se ele o tivesse acabado de pisar sem qualquer misericórdia.

- Esse Alec é o moreno de olhos azuis? – Respondo-lhe que "sim" e é quando sou surpreendida pela decisão dele. – Estou já a ir para aí.

O telefone fica ligado durante mais uns segundos antes de se seguirem constantes bips. A minha visão começa a ficar desfocada e acabo por só ser tempo de me agarrar á secretária antes de me deixar abater sobre os meus joelhos, recém-acabados de sarar, abrindo-lhe novas feridas por cima das cicatrizes.

Por quê? Por quê? Nem os meus amigos consigo salvar, por quê? Grito eu, dentro da minha mente, como se não houvesse um dia seguinte.

Sem me aperceber, começo a chorar, transbordando toda a minha mágoa, desespero e culpa. Nem forças consigo sequer para as secar quanto menos para me colocar em pé e tomar a atitude de ir chamar a Isabelle e avisar-lhe do sucedido.

Ouço a campainha a tocar e só então, arranjo modo de me levantar e ir até ao hall de entrada que começa a ficar mergulhado na escuridão da noite que está prestes a chegar. A entrada está fria e quando lá chego, a campainha continua a tocar desesperadamente e cada vez mais alto, embora isso nem me incomode como deveria.

Cidade Dos Ossos - Vista Por Outros OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora