Por mais estranho que pareça, estávamos já na reta final do primeiro período de aulas. Passara num instante. As notas de Jinwoo eram estáveis e boas, para um coreano nativo. As minhas eram satisfatórias, como sempre foram. Sempre fui uma aluna aplicada. Apesar do meu caráter nada fácil de lidar com, e da minha grande tendência a desligar-me do mundo.
Estava sentada na minha escrivaninha, rabiscando algum desenho. Sim, posso ter muitos defeitos, mas acredito que desenho bem, para quem nunca tivera aulas de arte outrora. A minha mãe estava a trabalhar, infelizmente o seu emprego ocupa também os sábados. Gostava de me isolar, mas como referi, a família é a minha confidente, e fazia-me falta, por vezes. Nunca confiei muito em Jinwoo, simplesmente porque sinto que tenho que o conhecer ainda melhor. Steve conversava imenso comigo por mensagens, penso que talvez esteja interessado em mim, ou talvez seja apenas da minha cabeça. ''Quando estamos apaixonados, a nossa cabeça tanto pode inventar factos inexistentes, como pode ignorar factos relevantes do nosso dia-a-dia. Pode cegar-nos. ''
Sorri satisfeita e coloquei a minha folha no dossiê. Terminei o trabalho de filosofia. Fiz sobre o amor. Um tema interessante, na minha opinião. Suspirei cansada e arrastei a minha cadeira de rodas pelo quarto. Olhei para os posters desanimada. Por mais que esse seja o meu objetivo de vida de fã, nunca irei realmente conhecer uma estrela de pop coreano. Isso deixava-me infeliz, pois são raras as vezes em que eu deposito fascínio em algo, e kpop era uma das coisas que eu mais apreciava.
Os meus sentimentos de tristeza foram interrompidos pelo som da campainha. Permaneci alguns segundos sentada na cadeira, resistindo à inércia, mas ao segundo toque, levantei-me. Era demasiado cedo para ser a minha mãe, então a curiosidade e interesse apoderaram-se do meu cérebro, vencendo assim a tão frequente preguiça.
Coloquei a mão no pequeno intercomunicador e perguntei calmamente quem era, recebendo de volta uma voz cansada e rouca, mas impossível de não reconhecer.
''Sarah, sou eu, o Jinwoo. Posso entrar?''
Permaneci em silêncio arqueando uma sobrancelha, e carreguei no botão, ouvindo o som proveniente da entrada do prédio. Ouvi também passos lentos e suspiros de cansaço, apressando-me então em abrir a porta.
Jinwoo estava, de facto, cansado. Mas não era apenas essa a sua característica naquele momento. Woo tinha um lábio rebentado e um hematoma no seu rosto, perto da zona do olho, que estava ensanguentado. O meu coração dispara a mil ao ver o meu colega naquele estado, segurando o seu corpo na parede, e olhando-me à espera de uma reação minha.
Eu sei quando exagero no meu péssimo feitio, e não podia fazer isso agora. Jinwoo estava machucado à porta de minha casa, ele precisa de ajuda. Acalmei o meu corpo e agarrei cuidadosamente no seu braço, puxando-o calmamente para dentro. Este assentiu e entrou, fechando a porta atrás dele.
''O que aconteceu?'' sentei-o no sofá da minha sala, procurando algures nos armários algo que poderia desinfectar as suas feridas.
''Tive uma luta com o Steve.''
Steve. Ao ouvir o seu nome, a minha cabeça involuntariamente se virou para Jinwoo. Será que ele o magoara? Porque raio eles discutiram? Aposto que a culpa fora do coreano. Ele sempre se queixou que tinha ciúmes. Nunca soube ao certo o porquê, mas tenho a certeza que foi essa a causa.
''Conta.'' olhei em frente por uns instantes mas logo retornei a minha procura de algodão e álcool etílico. Ao encontrar, sentei-me de novo ao lado dele, olhando-o com certo dó no olhar. Nunca tinha visto Jinwoo desta forma. Eu sempre o comparei a alguma criatura perfeita, algo como um anjo. Ele sempre foi pacífico e calmo, e vê-lo naquele estado causava-me algum desconforto. Parecia um anjo que acabara de cair de uma nuvem, com o sangue escorrendo-lhe pelo rosto. Claro é que eu nunca lhe diria isso. Ele poderia ficar assustado ao saber que a sua guia o comparava com algo que normalmente as raparigas apaixonadas comparam, por isso guardaria esse pensamento para mim.

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Tenderness | Jinwoo
Fanfictionadj. ten·der·er, ten·der·est // ternura; sensível 1. a. facilmente derrubado ou destruído; frágil: uma frágil pétala; jovem e vulnerável; 2. delicado; facilmente magoável; sensivel: pele sensível. 3. . Considerável e protetor; b...