Capitulo 2 - Ana - Desabafo...

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...Todos os dias antes de dormir
Lembro e esqueço como foi o dia
Sempre em frente
Não temos tempo a perder...


...Veja o sol dessa manhã tão cinza
A tempestade que chega é da cor dos teus olhos
Castanhos...

Tempo perdido – Legião Urbana

Nem acredito que a semana tinha acabado. Enfim estava indo visitar minha mãe. Foi uma semana difícil pra mim. Muitas provas, simulados, sem contar que tive que repassar o conteúdo com Bruna. Como eu tinha previsto não apareceu o final de semana todo.

Mas a semana me trouxe uma coisa muito boa. Emy estará duas semanas de férias do Bolshoi, antes da estreia. Combinamos de passar todos os dias com mamãe. Fizemos até cronograma. Queríamos fazer coisas que há anos não fazíamos. Rimos muito, lembrando desses momentos.

Eu amo minha irmã. Ela é meu porto seguro. Minha fortaleza para dias de tempestades. Somente ela sabe tudo sobre mim e eu sobre ela. Falar com ela e minha mãe sempre me ajuda a seguir em frente.

Depois de arrumar uma mochila, entrei no carro e fui ver minha mãe. Bruna não estava em casa. Tinha saído a noite e não retornou. Pelo menos eu sabia que ela estava bem. Sempre que passava a noite fora significava que seu astral estava bom.

Mas mesmo que ela não estivesse, esse final de semana não poderia ficar com ela. Tinha que ver minha mãe. Tinha que contar para ela tudo que vinha acontecendo comigo. Estava na hora de me abrir com ela.

Na verdade acho que eu precisava de um colo de mãe. Todo o estresse das provas, mais a minha frustração com garotos, estavam me deixando muito carente. Detestava me sentir assim, mas não conseguia evitar esse sentimento de impotência.

Minha mente girava em torno de tudo que vivi desde que sai do Brasil. A morte de papai. A primeira semana que mamãe ficou catatônica na cama. A forma como ela levantou da cama um dia e no outro nos disse que iríamos viajar.

No começo achávamos que iríamos fazer uma viagem de férias. Quando descobrimos que tínhamos vindo para ficar, foi muito difícil. Afinal, tínhamos deixado nossa casa, nossos amigos, nossa vó, dindo Ricardo. Dindo... Me lembrar dele trás uma saudade tão grande, que aperta o peito. Por mais que nos falemos sempre por skype, não é a mesma coisa. Eu queria muito abraça-lo e dizer que eu sinto a falta dele.

Me deixei levar pelos sentimentos e uma lágrima escorreu pelo meu rosto. Pra mim foi difícil me mudar para cá. Um lugar onde ninguém, conhece ninguém. Onde os visinhos meramente se cumprimentam. Só que eu me acostumei. Me adaptei...

Emy por outro lado, ficou muito infeliz, por muito tempo. Ela tinha deixado alguém no Brasil. Um amor... Mas conforme o tempo foi passando, nossos choros foram cessando. Claro que só chorávamos quando mamãe não estava, ou não podia nos ouvir. Não queríamos que ela soubesse que sentíamos falta da nossa casa. Sabíamos que ela resolveu se mudar pela falta que sentia do nosso pai.

Não queríamos que ela ficasse mais triste do já estava. Mamãe nunca mais teve o mesmo sorriso. Nunca mais foi a mesma pessoa. Continuou sendo a mãe dedicada e preocupada que sempre foi. Mas o brilho em seu olhar nunca mais foi o mesmo. Apesar que notei que sua voz estava mais feliz ao telefone quando ela me ligou do Brasil a duas semanas.

Mas na semana passada, já notei seu tom triste novamente. Teve ter sido difícil estar de volta e recordar tudo. Nem me imagino voltando e entrando no meu quarto. Quantas emoções vou sentir. Quantas recordações do meu pai, dos momentos felizes que todos passamos juntos.

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