Questão de tempo

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_ Essa é a mãe do Miguel? _Pedro pergunta arqueando as sobrancelhas.

_ Não é óbvio?_ Bufo irritada. Faço um sinal para que ele entre e assim faz. A casa que foi o palco de uma cena cruel e dolorosa está limpa e organizada como se nunca tivesse acontecido nada, mas sempre que eu olho pra sala, revivo aquele momento e é cada vez pior, é como ter um pesadelo acordada, isso me da nos nervos.

_ Ela te agrediu de alguma forma?_ Pedro pergunta se sentando no sofá, ele parece desconfortável assim como eu mas está tentando deixar o clima leve, eu acho pois ele está sorrindo casualmente.

_ Não. Eu estou bem, com ela consigo me virar._ Me sento ao seu lado no sofá.

_ Hmmm... Você sabe que irei passar muito tempo aqui, certo? Por causa do estágio com seu pai._ Ele está pisando em ovos, com medo de cada palavra que diz, acho isso fofo de certa forma.

_ Eu sei e não ligo._ Minto para não o deixar preocupado toda vez que vier aqui. Mas a verdade é que pensei em ficar na casa da Elisa para fugir dele, mas não quero que ele se sinta incomodado com a minha infantilidade então é melhor fingir que está tudo bem, eu estou fazendo isso a semanas mesmo.

_ Você vai ficar fingindo que eu não falei nada, não é mesmo?_ Uau! Não é que o garoto está começando a ficar esperto? Será que ele percebeu isso antes ou depois de eu fugir e sair correndo para dentro da minha casa?

_ Claro que vou._ Sorrio descaradamente e isso o faz sorrir._ Mas eu posso pedir para que fique aqui? Não quero ficar sozinha e você ainda é meu amigo, pelo menos eu acho que é, mas se eu não for pra você, eu vou entender._ Me embolo um pouco com as palavras mas no fim percebo que parece um discurso anunciando a friendzone, mas eu juro que não é, eu o amo mas não estou preparada psicologicamente para relacionamentos, mesmo que seja com minha paixãozinha de infância, essa não é a hora.

_ Não precisa ter medo, ele está preso. Antes de irmos embora, pedi ao Rodrigo que segurasse o Miguel e chamasse a policia, e faz alguns minutos que ele me mandou mensagem avisando que o Miguel está em boas mãos agora, e completamente longe de você._ Que ele estava preso eu já sabia graças a visita indesejável da Luzia, mas eu fico feliz em saber que o Pedro teve participação nisso, agora definitivamente ele e o Rodrigo são super heróis pra mim, nenhum chega aos pés do meu pai, mas estão no caminho.

_Obrigada._Dou um sorriso forçado._ Entendo que não queira ficar aqui depois de tudo. _ Digo cabisbaixa, é constrangedor não se sentir segura na própria casa e precisar de alguém. Já que o Pedro não vai me fazer companhia, preciso urgentemente me arrumar para ficar na casa da Elisa pois eu não consigo me imaginar sozinha nessa casa, e pior, nessa sala.

_ Eu não disse que não ficaria, só falei que não precisava ter medo._ Ele tenta me abraçar mas me esquivo, de novo. É por momentos assim que eu sei que não posso ficar com ele agora, seria exigir muita paciência da parte dele e eu acho que ele não tem muita, por mais que eu o ame, não posso o prender sabendo que não vou ser suficiente como a Carolina pode ser por exemplo.

_ Relaxa Cat, eu não vou fazer mais nada que te assuste, vou respeitar seu espaço._ Ele se levanta e vai em direção a cozinha.
Droga Pedro, entenda meu lado. Poxa, é tudo recente e complicado. Eu quero gritar com ele e chamo-lo de idiota só por ter me virado as coisas mas se eu fizer isso ele vai retrucar e eu vou me encolher de medo, isso vai fazer com que ele sinta culpa, ou seja tudo irá virar um ciclo vicioso e sufocante. É realmente mais fácil e certo, deixar que ele fique com a Carol mas essa ideia me da vontade de vomitar e talvez eu sinta ciúmes.

_ Droga, Pedro._ Berro da sala e sei muito  bem que ele ouviu perfeitamente mesmo estando na cozinha. Por que quando eu sei que não devo fazer alguma coisa, faço assim mesmo? 

DestinadaOnde histórias criam vida. Descubra agora