O espaço entre nós

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Depois do pior dia da minha vida, recebi todos os cuidados possíveis e impossíveis visto que demorou horas, mas os médicos foram gentis ao tratar das minhas feridas físicas. Depois de ser liberada do hospital, o Pedro me levou até a delegacia para encontrar com os meus pais e lá eu passei por um questionário imenso que na minha opinião não foi necessário pois é visível que eu fui agredida mas depois disso, os policias confirmaram a denúncia e se comprometeram a pegar o Miguel para que ele pague pelo o que fez. 

De domingo para segunda, dormi com os meus pais e durante a noite tive pesadelos terríveis que foi preciso intervenção dos dois para que eu me acalmasse. É claro que eu chorei muito, e é mais óbvio ainda que os meus pais sofreram com isso, minha mãe chorou junto comigo e meu pai por mais que tentasse ser forte por nós, não aguentou. Depois de tanto choro e da noite mal dormida, tive minha segunda-feira de descanso, faltei de aula e meus pais não foram trabalhar pois queriam garantir minha segurança já que ainda não recebemos nenhuma notificação sobre o Miguel, e foi nessa segunda-feira que eu percebi que ficar em casa aflita não vai me ajudar em nada, só me causar mais pânico.

Então hoje é mais um dia, e preciso viver esse dia normalmente, é assim a vida. Terça-feira, 6h10m da manhã, um dia comum para a maioria das pessoas mas hoje é o dia que vou enfrentar meu medo de sair da cama.  

_ Filha?_ Minha mãe entra no quarto e senta na beira da minha cama. 

_ Bom dia, mãe. _ Sorrio e me aproximo dela. 

_ Se não quiser ir a aula hoje, não tem problema. Pode ficar aqui ou ir trabalhar comigo, se preferir._ Ela está tão receosa quanto eu. 

_ Não, mãe. Eu estou bem e não posso perder aulas, é o meu último ano e tenho um bom histórico. 

_ Então vá se arrumar, se quiser te ajudo a esconder essas marcas._Assinto.

Me levanto e vou para o meu banheiro tomar um banho. Passo pelo espelho como um vulto, não quero encarar meu reflexo agora. Ligo o chuveiro e deixo a água cair sobre o meu corpo, com muito cuidado lavo o meu rosto, as feridas estão abertas e quando cai água ou sabão arde, mas consigo lavar tranquilamente, estou aprendendo a lidar com a dor ultimamente.
Saio do chuveiro e enrolada na toalha vou até o espelho do banheiro, mesmo que eu não queira ver o estrago é necessário pois preciso colocar um curativo sobre o corte na minha testa. As feridas não doem tanto como ontem mas me faz querer chorar, acho que é dor emocional do caso pois ver essas marcas me lembra o motivo para elas estarem enfeitando meu rosto. Tenho um corte entre a boca e o nariz que está começando a cicatrizar, um dos meus olhos está roxo devido os socos, e há pequenas vermelhidões perto do pescoço. 

Guardo o choro e começo a limpar o corte da minha testa e coloco o curativo branco, já o corte da boca eu preciso colocar soro pois segundo a minha mãe é bom, não vejo finalidade nisso mas faço.

_ Querida quer que eu entre?_ Minha mãe pergunta ao bater na porta. sem dizer nada, abro a porta e a encaro, minha mãe me abraça apertado e isso é confortante.

_ Eu sinto muito, me desculpe...Eu devia estar acordada, você precisava de mim e eu não estava lá pra você. _ Ouvir minha mãe se lamentar por isso é horrível, eu sei que como mãe ela queria está lá para ajudar mas eu sei que ela não poderia ter feito nada naquela ocasião e eu fico muito feliz por ela dormir naquele momento, a última coisa que eu queria ver era o Miguel batendo na minha mãe, já foi horrível ver ele machucar Melissa.  Depois do ocorrido, Melissa me mandou várias mensagens só sei disso pois meu pai me devolveu o celular para que eu a respondesse mas acabei falando que estava de castigo e que não ia usar até o prazo acabar, mas a verdade é que eu não quero ter que encarar a Melissa depois dela ter se machucado por minha culpa.

DestinadaOnde histórias criam vida. Descubra agora