_ Me desculpe por aquilo._ Pedro murmurou sem ao menos olhar pra mim._ Estava com medo que ele tentasse algo, eu não podia permitir que ele a machucasse de novo.
_ Podia apenas ter me protegido sem agressão, era só entrar no carro comigo assim como fez agora, mas preferiu bater nele e se igualar a pessoa ruim que ele é, você sabe que poderia levar uma advertência por isso? O Miguel já está quase sendo presso, se os policiais cooperarem é claro, mas e você quer ser expulso da escola por brigar na portaria? Ou ser preso por quase matar o Miguel? Oh céus, você é louco Pedro, louco. _ Berrei mais palavras por segundo do que achei que fosse capaz.
_ Catarina, calma! _ Pedro toca na minha coxa com sua mão ensaguentada e eu recuo na mesma hora, eu ainda não estou pronta pra isso, felizmente ele tirou a mão assim que percebeu a minha rejeição. _ Desculpe por assusta-la.
_ Mas, eu agradeço por estar cuidando de mim._ Suspiro. _Você está bem?_ Aponto para suas mãos sujas de sangue presas ao volante.
_ Sim. _ É a única coisa que ele tem para dizer? É isso? Nenhum complemento? Nós, seres humanos, somos os únicos animais com a capacidade falar e quando mais precisamos conversar, simplesmente fechamos a boca e não dizemos nada? Acho que deveríamos ter a habilidade de ler mentes, tudo seria bem mais fácil, pouparia uma série de acontecimentos ruins. Me sinto desconfortável com esse silêncio constrangedor, mas o que posso fazer? Falar sobre como o céu está lindo renderia apenas um único minuto de conversa, e eu não sou mestre de fazer assuntos se estenderem.
Passamos o caminho todo em silêncio, ele até ligou o rádio para tirar o peso do clima ruim mas não adiantou muito, eu cantarolei baixinho as músicas que tocavam para me distrair durante o caminho mas o Pedro continuava lá, na pose séria e com aquela carranca no rosto. Por que ele parece bravo? Eu não fiz nada.
Chegamos em casa finalmente, poucas quadras pareceram eternidade dentro desse carro. Pedro estaciona o carro e abro a porta para sair mas sinto um puxão no meu braço e caio sentada novamente no banco e isso me causa um pânico que não sei explicar. Eu não consigo mais sentir o toque de um homem de uma maneira boa, é uma coisa esquisita pois consigo conversar com o Pedro, Rodrigo e meu pai mas se acontece uma aproximação física meu coração dispara e não de uma maneira positiva, eu começo a ter uma crise, sinto como se toda aquela cena com o Miguel fosse acontecer de novo, o que é horrível pois eu sei que esses três homens que rondam a minha vida não me machucariam, muito pelo contrário, me defenderiam sempre. Argh, esse medo é horrível... Me impede de abraçar o meu próprio pai.
_ Desculpe, eu me esqueci._Pedro murmura._ É difícil me acostumar com esse seu medo, eu não quero te assustar._ O observo e percebo que ele está pensativo e aparentemente está com raiva de si mesmo, o que me incomoda pois não quero que ele sinta culpa pelas minhas crises, sendo que o dono do trauma é o Miguel.
_ Você vai ficar sozinha Cat?_ Pedro pergunta enquanto bate sucessivamente o polegar no centro do volante.
Não tinha pensado nisso ainda, vai ser um inferno ficar naquela casa com todas essas lembranças recentes rondando minha cabeça, certamente meu pai está ocupado e minha mãe é óbvio, ela está sempre ocupada mesma, então nenhum voltará antes do anoitecer._ Talvez eu chame a Elisa para ficar comigo hoje, ou encare tudo mesmo. Não precisa ficar se sentindo culpado Pedro, nem fingir que é meu amigo só porque... você sabe._ Não tenho coragem de dizer em voz alta algo como "só porque apanhei do meu ex namorado" ou " só porque o Miguel me bateu", são palavras que carregam muito peso e dor, é difícil pronunciar.
Acontece que com o Pedro é sempre a mesma história, babaquice atrás de babaquice e isso não precisa mudar só por causa daquele ocorrido. O Pedro está agindo como se nenhum insulto tivesse saído de sua boca, agora é só carinhos e vejo isso como uma imensa falsidade, pois quando eu me recuperar ele vai voltar com aquelas idiotices de sempre.
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Destinada
Romance"Carta de número que não me lembro. Querida eu mesma, Tudo mudou novamente, mas já estou acostumada e nem me sinto tão perdida como antes. Aprendi que o amor muda as pessoas e a dor muda a concepção do amor... Com amor, Catarina Sanches." PLÁGIO É C...