Destinada

Amor à segunda vista

Não é só no meu âmbito social, não é só na minha cidade, não é só no meu país, é no mundo. É no mundo inteiro que falta amor, respeito, empatia, entre outras coisas boas e necessárias. Eu, Catarina Sanches, tive uma boa educação, tive o privilégio de ser filha de boas pessoas com corações enormes e entendo que isso não acontece com todos, da mesma forma que existe pessoas boas, existe pessoas ruins, eu só não entendo o motivo das pessoas ruins gostarem de ser ruins. Ser boazinha e ingênua demais pode causar sofrimento, mas eu não quero mudar, porque eu sendo boa e sofrendo não significa que sou estúpida e não sei me adequar ao mundo, significa que o mundo é ruim e precisa melhorar, precisa de uma mudança urgente. As pessoas batem na tecla do respeito a todo momento, mas nem sabe o que é isso. Falta empatia, eu sei disso pois quando Miguel apareceu transtornado na escola querendo falar comigo ou quando eu cheguei com o rosto machucado, as pessoas ficavam cochichando entre si, não me perguntavam se eu estava bem e se precisava de ajuda, algumas pessoas até perguntaram por curiosidade, eu conseguia ouvir teorias sobre o motivo por eu ter apanhando do meu ex namorado. É sério isso? As pessoas precisam ouvir os motivos parar ditarem se eu havia merecido ou não? Lógico que muita gente da minha turma inclusive, comentou sobre eu ter traído o Miguel com o Pedro, e então falaram que era de se esperar uma atitude raivosa do Miguel. Ok, tudo bem, eu realmente beijei o Pedro enquanto namorava e tenho noção que isso foi errado, mas era de se esperar o surto do meu ex? Miguel nunca foi meu dono embora agisse como um, suas crises não eram normais, e eu sei que não mereci tal coisa. 

Meus amigos estão preocupados comigo, sei que Elisa se importa muito comigo, apesar de tudo sei que o Pedro e a Carol não querem me ver machucada novamente e agradeço por suas mensagens de preocupação, mas não sinto como se fosse suficiente... Não existe algo que possa fazer que a vida volte ao seu curso porque tudo que eu acreditava se foi, e eu fiquei machucada com roxos na pele e na alma, e a justiça não está ao meu lado porque como podem liberar alguém tão violente assim? Quero entender o motivo, mas ao mesmo tempo só quero que tudo acabe. Eu não sei quando tudo isso vai passar, não sei se isso vai me deixar mais forte ou se vai me traumatizar pra sempre, se ao mesmo toda essa dor cessasse por algumas horas ou alguns dias se for possível... As vezes antes de dormir penso nas mulheres que passaram pelo o que passei e até mesmo coisas piores, meu corpo foi agredido e mesmo com todas as dores não foi alisado ou molestado, porque tive a sorte de ter um pai que se importa e conseguiu chegar a tempo, imagino as dores de quem não tem essa sorte. Dói e dói muito, eu não consigo suportar sozinha como eu havia pensado, o problema é que eu preciso aceitar isso internamente e ninguém pode fazer isso por mim.

Desço a escadaria do hotel correndo desesperada procurando por Melissa, mas não sei se são as lágrimas atrapalhando minha visão ou se ela não está mesmo no hall de entrada. Meu corpo treme, e sinto um frio imenso e o suor descendo pelo meu corpo junto com as lágrimas que me impedem de enxergar qualquer coisa com mais de um palmo de distância.

_ Criança, não é apropriado ficar nesses trajes no meio do saguão._ Um dos seguranças fala comigo e não consigo responde-lo pois assim que abro a boca sinto uma forte queimação e mais lágrimas descem pelo meu rosto.

_ Vamos autorizar essa sim, olha só como é gostosa e chorando fica tão bonitinha. Deixa o tio segurar sua mão, princesa? _ O outro segurança brinca me causando repulsa e uma vontade enorme de socar sua cara, mas novamente não tenho forças e nem voz para responde-lo da maneira que merece.

_ Vamos lá... Seja homem e repita a nojeira que você falou com a garota, aproveita meu bom humor que só vou te fazer perder esse emprego e fazer sua cara ficar do avesso, babaca. _ Uma voz grave e rouca acompanhada por uma risada amarga, diz por trás de mim. O segurança nojento da um risinho cínico e desvia seu olhar, com certeza por medo do homem que felizmente me defendeu. Viro-me para ver quem me ajudou a sair da situação vergonhosa... Caramba, minha outra situação vergonhosa de mais cedo.