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Liv


Não sei explicar a sensação que estou sentindo. Pisar em solo americano, minha terra natal, e saber que agora voltará a ser minha casa é uma felicidade imensa, mas saber que finalmente vou ter a vida que sempre quis é inexplicável. E essa vida eu poderia viver em qualquer lugar do mundo, bastasse meu irmão estar comigo. E agora este sonho é palpável, porque estou abraçando Dan neste momento, e se depender de mim, não o largo nunca mais.

  — Dan, filho, é melhor soltar sua irmã! Os avós dela já estão fazendo cara feia!— Meu pai falou baixinho só para nós dois escutarmos e rimos junto com ele.

  — Tudo bem! Teremos muito tempo daqui para frente. Só queria vê-la antes de ir para casa de seus parentes. — Daniel me diz soltando-me do abraço.

— Só estou indo porque prometi para minha mãe, e embora sinta muitas saudades deles também, confesso que trocaria para estar com vocês. — Digo baixinho olhando para meu pai e meu irmão. Dou um beijo em cada um e me dirijo a outra família. 

Eles acenam e saem do aeroporto, e eu os sigo com o olhar até onde posso alcançar.

— Olívia, você está linda minha neta! — Meu avô resmunga com sua voz calejada pela idade.

— Concordo, deve ter deixado alguns corações tristes em Paris! — Minha tia Ursula comenta.

— Não mesmo, Paris é muito requintada para mim, não atraí nem fui atraída por nada e ninguém durante estes anos, a não ser pela dança. — Respondo forçando um sorriso.

— Isso é lamentável, afinal estamos falando de Paris, a cidade do amor...— Minha vó fala me abraçando mais uma vez e eu retribuo distribuindo beijinhos em sua face.

— Como você é diferente de Selena, não fosse seu cabelo ruivo, jamais pensaria que fosse filha dela. — Quem fala é Tio Yuri, que leva uma cotovelada de sua esposa pelo comentário que deveria ser inoportuno, porém, eu concordo com ele.

Minha mãe sempre foi fechada, sei sim que me ama e se preocupa comigo, mas não demonstrava muito com atitudes, raramente me dava um colo. Não era carinhosa.

— Vamos para casa? Ainda estamos no meio do aeroporto. — Digo agarrada com um dos meus primos, filho da minha tia Ursula.

Na casa dos meus avós eu fui direto para o antigo quarto de minha mãe. Segundo minha avó Társila, ela o tinha preservado exatamente como minha mãe o deixou antes de irmos para França e também estava do mesmo jeito que eu havia deixado da última vez que estive aqui, sempre ficava no mesmo quarto, no quarto da minha mãe, o pouco que ficava ali, pois obviamente vinha para ficar com meu pai. De fato, os móveis eram bem antigos, e o guarda-roupas ainda era cheio de roupas dela, a escrivaninha tinha livros e cadernos velhos e a cama de solteiro uma colcha roxa bordada com corações brancos. Não tinha banheiro no quarto, mas eu precisava de um banho, então abri uma das minhas malas que meu tio Yuri ajudou a carregar e escolhi uma roupa confortável, me dirigi ao banheiro no final do corredor.

Ao sair do banho, minha avó me chamou para tomar um café junto com toda a família, e ah, como senti falta de seu café, de seus bolos e pães, e ela tinha feito meu bolo favorito... de frutas secas!

— Obrigada vovó, nem acredito que lembrou da minha preferência! Faz um tempo que não provava esta delícia. — A última vez que estive aqui à um ano atrás, minha avó estava doente, e isto a impossibilitou de fazer o que gostava, que era cozinhar.

— Imagina querida, gostaria de fazer mais, mas ainda faço encomendas  de natal e não me sobrou tanto tempo para fazer as coisas que você mais gosta. — O natal era dali a dois dias, ela deveria com certeza estar bem atarefada, dado o fato de ela ser uma das melhores doceira e salgadeira da região.

 — Posso ajudar vovó, se quiser! — Vez ou outra ajudava no restaurante do meu padastro, quando não estava ocupada com estudos ou com a dança. 

— Claro que sim querida, mas antes você precisa descansar! Tome seu café e durma um pouco, ok? —  Concordo com a cabeça, apesar de acreditar que não conseguiria dormir, os meus primos pequenos estavam fazendo bagunça desde que chegamos, e minha cabeça estava a algumas quadras daqui... estava em Dan!

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Como desconfiei não consegui pregar os olhos, eu não queria estar ali, não queria estar com a família da minha mãe, e estava me sentindo duplamente péssima, ficar 1 semana ali seria tão ou quanto pior que ficar 12 anos na França. Exagero, mas não mentira! 

Me levantei da cama decidida a me ocupar com algo, mas o quê? Olhei ao redor e logo surgiu uma idéia, dar uma nova cara para aquele quarto antiquado e sem graça, ele precisaria de uma boa faxina, e uma pintura. Antes de sair do quarto para pegar produtos de limpeza e sacos de lixo optei por fazer uma triagem: o que seria conservado, o que seria jogado fora e o que poderia ser vendido. Como imaginei a maioria era lixo. Mas para ter garantia disso, olhava duas vezes antes de ter certeza, e numa dessas encontrei algo realmente interessante que me fez sentar na cama para examinar com mais calma... era um diário... nada muito chamativo, na realidade era um caderno simples de capa dura e preta, mas fazendo uma leitura dinâmica e me atentando nas datas percebi que se tratava de quase uma autobiografia da minha mãe da época de seu colegial.

Três batidas na porta me fizeram pular na cama e me fazer agir subitamente como alguém em apuros. — Já vai, só um momento. — Digo enfiando o caderno entre minhas roupas dentro da mala.

Abro a porta e vejo minha tia Úrsula que não olha pra mim e sim boquiaberta para a bagunça que o quarto se encontrava. Sigo seu olhar e dou uma risadinha... — Precisava me entreter com algo, e acredito que nem mamãe, nem vovó se importarão de fazer uma mudancinha neste quarto. — Continuo sem graça.

— Finalmente alguém teve coragem. — Minha tia diz entrando no quarto e sentando na cama. Ela era mais nova que minha irmã, apesar de já ter 3 filhos. Dois meninos e uma menina. Todos menores de 5 anos.

Sento ao lado dela e sinto que ela deseja me falar algo. 

—Tudo bem tia, estão precisando de ajuda na cozinha?  — Pergunto pois minha tia era auxiliar de minha vó, elas trabalhavam juntas desde que minha tia teve idade para isso. 

— Não, na verdade quero conversar um pouco Olie (meu apelido por aqui... detesto). — Olho para ela e sinto que esta conversa será mais uma investigação do que qualquer outra coisa. 

Suspiro. Levanto e encosto a porta.



E aí? Gostaram da Liv narrando também? 

Enigmático este diário né? Porém só devem ter coisas banais, Selena não deixaria assim de bandeja se não fossem meras palavras... concordam?

E a tia Ursula??? O que será que ela quer falar com a Liv? 

A família Carsten é misteriosa né... adoroooo...

Votem, comentem, critiquem(construtivamente), só não me xinguem por demorar tanto... pq acredito que logo começarei a postar 2x por semana, uma Dan narrando e outra Liv...

beijinhos da gra... 

até a próxima...



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