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Dan

Chequei pela vigésima vez o relógio de pulso -presente do meu avô de quem herdei pontualidade extrema. Busquei na lembrança o que tinha combinado com Ruan... "Restaurante Fontanelle, ás 20:00hs". Já estavam atrasados 12min... Bufei. Estava nervoso, ansioso e pirando... Será que ela descobriu e recusou me encontrar? Por que não posso ser normal? Um irmão normal, não agiria como se estivesse prestes a ter um encontro romântico. Bufo de novo, e nesta hora a vejo ao lado de Ruan entrando no ambiente aconchegante e convidativo que era o restaurante que escolhi e agradeci à mim mesmo mentalmente por isso.

Estava mais linda do que nunca, não que isso importasse no momento, mas o que posso fazer se tenho sorte em tê-la como irmã? Ruan fala com o recepcionista que os orienta até onde estou, ela ainda não me viu, eu esfrego minhas mãos suadas em minha calça e bato os pés no chão, tentando controlar toda a tensão que está instalada em meu corpo o dia inteiro, com certeza o dia mais longo da minha vida. Por um segundo penso que não vou aguentar aquele martírio todo que eu mesmo criei, mas quando ela encontra meus olhos, percebo que estou no lugar e na hora certa.

Ruan agradece o condutor, quando o silêncio se instala... Depois limpa a garganta num barulho típico e Liv olha para ele  como lembrando que ele estava ali...

—  O que está acontecendo? — Escuto ela perguntar baixinho para ele.

— Dan quer conversar com você e me pediu para marcar esse jantar... —Liv o fitava sem reação enquanto Ruan falava. — É melhor sentar... — ele sugere por estarem parados no meio do corredor, acredito eu.

Liv faz uma mesura com a cabeça e toma assento na única cadeira à minha frente. Mas sem me dirigir o olhar novamente, olhar este que implora por uma resposta plausível de Ruan.

— Obrigado Ruan. Fique tranqüilo, ela ficará bem. — Tomo a palavra olhando para ela. Ele repousa um beijo em sua cabeça, lança um olhar em minha direção que traduzia várias coisas e sai do restaurante.

Nos olhamos por um demorado tempo, não saber o que ela está pensando me deixa mais frustrado do que lembrar que a última vez que estive frente a frente com ela, a magoei profundamente. Pode ser que ela esteja pensando a mesma coisa, já que está com os olhos marejados e uma expressão contida no rosto. 

O garçom se aproxima com os menus e automaticamente fazemos os pedidos, mesmo que a fome nem tenha dado ás caras o dia todo, resolvo pedir uma massa qualquer, e um bom vinho tinto, outro gosto que herdei de Alfred! Liv pede uma salada, deixando o prato principal de lado e sei que ela não vai comer nada, como nunca come ou dorme quando está nervosa ou ansiosa demais... não consigo segurar um sorriso... á conheço tão bem, e mesmo assim ajo como um idiota. 

— Você poderia explicar por que estamos aqui? — Ela quebra o silêncio fazendo uma pergunta num tom de curiosidade singular.

O garçom nos serve com vinho e mais uma vez se retira.

— Não preciso dizer o quanto tenho agido de forma inoportuna, e não sei se vai parecer egoísta, mas parece doer mais em mim do que em você. — Ela balança a cabeça desaprovando.

— Você quer mensurar a dor? Isso é impossível Dan... — Diz amargurada em seguida toma um bom gole do vinho. Franzo o cenho levemente. Será que foi uma boa idéia pedir uma bebida com alto teor de álcool?

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