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Dan


Estar ali já era difícil o suficiente, mas ouvir verdades da boca de Peter era ainda pior. Ele não entende como me sinto, nem quero fazê-lo entender, não vou tentar medir quem está sofrendo mais com tudo isso. A idéia de Liv tratar Peter como irmão é inconcebível... eu não consigo imaginar isto de uma forma agradável, admito que é puro egoísmo, e uma atitude um tanto infantil, eu sei. 

Peter resumiu a história de sua vida e nem mesmo isso me fez amolecer.

— Sei que Liv não tem culpa de nada, mas ainda não estou preparado para ter uma conversa com ela, eu já a magoei muito da última vez, e quero estar mais tranquilo ao lidar com ela desta vez. — expliquei de forma calma, esperando que ele fosse entender e terminasse aquele papo de irmão preocupado.

— Olha, eu sei que isto é difícil pra você... mas Liv não vai aguentar esta situação se você continuar sendo indiferente com ela. — Peter insiste.

— Ela parece estar indo bem — digo convencido— Ruan, Rick, Johana e você são suficientes para manterem ela sã... —digo friamente. Peter solta um suspiro ao ver que não teria êxito em seu pedido. 

— Tudo bem Dan, espero de verdade que quando você ver o quanto está sendo incoerente, intransigente e intolerante, não seja tarde demais... — reprimi um acesso de raiva que se formava.

— Me diz uma coisa, Peter...— pergunto com uma ponta de soberba. — por que só agora? Seu pai faleceu á 5 anos atrás... por que não foi para França, por que não escreveu uma carta, mandou um e-mail qualquer coisa? — cuspi as perguntas como se fosse deixá-lo sem palavras.

— Porque ela não estava preparada pra ouvir e saber a verdade, não tinha estrutura para aguentar tamanha informação. Estar ao lado dela era tudo o que mais queria, ainda mais depois da morte do nosso pai... mas eu sei que ela não suportaria saber toda a verdade, estando longe de você... o sonho dela era estar ao seu lado, e eu estaria sendo egoísta se tirasse isso dela... — minha garganta fecha com as palavras de Peter. Eu sei que estou sendo um filha da mãe insensível, mas não consigo agir de outra forma. Ele percebendo minha resistência, franze o cenho e retoma a palavra.  

 — Daniel, eu não planejei nada disso, a forma como ela soube, como vocês descobriram, foi impensado. Mas... aconteceu... a bomba explodiu e você não foi o único atingido... você não parece querer amolecer e deixar o orgulho de lado. Então eu lamento... lamento muito, porque a partir deste momento eu sei que você vai fazer a Liv sofrer mais do que ela já está sofrendo, e eu não vou deixar... — cerro os olhos, o que ele pretende fazer? — vou protegê-la, vou amá-la, vou estar ao lado dela... nem que eu tenha que afastar ela de você! —  olho para baixo, as palavras ousadas de Peter me intimidaram, porém permaneci quieto. 

— Eu vou embora... deixo o meu apelo e meu recado... depende de você qual dos dois escolher! — Ele diz, levanta deixando o dinheiro do que consumiu em cima da mesa e sai do local. 

Espalmo as mãos no rosto, esfregando compulsivamente e depois as levo em sinal de oração fazendo uma prece silenciosa, eu não posso perder Liv... mas não quero dividí-la... sou um egocêntrico filha da mãe... saio do café em direção ao carro... não vou e não posso voltar para casa agora, decido ir para casa da Summer que tem se tornado o caminho da roça ultimamente.

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