Herdeiros

*49*

Dan

Os olhos da minha mãe imploram para que eu vá atrás do meu pai. E é isso o que faço sem exitar. O sigo silenciosamente, agradecendo mentalmente por ninguém aparecer no caminho, meu pai está transtornado e chora muito, eu temo que as coisas fiquem piores. Ele entra no quarto de Liv devagar mas sem exitar, ainda é muito cedo e é provável estar dormindo. Antes que eu também alcance a maçaneta, me lembro que Pauline também poderia estar ali, e por um instante penso se devo ou não entrar... ouço a conversa abafada que vem de dentro o que me devolve a coragem então entro discretamente. 

Meu pai está de costas pra mim, Liv está á sua frente o que me impede de vê-la de imediato. Pauline não está no quarto. Permaneço em silêncio, mesmo tendo certeza que eles sabem que estou aqui.

— Então é ... é tudo verdade? — A voz do meu pai está irreconhecível. Ele se contrai ao chorar o que me permite ver Liv, descrente da cena.

Ela pisca várias vezes, tentando assimilar o que ouve, o que vê ou simplesmente querendo adiar as lágrimas. A cena é digna delas, acredite! Ela me vê, seus olhos imploram por ajuda. Ela não estava esperando por isso, não estava preparada, mas convenhamos... quem estaria preparado para isso? Ninguém planeja : "Ah! Hoje vou contar pro meu pai - finalmente - que eu não sou sua filha legítima". 

Me aproximo deles , parando entre eles, formando o que parecia um triângulo, estava no meio de duas pessoas que amava muito, olhando para um e para outro, de tocaia, como se em algum momento eu tivesse que amparar um deles antes de cair ao chão. Eu nem conseguia pensar ou imaginar o que seria dito a seguir. 

— Depende pai... — Liv disse firme... depois de uns segundos apenas escutando o choro do meu pai, que agora a encara perplexo com uma expressão interrogativa — Depende do que é verdade para o senhor, estes 19 anos sendo sua filha não significam nada? — Suas lágrimas silenciosas já se faziam presentes. 

— Sua mãe mentiu pra mim... — a voz amargurada do meu pai me deu ânsia, e não conseguia - por mais que tivesse fé - imaginar aquilo terminando de forma boa.

— Ela mentiu sim... mentiu pra você, pra mim e para ela mesma. — Ela se aproxima dele e continua falando — Mas eu não posso ficar triste por isto... — toca no ombro do meu pai — eu não consigo imaginar não ser sua filha... pai... ou... — olha pra mim — não ser irmã do Dan... — comecei a me piscar todo, que merda, eu sou o empresário teen mais chorão de todos os tempos. — De início quis morrer ou matar, mas depois, eu fui inundada de amor por ela... minha mãe tirou algo de mim, e não de vocês. 

— Ela te afastou de nós por anos Liv... — meu pai diz ressentido. 

— Ela me afastou por anos do meu... — procura a palavra certa, mas acaba pronunciando a única que poderia — do meu outro pai  e do meu outro irmão — diz com cuidado. — E eu estou disposta a perdoar... então eu sei que você pode fazer o mesmo... pai... — sua voz agora ganha uma intonação de súplica — não deixe isto tudo ser pior do que já é..., eu não irei suportar você e a mamãe brigando, isso acabaria comigo. 

— Eu não vou brigar com ela, mas não sei se conseguirei perdoá-la tão facilmente. Sei que éramos duas crianças na época, sei que ela passou por muita coisa ruim e que foi levada a mentir sobre isso por seus avós maternos, também sei que se ela tivesse me contado a verdade, não estaríamos tendo esta conversa hoje, mas...  então não teria o privilégio de ser seu pai. — Liv sorri claramente aliviada e abraça meu pai com ansiedade.