Ônibus.

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Sempre fui de criar sentimento rápido pelas pessoas ao meu redor. E isso vai desde o gari até as pessoas que amo. Um dia desses, dei meu lugar para uma velhinha em um ônibus qualquer. Nada mais justo. E ela, em vez de só agradecer, se ofereceu para segurar minha mochila e para me ajudar a me apoiar. Tentou, de alguma forma, retribuir a gentileza que fiz para ela. Isso me encantou, e logo peguei afinidade por aquela senhora. Até ela descer um ponto depois e eu nunca mais vê-la. Porém, meu melhor amigo que acompanhou toda a cena, continuou ali comigo, seguindo a viagem. Onde estou querendo chegar? Quero usar um exemplo simples para mostrar que a vida é um grande ônibus. Pessoas entram, pessoas saem. E durante esse período, podemos nos apaixonar, criar laços, fazer amizades, e até mesmo fazer inimigos. Porém, só quem vale a pena continua até o ponto final da viagem. As pessoas que não nos acrescentam descem sempre antes. Têm também aquelas que ficam conosco durante a parte do caminho em que a estrada é agradável, mas logo quando entramos em uma rua esburacada, tratam de descer. Após toda essa conclusão, sinto-me cansado. Não quero mais viver em um ônibus. Não quero mais idas e vindas na minha vida. Quero estacionar e aposentar meu pobre veículo, quero seguir estrada a pé apenas com os que ficaram desde o início e que nunca irão me abandonar. Estou farto de despedidas, decepções e lamentos. Quero encontrar minha paz interior e viver de bem comigo mesmo. Será tão difícil assim? Minha mente não aguenta mais. Meu coração não aguenta mais. E, por falar nele, esse órgão pulsante que insiste em me avacalhar, está fechado para visitação, como o tal ônibus. Chega-se então em um ponto onde tudo que devemos fazer é uma pausa. Onde posso ir para pausar meus sentimentos? Preciso achar a oficina mais próxima para deixar meu ônibus, e, quem sabe, com ele, todos os meus lamentos.  

Overdose sentimental.Where stories live. Discover now