Menina de Luxo [COMPLETO]

Sétimo

Entro no meu quarto batendo pernas.
Quitéria limpa a minha escrivaninha.
-O que houve, florzinha?
-Mamãe ,não me deixa cavalgar.-falo me jogando em minha cama.
-Mas a senhorita é uma princesa, e nova, não pode ficar andando por aí sozinha.
-Não isso Quitéria, o Derek se ofereceu para ir comigo.
-A sua mãe tem razão. A senhorita é uma dama.
-Mas eu não quero ser, Quitéria. Eu não quero me casar com esta pessoa que eu não conheço, me entende?
-Claro que sim. Eu já estive em seu lugar.
-O que? -pergunto sem entender ao que ela se refere.
-Eu era de um pequeno reino, Bella, me recusei a casar e eles mataram toda a minha família. Eu consegui fugir e arrumei uma nova família.

Eu não acredito no que acabei de ouvir!

-Eu sinto muito.
-Não sinta, apenas reveja os seus conceitos sobre este casamento ou estará perdida.

Fiquei chocada com que a Quitéria havia me revelado.

-Então você era uma menina de luxo?
-Não era bem assim. Eles ainda não chamavam as meninas assim. Antigamente os reinos eram bem pequenos. Eles começaram a expandir as terras e viraram grandes reinos.
Eles brigavam muito entre si e para não haver mais a desunião eles começaram a criar laços conjugais.

Quitéria já estava velha, isso deveria ter sido antes dos meus pais. Desde quando eu me entendo por gente que a vejo aqui limpando tudo e nos ajudando nas coisas mais íntimas.

Papai entra sem bater, interrompendo a interessante conversa que eu estava tendo com a Quitéria. A conversa estava melhor do que o meu próprio aniversário.

-Cadê a minha aniversariante?
-É como se não fosse ,papai.
-Como assim?
-A mamãe não dá trégua.
-Ela só quer o seu bem.
-E alguém já me perguntou o que me faz bem?

Papai me olha sem saber o que falar.
-Todos os anos vamos para o jardim ,e hoje você não foi. O Papai tem que pagar pelas coisas que a mamãe faz é?
-Todos os anos pai, esse ano eu não posso fazer algo novo? Algo que eu gosto?
-Você é uma princesa,Bella.
-E eu sei disso. Logo irei me casar e eu não vou poder fazer mais nada. Eu não vou poder ter uma imagem compreensível e menos egoísta da mamãe.

Papai respira fundo.

-Vamos falar com ela.
Abro bem os olhos não acreditando.
-Sério?
-Vamos ,antes que eu me arrependa.

Fomos em direção ao jardim.
Mamãe estava tomando o seu chá ,como sempre.
Dizendo ela que é o chá da beleza.
Vou andando ao lado do papai e ela nos avista.
Ela me olha esperando que eu vá falar algo. Pedir desculpas, certamente.
-A Bella vai cavalgar. -Papai fala depois de tanto suspense.
Derek abre bem os olhos e Joana faz cara de espanto.
-O QUE?-mamãe grita. Já estou suando.
-É o pedido de aniversário dela. Veja bem, ela sempre foi um exemplo, então agora daremos este presente.

Mamãe agora cospe fogo. Papai vai beija la e ela faz cara de esnobe. Sei que daqui a pouco ela cederá.
Papai chega perto de mim.
-Vá. Nos campos do palácio.
-Tá.
O beijo na bochecha.
-Nos campos do palácio. -ele repete.
-Eu sei,papai.
-Feliz aniversário.
Abro um grande sorriso e saio correndo segurando o meu vestido. Não quero cair a essa altura.
Vou me trocar bem rápido.
Desco para o estábulo e lá está ele.
Ele ou ela?
-Ela ou ele,Otávio?-pergunto para um dos empregados que fica no estábulo.
-Ele.
-Bom, será Scot..? -olho para o Otávio e ele não faz uma cara legal.
Olho diretamente para o cavalo.
Amuleto. Sim, claro. Meu Amuleto.
-Amuleto! -Otávio faz uma cara de aprovação e eu dou risada. Acho que ele também não gostou ,mas aprovou pelo fato deu ter certeza do que estava fazendo.
Otávio veio para me ajudar.
-Ah, não. Muito obrigado, eu sei montar. - falo me achando.

Moto no Amuleto e saio feito uma flecha lançada.
Eu nunca me senti tão feliz em toda minha vida.
Isso é liberdade, e liberdade significa viver.
Isso é tão bom quanto comer a sua comida preferida.
-Isso é maravilhoso! -eu grito.
Papai me limitou. "Nos campos do castelo" o imito.
Ah, já sei, penso.
-Vamos em direção ao Vale das Flores ,Amuleto!
Dou meia volta. Aproveito cada minuto cavalgando. Sei que jamais irei fazer nada parecido.
O Vale das Flores não é tão longe do castelo e cavalgando feito um raio eu logo chego.
A sensação de respirar neste lugar é a melhor da mundo.
O campo é coberto de flores de todas os tipos e cores.
O sol fresco e dourado cobre as, deixando tudo ainda mais lindo.
O campo de flores é rodeado de árvores. Logo em seguida há uma cachoeira.
Amarro o Amuleto em um galho na sombra e sento ao lado dele admirando o lindo lugar que estou.
Me sinto satisfeita ,e com certeza esse é o melhor aniversário.
-Vejo que conseguiu o que tanto almejava.
Levo um susto. Já sei quem é. Faz tempo, mas eu ainda me lembro de sua voz e fora que ele sempre chega assim. Me viro.
-Você me assustou.
Antônio riu.
-Me desculpe.
-Ah, não. Tudo bem.
Antônio sorriu mais uma vez e tudo ficou ainda mais perfeito.
-Fugiu do castelo, menina de luxo?
-Hoje é o meu aniversário e o meu pai me deixou cavalgar.
-Ah, hoje é o seu aniversário! Meus parabéns. Deixe me..

Antônio saiu procurando algo. Não sei o que.
Depois de alguns segundos ele reapareceu escondendo algo.
Fiquei nervosa.
-Para você. -Antônio me dá uma flor. O seu cheiro era suave assim como o cheiro que eu senti no Antônio na noite do casamento da Dora.
-Obrigada.
Antônio sorriu mais uma vez.
-Você continua linda, Bella.
Fico corada de vergonha.
-E você não mudou nada também.-
Antônio riu.
-Tem hora para ir embora?
-Não.
-Então vem comigo.
Montei no Amuleto e fui atrás do Antônio sem hesitar.
Ele me fazia bem. Desde quando o vi pela primeira vez.
Cavalgamos por alguns minutos.
Chegamos à um lugar diferente de tudo que eu havia visto.
Tinha um casarão distraído. As suas paredes já faziam parte da floresta pois haviam folhas ,galhos e flores grudados nelas.
No chão havia folhas secas caídas tornando o cenário agradável.
-Gosto daqui.
-Mais um dos seus lugares preferidos?
Antônio saiu do seu cavalo e pegou em minha mão para me ajudar a descer também.
Eu sei descer sozinha, mas não iria, de jeito nenhum , dispensar a ajuda dele.
-Quero te mostrar. -fui seguindo o Antônio casa a dentro.
Já não havia mais teto. Ao olhar para cima só víamos galhos de árvores.
-Vem sempre aqui?
-Quando posso. Cavaleiros não tem muitas folgas.
Rimos.
Olhei para o Antônio e ele estava viajando em seus pensamentos.
Ele me olhou e eu sorri.
-Você já está mais tranquila em relação ao seu casamento?

Uma pergunta inusitada.
-Não, a cada dia eu me sinto mais apreensiva.
-Talvez não seja a casa coisa certa a fazer.
-E o que seria certo para você?
Pergunto distraída olhando a flor que o Antônio me deu.
-Ficar por amor.
O olhei na mesma hora.
Alguém pensa como eu.
-Acho o mesmo, Antônio.. Mas você sabe o que o amor ? Você já amou?
-Bom, tem uma garota que eu gosto muito. Penso nela todos os dias e quando estou perto dela, perco todos os sentidos. Tudo me foge do alcance, e isso não é ruim.

Fico com um certo ciúmes em ver o Antônio falar assim dr alguém.
-Deveria ficar com ela então.

O que estou falando? Meu deus.

-Seria impossível.
-Não sei qual é o motivo pelo qual você fala isso ,mas eu tenho algo a dizer sobre.
-Diga.
-Nada é impossível. Eu achei que fosse impossível sair andando por aí a cavalo, mas não.
-É bom escutar isso de você.
Dou risada.
-De ande é a sua família?
-Ham.. A minha família mora em uma Villa bem distante daqui. Penso em voltar para casa um dia. O meu pai serviu ao castelo e fiquei no lugar dele.. Creio que ainda vou embora.
Lá as pessoas são amáveis e não existe guerra entre elas. Todo mundo ajuda todo mundo e todos são tratados como iguais.
-O lugar perfeito..
-Sim, o lugar perfeito.
Vamos caminhado um pouco e me lembro que preciso ir.
-Seu cavalo é muito bonito.
-Ganhei hoje.
-Boa escolha para um presente.
Montei em meu cavalo e me despedi do Antônio.
-Irei te acompanhar até perto.
-Ótimo. Obrigado.

Perto do meu castelo eu vi o Antônio sumir.
Sem sombras de dúvida, esse foi o melhor dia de toda minha vida.