Depois de ter deixado o Antônio daquele jeito no jardim eu quase não consegui fixar minha mente em algo.
O que eu estava pensado quando falei aquilo?
Eu queria mesmo saber até onde eu iria. Se eu seria capaz mesmo de quebrar as tradições e acabar com a paz da minha família.Eu subo para o meu quarto. Essa tonelada de gente me deixa cada vez mais estressada.
Alguém bate a porta.
—Entre!
Mamãe entra exibindo o seu lindo vestido de pedras preciosas.
Ela é mais que previsível, posso ouvir as suas palavras antes mesmo dela abrir a boca.
—Tudo bem?E isso importa?
—Tudo , mamãe.
—Sabe, quando me casei com o seu pai , eu também não gostava dele , nem um pouco. Ele não era legal como é hoje, e a gente não se dava bem mesmo. Tudo mudou com o tempo. Eu aprendi a gostar dele , a ver as suas qualidades e ignorar os seus defeitos pois as pessoas não são perfeitas mesmo....—mamãe fala sentando ao meu lado.—E eu juro que sei o que você está sentindo , e te prometo que isso irá passar.
—E se não passar ?
—Você fingi que passou e continua.
—Então nada disso importa.
—É claro que importa. Vocês fazem parte disso , vocês sustentam o nosso império ,vocês são o laço entre nós... É o destino de qualquer uma, Bella. Eu vejo isso desde quando nasci.
—Tudo bem, mamãe.Mamãe dá um beijo em minha mão e sai do meu quarto, logo em seguida a Quitéria entra para preparar o meu banho.
Tiro a minha roupa e me deito na banheira lentamente.
Água morna e perfumada com pétalas de rosa.
Fecho os meus olhos e neste exato momento o Antônio me vem a mente sem pedir permissão.
Eu nos visualizo juntos naquela floresta numa tarde morna como essa água. Uma tarde de primavera , onde as folhas e flores caem encima das nossas cabeças. Rimos como nunca antes e eu tenho a sensação de liberdade para amá-lo sem precisar ser em segredo.
Deito com o Antônio numa cama de folhas secas e aconchegantes. Ele capta cada movimento meu e me fita com olhar de amor.
Sinto que a sua única vontade alí é de não me perder , de não me perder de vista.
Eu penso naquele momento "Que sorte eu tenho por tê-lo aqui" enquanto reparo mais uma vez o quanto ele é lindo. Sua feição é de um rapaz jovem e saudável. Suas sobrancelhas são grosas e se destacam em sua pele alva como a neve em primeiro dia de inverno. Antônio tem uma boca vermelha com formato de coração. E os seus olhos? Seus olhos são claros e são perfeitos por conto dos seus cílios bem desenhados. Seus olhos mostram o mundo que eu queria viver sem medo, seus olhos são a calmaria que eu preciso, eles são fontes de luz.—Está na hora.
Quitéria me interrompe.
—Eu sei.Me levanto o mais rápido possível e me visto. O vestido ficou ainda mais lindo.
Optei por não deixar os cabelos soltos.
—Querida?Papai entra em meu quarto e fica olhando o meu reflexo no espelho.
—Está linda.
—Obrigado ,papai.
—Eu estou aqui.—ele fala acariciando o meu rosto.
—Me lembre disso durante toda festa.—papai riu.
—Com prazer.Seguro em seu braço e vamos em direção ao salão. Nos anunciaram e todos nos olham agora e piora tudo. O meu medo de cair aumenta. Papai aperta o meu braço e quando o olho ele sussurra "Eu estou aqui". Dou um sorriso meigo e olho para os meus pés.
Alguém estende a sua mão e o papai olha para mim como quem quer dizer "pode confiar" e eu lhe dou a minha mão esquerda.
—Você é a princesa mais linda que já vi.—ele fala e em seguida beija a minha mão.
—Obrigada, mas quem é o senhor?
—O seu futuro sogro.
—E onde está o Philipe?—papai pergunta meio bravo.
—Philipe está logo alí.Caminhamos nós três. Eu tenho medo de encarar, então fixo os meus olhos no chão. Sei que a mamãe deve estar me odiando agora. Isto não foi o que ela me ensinou. "Uma dama anda de nariz em pé " escuto a sua voz fazendo eco em minha cabeça.
Paramos e o meu coração acelera. Olho para todos os pés ao meu redor.
Sinto alguém levantar o meu rosto pelo meu queixo com o seu dedo indicador da mão direita.
Eu levanto os meus olhos e o encaro. Seus olhos são azuis como o céu, seu cabelo é claro e há uma barba mal feita em seu rosto. Sou incapaz de piscar. Philipe tem cara de um verdadeiro príncipe esnobe.
—Isabe...—escuto alguém falar mas ela é grosseiramente interrompida pelo Philipe.
—Deixa que eu falo com a minha noiva!—sua voz é grossa e soa bastante autoritário.—Você está bem ,Isa?—Philipe pergunta gentilmente.
Engulo saliva e olho para o chão novamente.
—Sim, Philipe.
—Olhe para mim enquanto fala comigo,Isabella.
—Perdão.O olho novamente. Intimidante define. O seu olhar não é meigo como o do Antônio.
Ele me faz esquecer que temos muita gente a nossa volta.
—Perfeitos! —mamãe fala alto e rindo.—Que comece a cerimônia de apresentação.Philipe pega delicadamente em meu braço com esforço. Ele parece que não sabe ser o tipo de carinhoso espontâneo.
Sua mão é grossa e pesada.O bispo chamado para a cerimônia se põe em nossa frente para falar as velhas palavras de sempre.
—Testemunhamos hoje mais um baile de apresentação para dar início ao começo de uma nova história. Philipe e Isabella foram destinados um ao outro para apartir de agora cumprirem a sua missão perante um ao outro e em primeiro lugar, perante ao seu reino. Os reinos estão aqui presentes para celebrar essa nova união. A princesa deve se dedicar ao seu noivo e o príncipe deve respeitar a sua noiva...Enquanto o bispo fala o Philipe passa o seu braço pela minha cintura. O olho de canto e percebo que ele não tira os olhos de mim. Eu não consigo mais prestar atenção no que o bispo fala. Eu nem preciso , na verdade , sei de cor tudo que ele irá falar.
—Que sejam abençoados.
Todos aplaudiram e o Philipe deu um sorriso de canto ,também forçado.
Ficamos parados por um bom tempo falando com as pessoas.
—Vocês são lindos, filha.—fala a mamãe me abraçando. Ficar no centro das atenções realmente não é bom.
—Eu já estou com sede.—sussurro perdendo o medo e quebrando o silêncio.
Philipe demora para me olhar e quando me olha demora para responder.
—Vou pegar algo para você.
Fico sozinha por um minuto e veja só , nada mal. Sei que será por pouco tempo então tento curtir isso.
Philipe volta.
—Obrigada.Começa a tocar a música em que o príncipe tira a princesa para dançar, é tipo uma obrigação. Essa música é padrão ,e em todos os bailes de todos os reinos é com ela que acontece a primeira dança do casal.
Philipe estende a sua mão e quando repouso a minha mão nela ele a levanta me levando para o meio do salão.
Philipe me gira e para em minha frente colocando a minha mão sobre o seu ombro.
É certo que qualquer menina de luxo saiba dançar perfeitamente mas o Philipe me conduz e eu fico como se não soubesse. É inevitável. Ele é perfeito no que faz.
Encontro os olhos do Antônio entre os olhares que nos cercam com admiração. Vejo que agora o Antônio está andando para longe de nós. Ele virou as costas para mim e isso fez com que eu sentisse um pouco de infelicidade , mas eu não estou morrendo, e sei que não vou , mas eu respiro com dificuldade. O que essas pessoas tanto vêem? Será que estamos brilhando ou algo parecido?
—O que importa para você agora está em sua frente.—sussurra o Philipe.
—Desculpa.—sopro em seu ouvido.
—Olhe para mim,olhe para mim,olhe para mim ,sempre para mim.—ele sopra em meu ouvido e agora eu não esquecerei de olhar para ele.
Enquanto o olho pergunto " o que me espera no futuro?"
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Menina de Luxo [COMPLETO]
Fantasy"Menina de Luxo" é como são chamadas as meninas reais de todos os reinos. Bella é uma menina de luxo e está se sentindo cada vez mais apreensiva por causa do príncipe que a espera. Assim que nasce uma princesa, ela é destinada à um príncipe para ma...