Menina de Luxo [COMPLETO]

Décimo

Eu não sei o que devo pensar.
—Sabe quando você sente que não está completa?—pergunto para a Quitéria.
Quitéria prepara o meu banho e me olha confusa.
—Está falando do príncipe?
—Sim, estou.
—Você vai se acostumar.

Dou um sorriso meigo e me olho no espelho mais uma vez.
Philipe e sua família já estão a caminho.
A mamãe insiste em me aproximar mais dele. Acho que até ela percebeu que estou distante.
Desci as escadas e percebi que havia alguém no final dela.
Ele virou-se e eu pude perceber de quem se tratava.
Antes que eu pudesse chegar até o final ele estendeu a sua mão e me olhou com os de ternura.
—Olá, Isa.
—Oi , Philipe.
—Você está ainda mais linda.

Sou um sorriso de canto e vou para o jardim acompanhada pelo Philipe.
Mamãe está tomando o seu chá com a senhora mãe do Philipe. Parecem que são amigas de muito tempo.

—Estou muito feliz pelo convite ,Isa.
—Oi?
—O contive para esta reunião em família. A família é a base de tudo, então quanto mais próximos melhor.

É claro que não pude dizer que eu não convidei ninguém.
O seria de nós se não fosse a família na frente?
Seríamos donos das nossas próprias decisões. Faríamos algo por vontade , e não por obrigação.
E isso parece ruim?

—É por eles que estamos aqui,né?!—falo cortando o clima.
Philipe se dá conta do que eu falei. Ele para e fixa os olhos nos meus.
Seus olhos estão ainda mais claro na luz do dia. Mais claros e mais intimidantes.
Eu não consigo desviar o olhar. Eu bem que queria.

—Eu estou aqui por você.—Philipe fala frisando cada palavra.
Eu não posso dizer o mesmo.
Chegamos na mesa e Philipe puxa a minha cadeira e depois segura em minha mão para que eu sente, como um cavalheiro.
Mamãe me olha como quem quer dizer" está é a hora que você fala o obrigado".
—Obrigado.—falo sem graça e Philipe passa os seus dedos pelo meu rosto.

Ele se senta ao meu lado e pega uma xícara de chá com disciplina,como se tivesse tomado aula de etiqueta.

—Amanhã mesmo o cortejo estará aqui para começarem os preparativos da festa.—fala a mamãe.
—E não se preocupe ,Bella. Irei me certificar de você terá a melhor costureira.—fala a mãe do Philipe.
—Não precisa , querida.—fala a mamãe.
—Eu insisto.—fala a mãe do Philipe.
—Aceite, minha futura sogra. A mamãe conhece as mãos de fada deste reino. Eu quero a minha noiva deslumbrante.—insiste o Philipe tocando em minha mão.
—É claro. Aceitarei, então.—mamãe finaliza.

Me imagino dentro de um vestido de noiva. Sinto que me falta o ar. Depois disso eu serei a mulher do Philipe e futura rainha. Eu deveria pular de alegria. Finalmente eu me casarei com o primogênito de um reino tão rico e serei rainha dele. Mas eu não me sinto feliz.

—Eu agradeço , senhorita.—falo olhando para a mãe do Philipe.
Ela rir e olha para mim. Seus olhos são idênticos aos olhos do Philipe.
—Senhorita? Que gentil.—ri novamente.—Você é da minha família. Faço tudo pela família. Desponha, meu anjo.—a mãe do Philipe fala sorrindo.

Olho para a mesa a procura de saber o que está faltando nela.

—Não pediu para que trouxessem biscoitos , mamãe?
—Insolentes!—mamãe fala furiosa.—Pedi que trouxessem quando arrumaram a mesa.—ela se levanta e segura o seu vestido pronta para partir para a cozinha e gritar com as empregadas.
Me levanto rapidamente.
—Ah, não se incomode ,mamãe. Posso resolver isto.
—Fique , por favor!
—Imagina. Vocês nem reparam. Eu posso resolver.
—Pode resolver mesmo?
—Sim, mamãe.

Me viro para andar, mas o Philipe segura em minha mão.
—Quer que eu a acompanhe?
—Não se incomode, príncipe Philipe.

Saio rápido antes que alguém decida vir me acompanhar.
Eu só queria ficar distante.
Chego a cozinha e as empregadas me olham assustadas.
—Precisa de algo princesa?
—Não... Alguém esqueceu de colocar biscoitos a mesa. A mamãe está furiosa.
—Corra para colocar os biscoitos a mesa Berinice!—fala uma das empregadas para a mais nova delas.
—Não é necessário. Levo quando for.
—Mas princesa...
—Levo quando for. Já disse.

Saio pela perto que fica no fim da cozinha e que dá para um quintal, há uma fonte nela.
Me viro e vejo o meu reflexo na água.
—O que você está fazendo?—sussurro me perguntando.
Respiro fundo.
—Não vai se jogar não ,né?!

Levo um susto,mas me viro como se não me importasse com a sua presença.
—Porque? Você se importa?

Ele tira os olhos de mim e percebo que não irá responder.
—Eu...—Antônio ameaça falar, mas não fala.
—Foi como eu imaginei.

E saio rumo a cozinha, mas o Antônio me segura pelo braço.
Sinto ao percorrer pelo meu corpo. Eu não sei explicar. Fecho os meus olhos pois sinto que quero chorar.
—Me desculpa por ter sido grosso com você aquele dia.
—Eu não me importo.—minto.

Antônio riu.
—Do que está rindo?
—Você não sabe mentir.
—Não devo.
—Mentir?
—Sim.
—Mas tenta.

Olho para o Antônio e balanço a minha cabeça em sinal de negação e logo desvio meus olhares.
Antônio solta o meu braço.
—Tudo bem princesa.
—Tudo bem cavaleiro.
—Vou te deixar ir.
—Não. Eu quero ir.
—Está mentindo de novo.
—Como você sabe?
—Eu sinto o mesmo que você.
—Você me confunde.
—Eu também queria que as fossem fáceis.

O encaro. Eu quero ficar aqui e não quero sair nunca mais.
Eu tenho certeza do que quero quando estou com ele.
Como chama isso?

—Eu preciso ir.

Deixo o Antônio sozinho e volto para cozinha. Pego uma das bandejas de biscoito e volto pra mesa do sufoco.

—Porque não pegou que trouxessem,Bella?—pergunta a mamãe.
—Eu estava vindo. Porque não?—respondo.
—Que menina gentil.—escuto a mãe do Philipe me elogiar pela décima vez desde a noite passada.
Sim, eu já tenho um estoque de elogios.