Capítulo 23

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POV Alice

   Anny continuava calada. E ela nunca ficou calada.

   Jerry tentava animá-la ou reconfortá-la, mesmo que não fosse o momento ideal, mas nada funcionava. O máximo que ela mandava em resposta era um pequeno sorriso.

   Zack e eu estávamos sentados em um sofá mais afastado dos demais. Queríamos ajudá-la de alguma forma, mas não podíamos. Anny estava presa em um mundo só dela. Nem mesmo Jerry conseguia penetrá-la.

   A casa estava cheia e movimentada, mas, o mais impressionante é que ninguém chorava. Dois caixões ocupavam o centro da sala. Não me recordo de Anny ter chegado perto de nenhum deles, ainda. Acho que ela não suportaria vê-los. Por mais que se mostre forte e inabalável, sei que lá no fundo, ela sente muito. Muito mesmo. E quando toda essa fase negra dela passar, ela irá cair em si, e sofrer muito. E em uma intensidade que ela não irá suportar.

— Precisamos fazê-lo sentir toda a dor presa agora. Ela não irá aguentar depois. — Disse ao meu namorado que estava com os olhos marejados.

— Eu não sei o que fazer. Eu não saberia o que fazer se fosse ela.

— Não somos tão maus como dizemos, não é? — O fitei com o olhar triste. — Sempre fazemos as pessoas verem que somos monstros. Que não nos importamos com nada e com ninguém. Mas lá no fundo, nem nós acreditamos nisso. Eu queria tanto poder ajudá-la.

— E estamos fazendo isso. Estamos aqui agora e, quando o mundo desmoronar ao redor dela, também estaremos.

— Eu sinto tanto por ela. Perder os dois pais de uma vez... Eu sinto muito mesmo. — O abracei e alguém da família da Anny anunciou que o enterro seguiria para o Cemitério Central de Mystery City.

   Levantamos e cada grupo se direcionou a seus carros. Nós fomos no mesmo carro e depois de alguns minutos chegamos ao cemitério. Em um movimento inesperado por todos, Anny se aproximou do caixão dos pais, que estavam abertos, e os encarou por um tempo que não pude e nem quis contar. Lentamente ela levou a mão ao rosto da sua mãe e falou um eu te amo em tom baixo. Posteriormente fez o mesmo com o pai. Não demorou muito mais para que os caixões fosse colocados em suas covas.

   As pessoas começaram a se retirar aos poucos e ainda em silêncio. Vez por outra alguns amigos e familiares a abraçavam e repetiam as mesmas palavras: você vai ficar bem. Estaremos aqui para o que precisar.

   Pelo olhar que lançava a todos ela não parecia acreditar tanto nisso. Acho que ninguém acreditava. Todos os parentes dela moravam em outra cidade. Seus avós maternos e paternos estavam mortos. Não havia mais nenhum parente em Mystery City. Mas nós nunca a abandonaríamos.

POV Lewy

   Quanto mais o tempo se passava, mais meu pai e eu ficávamos preocupados. Minha mãe insistia em continuar desacordar. Não creio que ela realmente queira estar nesse estado, mas saber disso não diminui o temor que temos com o mero pensamento de perdê-la. Jamais me imaginei sem meus pais, e o menor reflexo de uma eternidade sem eles, me golpeia de uma forma que palavras e ações jamais poderiam expressar.

   Meus sentimentos de ódio pela família Dewes a cada segundo que se passava só crescia em meu peito. Nunca fui de fortalecer emoções ruins ou sombrias, mas convenhamos que desde que chegarem aqui, eles não pegam leve. E tudo de desagradável que passou a acontecer conosco direta ou indiretamente está relacionado a eles. E o que mais me frustra, é que por mais que busquemos respostas ou soluções elas nunca vêm. Sinceramente não sei o que fazer. Nem sei o que pensar a respeito. Só que ainda assim, quero a vida que levá-la antes. Não a vida de humano que tinha, já que essa jamais voltará e para a falar a verdade, me sinto muito melhor como um bruxo. Eu só quero, assim como todos os outros, a vida sem problemas. A vida que tínhamos onde não nos preocupávamos tão frequentemente com a possibilidade de morrer a qualquer instante.

Me apaixonei por um Vampiro (História Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora