Love in the dark

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Narrador secreto.

Desde aquele dia eu não consigo tirar da cabeça aquela imensidão de olhos verdes a qual eu vi alguns dias atrás, eles estão por toda parte, não sei dizer ao certo porque, mas simplesmente pra onde quer que eu olhe, eu os vejo na minha frente, brilhantes, profundos e tão acolhedores que eu seria capaz de abraça-los. Estou em frente ao rio Lea, olho meu reflexo na água e consigo ver meus olhos borrados de preto por conta da maquiagem, as lágrimas ainda insistem em cair, inclino minha cabeça e olho pro horizonte, penso no tanto em que minha vida mudou, como um simples acidente pode colocar minha vida de cabeça para baixo, eu nuca quis vim morar em Londres, nunca quis deixar o Brasil, principalmente da forma como o deixei, praticamente fugindo. Desde que cheguei aqui minha vida se tornou um verdadeiro inferno e Jenny faz de tudo para contribuir com isso, ajeito as mangas do casaco e encosto-me ao banco atrás de mim, ponho meus óculos e uma imagem surge do outro lado do rio, ponho minhas mãos sobre a câmera fotográfica apoiada ao meu pescoço. "é ela?" penso ao focar um pouco mais a lente, meu coração começa a bater um pouco mais forte, um vento frio sopra no ar e ela vira o rosto para o lado, encarando o nada. "perfeito" começo a fotografa-la, seu olhar esta fixo no horizonte, seus cabelos estão presos em um coque alto e balançam de acordo com o vento, me inclino um pouco mais para frente tentando achar a foto perfeita, o que não demora muito, seguro a câmera em minhas mãos e volto a observá-la. Ela passa a mão sobre a barriga e consigo perceber pelo movimento de seus lábios que ela conversar, aos pouco ela começa a caricia-la e eu percebo o volume em sua barriga. "Ainda mais encantadora do que antes", tirei mais uma foto. Observo a câmera por alguns segundos e vejo as fotos que eu tirei, um leve sorriso sai do meu rosto ao notar que talvez vir para cá não foi tão mal assim, eu posso me acostumar. De repente ao voltar meu olhar para ela percebo que está agitada, parece que fala ao telefone, ela corre sobre a grama e se aproxima de mim, escondo meu rosto com o casaco, ela entra no carro e eu ouço os pneus derraparem no asfalto molhado, meus olhos ficam fixados por alguns segundos no lugar em que ela estava a instantes atrás, tiro mais algumas fotos e vou andando para casa, meus tênis completamente encharcados, grudando ao chão, uma chuva fina começa a cair eu protejo minha câmera com o casaco, começo a correr e uma sensação de liberdade toma conta de mim como nunca antes eu senti, meus lábios estão secos, um gota se suor desce por entre meus olhos, paro em frente ao meu prédio.

- Talvez essa seja a sensação de liberdade que eu tanto sonhei. - sussurro pra mim mesmo com a respiração ofegante, fecho meus olhos por alguns instantes tentando tomar coragem pra voltar à realidade. 

Por Adele

Já se passou quase um mês desde que Simon entrou em coma, eu estou funcionando praticamente no automático, minha rotina tem sido ir ao hospital durante o dia e descansar a noite, às vezes eu simplesmente não consigo dormir e vou para o piano, passo horas apenas o observando, durante algumas noites eu consegui escrever alguns versos, já tenho duas músicas, uma delas eu compus na casa da Laura, mas acabei perdendo no caminho para casa, já procurei no prédio inteiro, mas não achei, devo ter deixado cair e alguém a pegou.

Levanto- me da cama e observo a chuva cair pela janela da varando, dou um sorriso largo ao acariciar a minha barriga e perceber meu pequeno se mexendo, já são quase cinco messes, o volume já é notável e eu evito ficar saindo de casa por conta dos paparazzi, a última coisa que eu quero agora são esses abutres no meu pé, a quase uma semana eles invadiram o hospital para fotografar Simon, eu quase não acreditei, a direção do hospital pediu desculpas e colocou seguranças no quarto de Simon, e processamos os paparazzi.

Tirando isso nada de atípico tem acontecido desde o acidente, às vezes Laura vem para cá me fazer companhia, mas na maior parte do tempo ela fica na casa de Finch, praticamente se mudou para lá, minha mãe também vem aqui de vez em quando, mas não passa muito tempo por conta de seu trabalho na livraria. Saio da cama e vou em direção ao closet, resolvi da uma volta pelo rio Lea antes de ir ao hospital, não sei ao certo por que, mas sonhei com aquele lugar por duas noites seguidas, talvez seja hora de voltar ao passado, dizer um último adeus, pego uma calça preta e uma blusa folgada da mesma cor, coloco a roupa sobre a cama e vou para o banheiro. A água quente bate nas minhas costas e eu sinto um alívio, quase sem perceber começo a cantarolar a música que eu fiz para Simon, lembranças do dia de ontem começam a invadir a minha cabeça, eu cantei essa música para ele, segurando em suas mãos. Termino o banho seco meus cabelos, e me visto, passo pela cozinha e como alguma coisa rápida, já são dez da manhã e logo terei que ir ao hospital, pego as chaves do carro e saio, dirijo lentamente pelas ruas de Londres, observando cada detalhe daquele caminho que eu conhecia tão bem, as pessoas pareciam as mesmas, as ruas, tudo parecia na mais perfeita ordem, mas algo estava diferente, talvez fosse eu, eu mudei desde a última vez que estive aqui, era difícil dizer o que realmente tinha mudado em mim além da loucura que virou a minha vida, além de Simon, do nosso filho. Mas eu senti que algo além disso mudou, desci do carro e fui em direção ao rio, fiquei o observando por algum tempo, por alguns instantes eu pude me ver criança brincando ao redor do rio, correndo, tocando violão sem qualquer compromisso, ouvindo as gargalhadas descontroladas dos meu amigos, podia sentir o cheiro de cigarro invadir o meus pulmões, mas um segundo despois nada disso esta lá, olhei em volto e estava a apenas eu e o silêncio.

A história de amor final (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora