Remedy

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  Por Adele

"Não é bom dizer mentiras; mas quando a verdade puder trazer uma terrível ruína, então mentir também é perdoável."

- Só me diz porque, porque você escondeu isso de mim? – ainda não consigo emitir um som sequer, meus olhos começam a desviar dos seus e tudo em minha cabeça está em câmera lenta, posso ouvir as batidas aceleradas do coração de Simon, enquanto o meu está praticamente parando, o pôr do sol deixa tons alaranjados no quarto e vejo praticamente apenas seu vulto diante de mim, minha boca seca e eu tenho vontade de mordê-la até sangrar. Volto a olhar nos olhos de Simon e vejo seus cílios piscando lentamente. Não consigo. Um nó se forma em minha garganta e eu engulo em seco. As palavras fogem da minha boca a cada vez que tento pronunciá-las, ver as lágrimas de Simon caindo sobre seu rosto me dói, mas o pior é saber que elas foram causadas por mim.

- Simon. – finalmente algum som sai da minha garganta, faço força para que as palavras continuem saindo - eu...eu, me desculpa. – Simon se aproxima e eu recuo, fecho os olhos e ouço o som de sangue pingando ao chão quando minhas lágrimas descem pelo meu rosto.

- É só isso que você tem a dizer, desculpas? Em que mais você mentiu pra mim? FALA.

- Não foi de propósito, eu jamais queria ter mentido pra você, mas depois daquela maldita noite, eu não sabia mais o que fazer de repente você estava em uma cama de hospital, e por minha causa.

- Sua causa?

- Sim. – respiro fundo tentando segurar o choro, mas as lágrimas descem cada vez mais forte a cada lembrança que vem a minha cabeça. – Na noite do acidente, Alex apareceu lá em casa, havia tempos que nós não nos víamos, eu fiquei feliz em vê-lo, mas ele não parecia estar tão feliz assim, então fomos para o jardim conversar, depois de um tempo Alex começou a se aproximar de mim, e eu não recuei, foi então que você chegou e viu nós nos beijando.

- Você...me traiu?

- Não, não trai, por favor, me deixe continuar, eu preciso contar toda a verdade de uma vez. – Simon passa a mão pelo rosto e enxuga as lágrimas. – depois você saiu correndo, pegou o carro e saiu, eu fui atrás de você, mas acabei não o encontrando, quando voltei pra casa você ainda não havia chegado, e eu me desesperei, mas depois de algumas horas, na madrugada, você apareceu com um cheiro forte de bebida, eu tentei conversar, mas você não quis ouvir, pegou uma mala e saiu, durante a manhã eu recebi a notícia do seu acidente. – eu sento na cama tentando procurar forças para continuar.

Simon senta em uma poltrona próxima a janela e coloca as mãos no rosto, apoiando-as em seu joelho, eu volto meu olhar para o chão e continuo.

- Eu fiquei desesperada quando descobri que você estava em coma, eu só conseguia pensar que a culpa era minha, eu ia ao hospital todos os dias vê-lo, conversar com você, eu tinha esperanças de que quando você acordasse a gente iria conversar e você iria me perdoar, mas quando você acordou, você não se lembrava de mim. – meu choro se torna descontrolado e eu começo a soluçar.

- Eu lembro, mas porque você não contou a verdade ali, quando eu acordei?

- Simon, você passou praticamente dois meses em coma, eu já estava surtando com medo de que você não acordasse nunca mais, e de repente você acorda e não se lembra de mim, eu senti o mundo se abrir debaixo dos meus pés, eu não sabia o que fazer. Depois eu fui pra casa, minha cabeça estava cheia de pensamentos, eu já estava enlouquecendo, então eu decidi que era melhor esconder sobre a paternidade e sobre nós, isso cairia como uma bomba pra você, e depois do acidente a ultima coisa que eu queria era te causar problemas, a Laura me convenceu a ir vê-lo mais algumas vezes no hospital, mas eu não tinha coragem de encara-lo, então ficava te observando ao longe.

- Meu Deus, quanto mais eu tento te entender menos eu consigo.

- Eu estava desesperada, com medo, mas você não precisa me entender, nem me perdoar, eu posso criar meu filho sozinha.

- Você está louca? Como você pode dizer uma coisa dessas?

- Simon, você não vai me perdoar, eu no meu lugar jamais me perdoaria, você ainda não se lembra de tudo o que a gente viveu, eu sei que tudo o que você sente por mim nesse momento é raiva e eu vou entender se não quiser olhar nunca mais na minha cara.

- Escuta o que você está dizendo, eu não sou outra pessoa Adele, eu continuo o mesmo Simon de sempre, eu jamais deixaria você criar essa criança sozinha, eu estou sim com muita raiva sua, e talvez ela nunca passe, mas nada muda o fato desse filho ser meu.

Eu continuo encarando o chão, um silêncio toma conta do quarto e nenhuma palavra mais é dita, sinto Simon se levantar e parar em frente a porta.

- Acho que você já disse tudo o que tinha pra dizer, eu sinto muito que o nosso amor tenha se transformado nesse mar de mentiras.

Simon sai do quarto e eu me desespero, meu choro já se transformou em gritos, e bato na porta com toda força possível, minha garganta doe a cada grito que sai da minha boca, posso jurar que meu coração está sangrando por dentro, todas as feridas abertas, minhas mãos começam a doer e eu paro de bater na porta e me encosto sobre ela, a dor que eu jurei jamais sentir novamente agora está mais forte, sinto o sangue escorrer pelo canto dos meus lábios, eu os mordo com toda força possível, sinto ódio, ódio de mim por ainda acreditar em amor, ódio por ainda sentir isso, sinto ódio por tudo, a dor dentro de mim é tão grande que eu sinto vontade de sumir. Meu choro ainda é compulsivo, sinto uma pontada no pé da barriga e dou um grito levando minhas mãos até lá, olho a minha frente e vejo o sangue escorrer pelas minhas pernas, tento gritar mais uma vez, mas não consigo, tudo que é emitido da minha boca agora são meros sussurros, sinto a dor cada vez mais forte e não consigo mais me manter acordada, meus olhos se fecham e uma escuridão toma conta do quarto.

Por Simon

As palavras da Adele ficam ecoando pela minha cabeça, depois de tudo o que ela me disse ainda sinto que nada foi esclarecido, pelo contrário, a escuridão em meus pensamentos só se tornou mais forte. As palavras que estavam no e-mail que recebi me deixaram furioso, jamais poderia imaginar que Adele poderia fazer uma coisa dessas, mas ela foi.

Enxugo as lágrimas e entro no carro, ouço meu celular tocar e com as mãos ainda tremulas eu o atendo sem nem ao menos ver quem é.

- Alô...você estava certa, mas isso não muda nada entre a gente...assim que o dia amanhecer eu estarei ai.

Desligo o telefone e piso fundo no acelerador, a dor que eu estou sentindo se transformou em ódio, ódio de mim por ainda acreditar em amor, ódio por ainda sentir isso, sinto ódio por ainda amá-la depois de tudo.

Eu descobri o que é o amor verdadeiro, e ele me destruiu.

Eu descobri o amor novamente, e ele me destruiu. 

Estou vagando pelas ruínas do meu desespero. 

Estou afundando em minhas lágrimas. 

Nada mais parece certo, a não ser a morte. 

Quem não sabe o que estou sentindo vai achar loucura.

Quem sabe vai achar exagero. 

Queria nunca ter sentido isso.

Mas é melhor morrer de amor, do que nunca ter amado. 

ouço o som de piano e lembro-me dela, a taça de vinho a meu lado, a lareira a minha frente, tudo me lembra ela, mas meu coração doe a cada lembrança. ouço o telefone tocar algumas vezes e  o ignoro, não tenho forças para atendê-lo, continuo perdido em meio ao nada e o telefone toca mais algumas vezes, estico o braço e atendo. 

- Adele está no hospital. - ouço a voz de Laura do outro lado da linha, meu coração acelera ao ouvir o nome de Adele.

- O que aconteceu?

- Ela está em trabalho de parto e corre risco de morte.

-Como? 

- Se a Adele não conseguir ter o parto normal, ou ela ou o bebê podem morrer. 





A história de amor final (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora