VIII-Belinda

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As estrebarias forneciam a camuflagem necessária para que fugissem sem que fossem percebidos,pois localizava-se num declive e o rei terminara a construção de um túnel de escape. Feük sempre tentou imaginar como faria pra salvar seu povo se o pior acontecesse...

Lutou ao lado de bravos e honrados homens, mas sabia que haviam alguns que se deixaram seduzir pelas trevas...esses, venderam suas almas em troca de riquezas e poder. O pior deles foi Mahlek, sua ganância o atraiu e o enredou, através de um pacto sinistro, tornou-se um rei que governava seus súditos com as correntes invisíveis da magia negra...

Seu coração sempre esteve preocupado com a possibilidade de Mahlek não se contentar com o que possuia...
A Nova Terra era vasta, mas pelo visto,a sede de poder de Mahlek também.

Não houve nenhuma chance de salvar mulheres e crianças, todas foram destroçadas...a fúria das hordas de Mahlek não deixaram nem sequer uma alma em toda Brumas...

Apenas aqueles que faziam a escolta do rei sobreviveram ao terrível confronto, vinte e cinco homens, guerreiros fiéis, que empenharam suas vidas por seu líder e por sua família. E que mesmo agora, não esqueciam de sua promessa em servir a única herdeira dos ideais do honrado Feük.

O grupo cavalgou a noite inteira para abrir distância do cenário de horror que a cidadela de Brumas havia se tornado, mas mesmo ao longe puderam pesarosos enchergar as chamas que consumiam anos de felicidade e paz...
Um reino onde famílias inteiras viviam pelo bem comum, onde sonhos eram plantados...choravam em silêncio por suas próprias perdas e pela morte daquele que havia sido o idealizador de uma harmoniosa comunidade.

Belinda permanecia silenciosa. Sua dor não necessitava de palavras...as lágrimas turvavam a visão, enquanto a fumaça subia juntamente com as labaredas, dos telhados de Brumas...

_Precisamos prosseguir._disse por fim, Hugh, contendo sua própria dor.
_Senhor, vamos passar pela Zona Bestial ?_quis saber Prates ,receoso.
_Não, faremos o caminho dos Vales de Kendorf, teremos que alcançar a Caverna de Délos se quisermos sobreviver à essa noite.

Na fuga não houve tempo para grandes preparações, mas desde que soube que um ataque a Brumas seria impetrado pelas forças inimigas, Feük se preocupou com sua filha, e como pai, deixou ordens aos cavalariços para albardar os cavalos abastecendo-os de água e suprimentos que pudéssem carregar sem comprometer a velocidade dos animais, e assim foi feito. Por isso, pelo menos teriam comida e água pra sustento de três dias...cada cavalo levava um odre feito de pele de cordeiro cheio de água e um farnel com frutas secas, grãos tostados e pão.

Cavalgaram durante muito tempo ainda, até poderem apear. Era perigosa a movimentação noturna, a qualquer momento poderiam cruzar com algum obstáculo, fosse animal ou simples buracos que se tornavam verdadeiras armadilhas...

_Belinda! Agora falta pouco até chegar à caverna. _disse Hugh preocupado.
_Estou bem atrás de você, não se preocupe comigo. _disse ela, sua voz deixando transparecer a aridez que a dor lhe impuzera.
_Senhor! Vamos contornar a rocha ali à frente, será mais fácil para a Srta.Belinda se não tivermos que descer dos cavalos..._lembrou Talmo,pois estava acostumado com aquele caminho.
_Não quero e não preciso ser poupada de coisa alguma cavaleiro! _disse Belinda com repentina demonstração de fúria.
Ao que todos se calaram, sabendo que àquele momento as palavras se faziam desnecessárias...

Finalmente chegaram à Caverna de Délos. Há muito tempo, quando acompanhava o então jovem Feük em sua jornada à procura de um lugar ideal para estabelecer seu sonho de uma vila onde pessoas pudéssem viver tranquilamente, os dois amigos, descobriram uma passagem por uma fenda na montanha, que lhes permitia chegar à planície de Áven sem passar pela Zona Bestial. Um caminho muito mais longo, era verdade...mas, que aumentava as chances de se manterem vivos. Esse sempre foi um segredo dos habitantes de Brumas.

A caverna não ficava à mostra, assim como a passagem também não.
Somente quem sabia de sua existência conseguia divisar sua entrada, era como se a natureza enganasse os olhos dos viajantes, os paredões rochosos pareciam se sobrepor e quem olhava via apenas um imenso bloco sem divisões aparentes, mas existia uma passagem entre as rochas dentro da caverna que saía diante da fenda e somente a pé poderiam passar.
_Daqui por diante seguimos a pé. _disse Hugh apeando do cavalo.
Todos passaram abaixando-se, os cavalos também conseguiram.
Os guerreiros acharam por bem rolar uma pedra à entrada para garantir que ninguém pudesse percebê-la. Foram necessários para este trabalho, sete fortes homens.

O que deixou Hugh muito satisfeito. Era responsável pela escolha de cada guerreiro e pelo seu treinamento, não só para lutar, mas para servir. Dava-lhe orgulho perceber que aqueles homens eram honrados e dignos de sua inteira confiança, jamais abandonariam Belinda, caso ele mesmo viesse a lhe faltar.

Uma fogueira foi acesa para aplacar o frio, ninguém sentia fome, passariam a noite numa das grutas, antes de seguir viagem. Os homens se afastaram cerca de três metros de onde Belinda e Hugh conversavam e acostumados que eram com a dura realidade de acampamentos improvisados, adormeceram no duro e frio chão da caverna, exaustos. Não havia necessidade de vigiar , seus inimigos ficaram para trás junto com as ruínas de sua amada Brumas.
_Sei que será difícil, mas tente dormir, não sabemos o quanto ainda teremos que viajar até encontrar uma aldeia.
_Ele estava tão feliz...com tantos planos...até imaginei que estivesse gostando de alguma bela mulher e que eu teria que aceitar não continuar como sua única filha...
_Seu pai sempre amou uma única mulher...e foi por esse amor que sonhou nossa Brumas...sua mãe o inspirou.
_Agora tudo se foi. _disse sem derramar lágrimas.
_Não. Tudo que seu pai sonhou está bem aqui, continuará enquanto você viver, e cada um de nós, que trazemos na memória o seu sonho, e seu exemplo.
_Acredita que possa existir alguém mais como meu pai lá fora? Alguém que tenha sonhado com uma nação justa, onde todos tivéssemos o mesmo valor?
_Se não houver, construiremos uma nova Brumas e então...faremos existir.

O Despertar da LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora