XLV-Zoe

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A planície estava mergulhada na escuridão, quebrada apenas por uma lua de sangue. No ar, um vento morno carregado de morte, um odor sufocante de enxofre!
Milhares e milhares de homens e mulheres jaziam na imensidão do campo, em agonizante desespero, seus corpos feridos, cobrindo toda sua extensão, mãos estendidas em busca de alívio para aquele tormento, pediam socorro, prisioneiros das trevas...
Mas, o fogo que os consumia, queimava suas almas, como uma torrente os engolia, enquanto seus gritos ecoavam sem resposta na noite!
Olhava àquela cena com o coração acelerado, quando ouviu, do meio do fogo, uma voz!

_Vou destrui-la, Zoe Geller, como fiz com cada um que se atreveu a ficar em meu caminho...Só tem uma chance de sobreviver, renda-se a mim, farei de você minha rainha...ou lute, e verá aqueles que estão ao seu lado perecer!
_Quem é você?_gritou vencendo o torpor._Só para ouvir uma gargalhada sinistra em resposta.
_ Breve saberá, nos encontraremos...Talvez deseje nunca ter perguntado. O seu destino, porém, dependerá de sua escolha.
A figura masculina saiu das chamas, olhando fixamente, direto em seus lhos, era pálida como alguém que não possuia sangue nas veias, seus olhos não transmitiam nenhuma emoção, a não ser crueldade. Vestia-se totalmente de negro como uma camuflagem em meio as trevas ao redor! O vislumbrou apenas alguns segundos, da mesma forma que surgiu, desapareceu, deixando para trás apenas o vazio escuro da noite.

_Mahlek..._pensou.
O suor gotejava de sua tempora, acordou como se seu corpo tivesse caído._ Seria possível ter estado flutuando!?_pensou.
Mas, encontrava-se na caverna, com a certeza de que uma força maléfica os espreitava, recordou-se da estranha sensação de ser observada durante todo o trajeto até ali. Nada dissera ao grupo, porém, isso tornou-se incômodo a ponto de achar que via coisas demais!
Sentiu uma mão tocar-lhe nas costas, um toque familiar, que logo transformou-se numa carícia, um convite...

Kalel despertara com sua agitação, e seu olhar preocupado sob a luz da fogueira, fez seu coração contrair-se ao pensar em tudo que vira naquele campo...e aquela voz...

O abraço foi uma tentativa inconsciente de mantê-lo a salvo, mais do que a si mesma,  apertava-o como se pudesse evitar o que estava por vir.
Permaneceram assim em silêncio, as palavras eram desnecessárias.

Estavam numa parte recuada da gruta, afastados do grupo.  Por causa do solo irregular, cada um ajeitou-se o melhor que pôde.
Costumavam dormir lado a lado e assim diminuir o frio.

O contato tornou-se um abrigo, não desejava o nascer do dia, não queria deixá-lo! Se pudesse, apagaria e reescreveria o destino de ambos...
As mãos de Kalel  desenhavam circulos em suas costas fazendo os pêlos de sua nuca se eriçarem enquanto mordiscava o lóbulo de sua orelha esquerda.
Suas bocas se encontraram num beijo terno, carregado de expectativas e apreensões...
Aos poucos, tornou-se cada vez mais profundo, e a paixão que os unia brotou com força. Ele a abraçou ainda mais apertado, e depois de algum tempo, relutante, a libertou. Os dedos entrelaçados em seus cabelos...

Os dois entreolharam-se longamente sem nada dizer. Compartilhavam o mesmo desejo. Queriam deixar o que sentiam aflorar, temiam ser a última oportunidade de suas vidas para se entregarem um ao outro. Porém, foi com uma certa frustração que Kalel a viu deitar-se novamente no interior do saco de dormir e fechá-lo, dando-lhe boa noite.

Não esboçou nenhum protesto, não seria justo com ela, não era o lugar nem o momento de pressioná-la a tomar tal decisão...pensou resignado, fazendo força para não ceder à tentação de chamá-la, lutaria com todas as bestas do inferno se possível, para que houvesse esse dia. Tornaria Zoe Geller sua esposa! Pensou ele resignado, ainda sob o efeito do breve contato.

Do outro lado da caverna também havia temor pelo novo dia que se aproximava e tudo que ele traria consigo. Belinda tentava não pensar em tudo que enfrentariam, porém a noite em que perdera seu pai e todas as lembranças relacionadas a isso voltaram com força.
_Não consegue dormir?!_perguntou Zofar notando que virava-se pela terceira vez.
_Acho que estou sentindo falta da cama!_brincou procurando afastar os pensamentos sombrios.
_Logo estaremos em Haloway outra vez! _disse ele com naturalidade.
_Você sabe que não será tão simples assim...
_Não temos opção, esta guerra não deixará de existir se a ignorarmos, então, é melhor enfrentar de uma vez! Mas, não vou facilitar para quem quer que esteja no campo adversário!
_Meu pai teria gostado de você..._disse ela pensativa._A propósito, como foi sua conversa com Hugh, ele rosnou!? Rs...costuma fazer isso quando quer intimidar, mas não o leve tão a sério. Rs.._disse baixinho.
_Não, ele não rosnou! Rs..disse apenas que jogaria uma flor em meu túmulo caso não a tratasse com dignidade! Rs..
_O que disse a ele? Vi que pareceu satisfeito, até riram juntos!
_Coisas de homens! Rs..estava me dando algumas dicas de como domá-la! Rs...
_Ora essa! _disse ela indignada_Hugh terá que se explicar! Por que acha que terá que me domar?
_Você tem um gênio de cão! Rs..
_Pensa realmente assim? Rs..
_Acho que isso é um mal de mulheres bonitas...rs...mas, não ligo. Prefiro assim! _disse ele olhando-a com intensidade, sério.
_Então é melhor nunca me provocar...Hugh não poderá salvá-lo de mim..._disse vendo-o aproximar-se cada vez mais.
_Não quero ser salvo de você. _disse beijando-a.

O acampamento estava todo de pé, assim que o sol nasceu. Reuniram-se em volta da fogueira e  fizeram o desjejum.
Dali seguiriam sem grandes paradas até Áven.
Havia apreensão no semblante de cada guerreiro e o silêncio pesava entre todos.

O Despertar da LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora