XXXII-Zofar

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O sol custou a dispersar o nevoeiro...quando saíram ainda havia uma tênue neblina cobrindo o campo.
O clima estava sombrio e  combinava com os semblantes carregados de Zofar e Belinda, que nada disseram durante todo o dia...
Já era chegada a tarde e o tempo permanecia estranhamente enevoado...o dia vestira-se de branco como um vestido de noiva...
_Nunca presenciei algo tão esquisito... se estivéssemos no outono...!
_Não é tão mau assim...é até bonito!_disse Zoe calmamente.
Andavam devagar conseguindo enchergar o caminho com uma certa limitação.
Ficaram próximos para evitar qualquer tipo de surpresa...
_Raios! Gostaria de saber o que causou isso... não parece natural!_disse Kalel._ Veja como os cavalos estão inquietos!
_Acha que pode ser coisa de Mahlek? Mas, como poderia saber que estaríamos aqui!?_perguntou pensativa...lembrando-se do sonho, onde também havia neblina...
_Se ele realmente lida com as trevas...não estaria vigiando possíveis movimentos da tribo dos fiéis!? Talvez não seja contra nós e sim para isolar a tribo._Observou Belinda.
_Eu tentaria neutralizar todos que pudessem se opor a mim numa batalha! _disse Zofar ponderando._é uma estratégia de guerra...
_Com magia...!_falou Zoe pensativa.
_Então todos concordam que esse nevoeiro, em plena primavera, já passou do normal ? Fiquem bem atentos...não  estou gostando disso, está ficando mais intenso...
_Kalel, se conhece o caminho, acho melhor apressarmos o passo e ariscar correr, do que ficarmos presos aqui._observou Belinda.
_Vamos! Antes que o nevoeiro se feche de vez e fiquemos às cegas!_disse ele disparando com o cavalo.

Todos os demais seguiram-no a galope, o nevoeiro cobria toda a montanha e os arredores como uma barreira, mas continuaram mesmo sem enchergar o caminho.
A Montanha Warok era cercada por uma floresta com árvores altas que pareciam formar uma cerca natural separando o mundo entre duas realidades pois bastou ultrapaçarem os seus limites e o nevoeiro ficou para trás!
_Que estranho...!_admirou Zofar.
_Mesmo sendo estranho...prefiro sem névoa!_disse Kalel olhando em volta.
A mata fechada oferecia toda sua exuberância, as árvores gigantes ladeavam o caminho como se tivessem sido plantadas propositalmente daquela maneira, as cores na vegetação eram intensas...e havia pequenos animais por toda parte que sumiam, escondendo-se dos olhares estranhos...atrás o branco nevoeiro, parecia querer engolir tudo, mas de alguma maneira era barrado  à entrada. Já estavam quase chegando ao fim da floresta onde erguia-se um imenso paredão de pedra coberto por todo tipo de plantas, não podiam prosseguir!
_E então gênio, o que fazemos agora!?_perguntou Zofar sarcástico.
_Procuramos!_respondeu  Kalel simplesmente._deve haver uma entrada em algum lugar a menos que os fiéis possuam asas!
_A trilha de árvores termina aqui..._disse Zoe descendo do cavalo_deve haver uma passagem escondida..._continuou tateando a parede.
De repente um barulho semelhante à roda de um moinho foi ouvido, houve uma agitação entre os animais que os cercavam a distância, escondidos nas árvores, puderam ver então uma parte da rocha movendo-se como um portão.
_Tem certeza que esta é Warok? _quis saber Zofar pegando a espada.
Após alguns minutos de tensão, uma figura de barba e longos cabelos brancos, vestido com uma túnica simples de tecido rústico os receberam, e com um gesto apontou para Zoe. Quando falou sua voz soou rouca, mas muito serena...
_Você era aguardada! Seja bem vinda... Venham...entrem todos!
Todos entreolharam-se sem entender, mas nada perguntaram...assim que passaram pelo portão, a porta tornou a fechar-se. Era um intricado sistema de roudanas, pesos e contra-pesos que moviam uma pesada porta de pedra maciça. Na verdade um grande bloco de pedra. Seguiram-no por um grande túnel escavado na montanha, era alto e poderiam facilmente passar montados..._Quem teria feito tudo isso...?_pensou.
O túnel era iluminado com tochas, mas podiam ver a intensa luz do dia no final dele. Ao sair seus olhos sentiram a diferença do contato com a luz do sol outra vez...

Aquele lugar era apenas a entrada, uma imensa e natural muralha que protegia a montanha que ficava há alguns metros...o paredão circundava todo o lugar que parecia uma cratera.
Muitas pessoas vieram recebê-los, mas nem sinal de Hadassa...
_Meu nome é Nathan, sou o responsável por recebê-los, fui incumbido de que tivessem uma boa estadia em nossa montanha...
_Nossa permanência aqui será breve, apenas desejamos falar com Hadassa._disse Kalel sem rodeios.
_Tudo a seu tempo...agora precisam descansar e se alimentar, fizeram uma longa jornada!

Foram conduzidos ao interior da montanha onde os outros membros da comunidade estavam reunidos e os receberam com grande entusiasmo. Um banquete a base de frutas, legumes e peixe foi servido.
_Tenho certeza que temos coisas mais importantes que fazer festa..._disse Zofar irritado._onde está a tal Hadassa?_completou baixinho.
_Acalme-se! Não temos porque sermos hostis com essas pessoas..._respondeu Kalel.
_Não é com eles que serei hostil se isso der em nada!_ameaçou.
_Eles estão levando Zoe a algum lugar! _alertou Belinda.
Mais que depressa, ele contornou a grande mesa de pedra.
_Aonde estão indo com ela?_perguntou Kalel  aproximando-se do grupo.
_Não se preocupe, ela é aguardada, volte e aproveite, tenho certeza que apreciará nossas iguarias, é tudo fruto da terra.

Zoe foi conduzida por um caminho entre galerias até uma câmara que servia de aposento, havia uma cama grande, e nela, um traje feminino, cuidadosamente disposto,  uma bandeja sortida de tudo que foi servido no banquete estava arrumada sobre a mesa, onde também havia um grande livro aberto sobre um suporte dourado, num castiçal havia velas acesas que conferia ao local uma atmosfera de acolhimento. _Por que tudo parecia preparado para recebê-la, como se soubessem que viria?_perguntou-se em pensamento.

_Sr. Nathan, por que estou aqui? E os outros?
_Todos nós servimos a um propósito, seus amigos a acompanharam até aqui, e ficamos gratos por isso. Agora descanse, e não se preocupe, eles serão bem tratados e logo estarão juntos outra vez, mas agora é necessário que se purifique e depois alimente-se!

Neste momento duas servidoras entraram e tinham nas mãos cântaros que continham água quente e despejaram numa tina circular, feita de madeira. Fizeram sinal para que fosse até elas, não viu porque não usufruir daquele cuidado...despiu-se sem constrangimento e entrou na tina, seu corpo logo relaxou imerso na água quente, sentiu todo o cansaço pela noite mal dormida pesa-lhe as pálpebras. As servidoras colocaram um tecido branco sobre a tina  para manter a temperatura da água e saíram.

A cabeça girava, não conseguia ver o chão...seus pés não tocavam mais o chão. Seus pés tocavam a água, tocavam um rio, que lhe cobria os tornozelos...havia um homem na outra margem do rio, ele escrevia algo no chão...seus cabelos muito brancos, nada tinham a ver com idade, ele não era velho, suas roupas, uma túnica simples, mas presa pelos lombos com um cinto de ouro, elas eram manchadas de um vermelho vibrante...
_Ei! Olá!_chamou ela o homem do outro lado do rio_O que faz aqui?
O homem limitou-se a observá-la e sereno, sorriu-lhe.
_Esperava por você..._disse ele com voz pausada.
E apesar de jamais tê-lo visto antes, sentiu uma enorme e inesperada satisfação em vê-lo.
Queria atravessar o rio até à outra margem...
As águas já estavam dando em seus joelhos e mesmo assim prosseguiu andando...mais um pouco e chegaram até sua cintura...o homem permanecia à beira do rio, sorrindo...às águas tornaram-se profundas e davam sobre seus ombros e seus pés já não tocavam o fundo do rio...a correnteza era forte e a margem distante...estendeu a mão, e, sem palavras, pedia-lhe que a alcançasse...estava tão perto de alcançá-lo...quanto mais se aproximava mais afundava nas águas do rio...sentiu uma mão tocando seu rosto...ele sorria...

O Despertar da LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora