XVIII-Kalel

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O dia foi de intenso trabalho na aldeia, o muro já estava bem adiantado.
Os habitantes de Haloway estavam todos reunidos no refeitório para uma ceia coletiva.
_Vamos, será uma ótima chance de conhecer a todos de uma vez._disse Zoe animando o hóspede.
_Você não precisa temer, somos um povo amistoso, Príncipe  Kalel. _reforçou Zaira.
_Não tenho medo, e por favor, senhora Zaira, chame-me apenas de Kalel, aqui não sou um Príncipe.
_Só não ligue se um grandalhão chamado Zofar fizer uma centena de perguntas, ele acha que tem obrigação de nos proteger o tempo todo.rs...
_Não implique com Zofar querida, ele não faz por mal, realmente se sente responsável e isso é louvável.
_Reconheço suas qualidades mamãe, mas ele exagera...rs...

Todas as cabeças viraram-se para olhar o visitante que acabara de entrar ao lado de Zoe e sua família. A curiosidade estampava o rosto de todos em Haloway. Na verdade já sabiam de quem se tratava, que Kalel era um Príncipe, e isso alimentava ainda mais a imaginação de todas as garotas da aldeia. Zofar estava especialmente agitado àquela noite, não tirava os olhos de Kalel, ajeitando-se no seu lugar. A mesa de seu clã ficava ao lado do clã de Seth, o que o deixava bem próximo a Zoe.
_Venha Kalel, sente-se aqui, todas as famílias possuem suas mesas, é nossa forma de honrar a todos, um dia Haloway ficará pequena para tantos descendentes que teremos! _disse mostrando um lugar à mesa.
_Que isso torne-se real pra todos, senhora Zaira, rs...
_E saiba que todos são bem vindos aqui, nos tornamos um só povo quando decidimos viver juntos neste lugar.
_Acredito que vivam felizes...vejo isso no rosto de cada um, exatamente como era em Hagnamar...
_Kalel, tenho certeza que gostará da comida de Uadira tanto quanto aprecia a de mamãe..._disse Zoe sentada ao seu lado.
_O cheiro está maravilhoso!

O refeitório era um espaço muito grande, cabendo confortavelmente acomodados todos os moradores que ocupavam imensas mesas retangulares com bancos cumpridos feitos de cedro, arte dos habilidosos carpinteiros da família Chiang.
_Vamos! Não esqueçam de agradecer pela colheita e pela caça! _lembrou Seth, dando início às graças, curvando a cabeça.

_Vamos comer!_disse Uadira _Prove o guisado de gamo, esse foi caçado por Zoe.
_Não me disse que era caçadora, qual é sua especialidade? Não diga! Arco e flecha?
_Exato!rs...
_Você não viu nada! Nossa Zoe matou dois leões! Ela foi nossa campeã este ano.
_Uma competição! Com tantos guerreiros e você conseguiu!? Surpreendente...
_Você também acha que uma garota não deveria participar de caçadas!?
_Pelo contrário, garotas, rapazes, somos iguais quando usamos a arma corretamente.
_Uma mulher não pode com a força de um guerreiro._interviu Zofar.
_Realmente...é por isso que o treinamento ensina a usar a cabeça para suplantar a força bruta, lhe garanto que até um gigante pode ser derrotado por um menino, se este for esperto._respondeu Kalel.
_Se você estivesse inteiro, adoraria que tentasse provar o que diz..._provocou Zofar.
_Não preciso estar completamente recuperado para lhe mostrar isso...embora me sinta perfeitamente em condições.
_Guardem suas energias para lutas reais senhores, hoje é noite de render graças. Lutaremos quando necessário.

A ceia prosseguiu em paz e todos se confraternizaram com o Príncipe de Hagnamar como se já o conhecessem a vida inteira. Mesmo com uma pontada de tristeza por sua família não estar ali, conseguiu, por alguns instantes, sentir outra vez o que era fazer parte de um povo. Teve vontade de fazer por ekes o que não pode por sua própria  gente. Protegê-los da insana ganância de Mahlek e seu terrível exército.

As famílias voltaram cada uma às suas casas, porém a noite não acabaria tão calmamente assim...
Depois de deixar tudo em ordem, Uadira e outras mulheres com ela, fecharam o grande refeitório, felizes por todos saírem satisfeitos mais uma vez.
Mas, ao atravessarem a praça, notaram o barulho de cascos de cavalo batendo contra o solo, eram muitos. As luzes de Haloway iluminavam o campo ao seu redor, cerca de dez metros à frente, na sua circunferência, conferindo visão à torre de vigia. O guerreiro encarregado de montar guarda àquela noite, Cyrus, subiu depressa e percebeu a aproximação de um pequeno exército de mais ou menos vinte e sete cavaleiros. Soou o alarme, para que os outros se preparassem para um eventual confronto.

Eles vinham pela clareira, aparentemente sem intenção de esconder-se, aceleraram a marcha em direção a Haloway. Liderados por um forte guerreiro, que se pôs à frente do grupo, pararam diante do portão da aldeia.
A tensão tomou conta dos semblantes...
Todos já sabiam sobre Mahlek e seu ataque sobre Hagnamar, por isso havia o temor de que os guerreiros recem chegados fossem atacar.

Os guerreiros de Haloway a essa altura, já se encontravam em suas posições. Zoe e Kalel também se colocaram a postos.
_Você não precisa estar aqui, temos guerreiros o suficiente. _disse Zofar, dirigindo-se a Kalel.
_Acho que quando se trata de uma guerra,  ajuda nunca é demais.
_Zofar, não temos tempo para crises territoriais, enquanto estiver aqui, ele é tão halowee como qualquer um de nós._disse Zoe dando por encerrada a discussão.
_O que está havendo aqui._quis saber Seth.
_Há um grupo lá fora, diante do portão senhor._disse Cyrus.
_Não podemos abrir._considerou Zofar._não sabemos se são de paz.
_Há uma mulher com eles, ela e um guerreiro estão à frente dos demais._disse Cyrus.

A tensão pairava no ar e todos se perguntavam se Haloway estava preparada para um confronto com forças inimigas...aquela situação dimencionou a fragilidade da aldeia, estavam acostumados a guardar os limites contra predadores menores que o homem...nunca antes a maldade humana tentara cruzar os portões de Haloway.

Tochas iluminavam os semblantes dos guerreiros, que calmamente permaneciam em formação do lado de fora. Até que o grande guerreiro que vinha à frente, pronunciou-se.

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