Capítulo IV- Uma história estranha cai nas mãos de Alexia.

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* Esse capítulo narra a continuação da investigação da jornalista Alexia.


A imagem daquele homem baleado no shopping não conseguia sair da cabeça de Alexia. O segredo do desabamento foi enterrado junto a ele, pois ninguém quis falar mais nada; o medo prevaleceu. O o engenheiro Paulo Torres, responsável pelo edifício perdeu o registro profissional e respondeu por homicídio doloso. O assunto caiu no esquecimento e a opinião pública o condenou definitivamente. Três meses se passaram, Alexia seguia sua vida normalmente embora nunca se conformasse com aquele acontecimento. É fácil condenar as pessoas quando tudo conspira contra elas, eu já passei por isto e sei bem como é.

Alexia estava em um plantão de final de semana. A redação estava vazia, os repórteres de plantão trabalhavam na rua e ela por ser uma das mais experientes, ficou na chefia de reportagem. Recebia notícias de Barbara, uma repórter iniciante, que estava na apuração ligando para batalhões, delegacias e hospitais. 

Já era sete horas da noite, Mara, a editora de política berrava com um repórter que acabava de mandar a matéria para o seu e-mail.

- Isto são horas de você me mandar esta porcaria de matéria. Quer acabar comigo? Hoje é sábado e eu tenho marido!

- Opa! A noite vai ser quente! – Ria um repórter que saia para a casa, exausto enquanto passava pela editora.

- Desde quanto jornalista tem marido. Isto não faz parte do seu mundo! Veja a Alexia, competente e encalhada- disse Tucca aos risos.

- Ih sobrou para mim. Eu não estou encalhada, estou fechada para balanço. Antes só do que mal acompanhada.

Alexia não prestou mais atenção nas conversas que surgiram na redação. Estava compenetrada no seu trabalho e se desligou de tudo a sua volta. Lia notícias online, via os noticiários na TV, estava atenta às notícias que Bárbara lhe passava, orientava os repórteres que ligavam a todo o instante. Preocupou-se com uma estagiária que ainda não tinha retornado de um tiroteio em uma favela após a invasão da polícia. Quando o telefone tocou, ela pensou logo que fosse a garota pedindo orientações, mas o ninguém respondeu do outro lado da linha.

- Que mania estas pessoas tem de ligarem e não falarem nada.

- Falando sozinha, Alexia? Não acha que está na hora de ir embora. Não adianta fazer hora extra porque não vai ficar milionária com o jornalismo. A propósito, a estagiária já está voltando para a redação. Parece que o tiroteio acabou.- Afirmou Tucca.

- Graças a Deus! Estava preocupada com ela. Era a primeira matéria dela sobre invasões de comunidade.

- Até porque, ela é uma estagiária e se acontecesse alguma coisa nós estaríamos ferrados! Não quero nem pensar em processos.

- Mercenária! – Disse Alexia às gargalhadas. – Eu não faço hora extra para ficar rica.

Tucca era uma experiente jornalista. Já foi correspondente internacional, cobriu guerras, trabalhou em diversos jornais até ser contratada como editora-chefe do Diário Mundial. Tornou-se logo amiga de Alexia, pois admirava seu trabalho e paixão pelo jornalismo. Era ruiva, alta, tinha cabelos curtos e encaracolados. Ostentava um ar imponente, duas tatuagens nas costas e sempre usava roupas despojadas, motivo pelo qual era sempre criticada pela editora de moda. Ela achava que uma editora-chefe deveria andar impecável e não como alguém que parecia estar sempre caminhando no calçadão ou em um shopping à tarde. Tucca não ligava para aparência embora fosse uma bela mulher. Queria ser reconhecida pelo seu trabalho e não pela aparência.

Alexia mal completou a frase e o telefone voltou a tocar. Ela pensou em desligar, ouviu uma respiração abafada, resmungou algumas palavras e desligou. Já passava das oito horas da noite, depois de um exaustivo plantão, o caminho de casa seria mais do que bem vindo. Pegou a bolsa, desligou o computador até ouvir novamente o telefone. Ela pensou em não atender e saiu, mas alguma coisa dentro dela pedia para que voltasse. Respirou fundo, bufou, olhou para a redação praticamente vazia e fitou aquele telefone distante que ainda tocava. Quando todos saíram, uma inquietação se apoderava dela e sem pensar, Alexia o atendeu. Uma voz exasperada falou:

Vidas Roubadas- completo até 30/07Onde histórias criam vida. Descubra agora