Alexia ainda pensava naqueles dias que a trouxeram para a editoria de moda. Sentia falta do jornalismo investigativo e da satisfação que sentia quando ajudava a colocar criminosos na cadeia. Naquele dia, ela estava sentada a minha frente com um gravador na mão, atenta a tudo o que eu iria dizer. Desta vez Alexia não estava tão displicente como a outra vez, pois eu lhe daria uma boa matéria.
- Fale-me sobre sua infância, Joana.
- Eu fui feliz enquanto papai era vivo. Ele se chamava Alberto e morreu aos cinquenta e seis anos, vítima de infarto.Eu era tratada como a sua princesa, pois era assim que ele me chamava. Lembro-me de todas as vezes que ele me acordava com beijos na minha cabeça.Eu me sentia a pessoa mais amada do mundo.
- E a sua mãe? A relação de vocês era turbulenta.
Aquela pergunta me levou a um passado muito distante. Eu tinha sete anos e havia acabado de chegar da escola, toda suja devido às brincadeiras do recreio.
- Isso é jeito de se chegar em casa? Olhe sua irmã, sempre arrumada. Você está um lixo, garota.
- Mamãe, desculpe eu estava brincando no recreio e não pude evitar.
- Não sei como sua professora não lhe tirou de sala. Está uma porqueira. Você é uma porca mesmo.
- Isso lá é jeito de falar com a menina - Disse Alberto. Ela é uma criança e merece brincar. - Minha bonequinha, vá tomar banho e vire uma princesinha.
- Você só sabe mimar esta menina. Vai estragá-la deste jeito.
- Ela é uma criança, Marta.
- O meu pai me protegia dela. Quando ele morreu eu fiquei totalmente sem chão. Ele me ensinou tudo sobre a vida, conversava comigo e até quando eu comecei a namorar, falei com ele primeiro, acredita? As meninas sempre conversam essas coisas com a mãe, mas eu falava com o meu pai. Eu, ele e a Denise, minha irmã mais nova, eramos unha e carne.
- Por que éramos?
- Não quero falar sobre isso agora. - Respondi enquanto uma lágrima corria do meu olho. - Até isto a Bruna conseguiu matar, a nossa amizade. Ela sempre se empenhou em me tirar tudo e colocar todo mundo contra mim. Lembro-me de quando nós éramos crianças e fazíamos balé na mesma turma. Você acredita que ela roubou a boneca de uma grande amiga minha e pôs na minha mochila? Chamaram-me de ladra no meio da aula e a garota ficou quase dois anos sem falar comigo. Nunca me senti tão humilhada.
- E por que esta disputa toda?
- Não sei, a Bruna nunca prestou para dizer a verdade. No dia do meu aniversário de 18 anos a Marta me deu uma surra de presente por causa dela.Eu tinha saído com o Raul, meu primeiro namorado. Ele me levou para uma espécie de jardim, admiramos o luar e depois fomos para a casa dele. Tinha velas no quarto e pétalas de rosas vermelhas na cama. Eu era virgem e estava muito nervosa, pois não sabia como seria. Queria e ao mesmo tempo tinha medo, mas ele me tranquilizou e tivemos uma linda noite. Até que o dia amanheceu.
- Sua vagabunda, o que está fazendo aqui. Não tem vergonha?Seu pai vai adorar saber a verdade.
- Não mamãe, por favor, não conte nada a ele. Aconteceu e não tivemos culpa de nada.
- Não tiveram culpa? Que desculpa mais esfarrapada. Saia daqui agora!
- Foi uma vergonha. Ela pegou-me pelos cabelos e quando cheguei em casa apanhei de cinto.
- Ela contou para seu pai?
- Contou.- respondi com um nó na garganta. - Eu não queria que ele soubesse daquele jeito, mas ela estragou tudo. Foi uma glória para ela, que sempre quis envenenar nossa relação. O papai ficou quase um mês sem falar comigo.
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Vidas Roubadas- completo até 30/07
Misteri / ThrillerJoana é uma estilista que foi presa injustamente pelo roubo de um bebê. Ela conhece a jornalista Alexia, que interrompeu sua matéria sobre tráfico infantil, ao receber ameaças de morte. Quando elas se unem, enfrentam uma quadrilha que trafica crian...