A semana de moda de São Paulo foi uma espécie de sonho surreal para mim. Ver a minha criação desfilar perto das principais modas provocou em mim uma espécie de catarse. Eu jurava que aquilo não estava acontecendo comigo. A minha coleção ditará o que estará nas vitrines no próximo inverno, tudo o que saiu daqui, deste simplório ateliê na Tijuca. Ainda me lembro daquele galpão em Brás de Pina, lugar onde eu dei vida as minhas primeiras ideias, quer dizer as primeiras depois que eu saí daquele inferno de prisão.
Hoje, faço questão de ser uma patroa justa para com as minhas funcionárias, até porque eu sei muito bem o que é passar por dificuldades nesta vida e quero que todas trabalhem satisfeitas para mim.Eu também vou estar na Semana de moda do Rio e de São Paulo. Imagine, eu no meio daquelas marcas badaladérimas.
- Agora só falta um amor para a senhora. -disse uma das minhas costureiras, que trabalhavam.
Aquela palavra me atingiu totalmente, pois amor foi algo que eu pouco tive na vida. Nunca tive tempo de me apaixonar, só fui amada realmente pela minha irmã Denise e pelo meu pai. Mãe foi uma palavra que eu praticamente desconheci.
- Dona Joana, olhe! Não é aquela jornalista?- perguntou Zafira, minha costureira.
- Você novamente aqui. Pretende fazer outra entrevista?
- Digamos que você é um assunto não explorado totalmente. Podemos conversar agora?
- Para quem esnobava o meu trabalho e achava tudo uma futilidade. Vê-la aqui é uma grande surpresa.
- Sabe que eu nunca estive em um ateliê? - Disse enquanto olhava a sua volta. Admirou o esmero das costureiras e os desenhos de Joana que estavam em cima da mesa. - Este vestido é o sonho de qualquer mulher. Tão delicado e sensual ao mesmo tempo, acho que eu me sentiria feliz com um destes. Você realmente tem talento, menina.
- Obrigada, mas acho que não veio aqui para me elogiar. Já não descobriu tudo o que queria?Menosprezou-me com aquela entrevista, escreveu uma matéria superficial. Você já foi melhor, Alexia.
- Nossa! Você é sempre educada assim. Minhas matérias não são superficiais, pois sempre fui uma ótima jornalista e não admito que você fale deste jeito.
- Tudo bem, eu exagerei, desculpe. Olha, eu estou realmente ocupada, por que não volta outra hora?
- Eu não quero bater papo com você, menina. Sou muito ocupada. Mas tudo bem - Disse enquanto respirava fundo. - Eu volto sim. Amanhã às dez horas estarei aqui.
Alexia saiu bufando de meu ateliê. Tinha achado aquela entrevista uma perda de tempo, mas embora não quisesse admitir, minha história de vida a interessou. Na verdade, somos muito parecidas, pois lutamos por tudo o que conseguimos e nunca tivemos tempo para amar. Será que algum dia nós saberemos o que é isto? Estamos fechadas para o amor por motivos distintos. Eu, devido a um trauma sofrido na cadeia e ela por amar demais sua carreira.
Eu já estava acabando meu desenho, quando no dia seguinte ela apareceu atrás de mim com violetas na mão. Alexia tinha lido que eu adorava estas flores e não teve como eu não recebê-la com um sorriso. Ela estava desarmada e eu feliz demais com o desfile e a minha nova coleção.
- Vamos encarar como uma conversa? - Disse Alexia. Não queria que fosse tão formal como a última vez, pois acho que você tem muito a dizer sobre sua bela história de vida. Eu gosto de quem dá a volta por cima. Estas pessoas ajudam o mundo a andar para frente.
- Nossa, de mundinho fútil a gente que faz diferença. Mudamos muito. - Respondi com um sorriso sarcástico no rosto.
- Você é sempre assim? Armada com as pessoas? Parece que desconfia de todo mundo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Vidas Roubadas- completo até 30/07
Mystère / ThrillerJoana é uma estilista que foi presa injustamente pelo roubo de um bebê. Ela conhece a jornalista Alexia, que interrompeu sua matéria sobre tráfico infantil, ao receber ameaças de morte. Quando elas se unem, enfrentam uma quadrilha que trafica crian...