capítulo 5

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"Como isso era possível?" Danny perguntou, seus olhos nunca deixando o chão.
Ele ainda estava sentado ali na madeira dura, na posição exata na qual Alexander o
tinha prendido, apesar de Lars há muito os tinha enviado para fora da sala. Lars tinha a
esperança de que uma vez que seus irmãos houvessem ido embora, quando fosse apenas
ele e seu companheiro, que seria mais fácil para Danny. Ele esperava que alguma da
tensão terrível no quarto se dissiparia, mas ainda estava lá, palpável e real como a faca
com a qual ele tentou atacá-lo.
Alexander tinha tido o cuidado de removê-lo quando ele saiu, os olhos
transmitindo cautela a Lars para garantir que estava tudo bem para deixá-lo lá, como se o
guerreiro dentro dele desconfiasse em deixar seu irmão no que ele julgava ser uma
situação perigosa. Como se o seu companheiro fosse tentar prejudicá-lo.
Lars podia ainda lembrar do olhar de Danny quando havia se lançou para ele com a
faca.
Ele balançou a cabeça para limpá-la da memória, concentrando-se sobre a questão
que Danny apresentou. Mas ele não sabia a resposta. Ele olhou para seu companheiro,
impotente. Ele podia sentir o medo ainda saindo dele em ondas, assim como comovente,
se não mais, do que tinha sido em seu sonho.
Como uma criança assustada, Danny precisava de Lars para fazer o que ele sempre
fez de melhor, para ser a voz da razão, para acender as luzes e dizer-lhe que os demônios
que o visitaram durante a noite não eram reais. Que não havia nada no armário. Que não
havia nada debaixo da cama. Que era só na sua cabeça.
Exceto que Lars tinha visto, também.
"Você não sabe.” Afirmou Danny em silêncio. Ele não se preocupou em esperar
pela resposta de Lars, não havia sequer formulado como uma pergunta. "Pensei que era
supostamente um gênio ou algo assim."
"Não.” respondeu Lars, sofrendo com a maneira odiosa com a qual Danny cuspiu
as palavras. "Eu não. Sinto muito, mas não sou o maior especialista do mundo sobre a
partilha de sonho. Pelo amor de Deus, eu não sou um guia espiritual da Nova Era, eu sou
um estudante de psico." Ele parou frio. Pela primeira vez no que parecia horas, Danny
levantou os olhos para encontrar os seus.
"Você sabe o que a palavra psicologia significa?" Danny torceu uma sobrancelha
para ele. "Não?"
Lars indeferiu seu sarcasmo com um aceno de mão.
"Espertinho. Significa estudo da alma. Algo que muitas pessoas em minha
profissão gostaria de ignorar, mas..."
"E você?"
Lars suspirou, olhando para seu companheiro no chão. Até duas semanas atrás, ele
tinha sido um especialista em mascarar seus sentimentos e seus medos dos outros, para
manter a tempestade de suas próprias emoções ainda para que ele pudesse se concentrar
em seus pensamentos. Agora que ele tinha acasalado com Danny, não havia como
esconder dele, nem mesmo em sua própria mente.
Danny parecia instintivamente tomar posse de toda a sua incerteza, sua
ansiedade... e talvez do seu sonho.
"Há poucas pessoas no campo, não muitas, mas algumas, que acreditam que os
sonhos são uma janela poderosa para a alma humana.” Lars continuou. "A maneira que
certos motivos, certas imagens surgem de novo e de novo, através do tempo e distância
em diferentes origens culturais."
"O que você está dizendo?" Danny interrompido.
"Talvez eles estejam certos. Talvez os sonhos não sejam expressões do
subconsciente. Talvez eles sejam uma expressão da alma. E as nossas almas estão
acopladas agora."
"Jesus.” Danny se levantou e passeou pelo quarto, com as mãos dançando e
pulando ao seu lado.
Finalmente, ele parou na frente de Lars na cama.
"Bem, isso é uma merda para você, porque meus sonhos?" Ele balançou a cabeça,
culpa e ansiedade escritos em seu rosto. "Vamos apenas dizer que há muito mais de onde
este veio."
Lars sorriu fracamente para Danny quando seus pés levantaram novamente no
chão.
"Você sonha em matar seu amante lobisomem gay todas as noites?"
Danny se virou para ele, venenoso.
"Pare com isso! Pare de ser tão calmo sobre tudo!" Seu lábio inferior se contraiu,
e ele o mordeu para impedir a sua agitação. "Eu tentei matá-lo.” Ele sussurrou. Isso não
o machucou nem um pouco?"
Danny desabou sobre a cama, limpando furiosamente as lágrimas que
transbordavam abundantes em seus olhos. Lars foi para trás dele, colocando os braços
sobre os ombros, e seus soluços quebraram. Ele passou os braços apertados em volta da
cintura de Danny, que se sentiu idiota e agitando-se com cada novo soluço.
Lars alisou a mão sobre seu cabelo.
"Eu não tenho medo de você.” Ele sussurrou.
"Sim, bem, você deveria ter."
"Eu confio em você.” Disse Lars. "É o meu trabalho ler as pessoas. Às vezes, para
dizer se elas são perigosas ou não. E sou bom nisso. Mesmo quando não tiver um
gasoduto sobrenatural em seus corações."
O peito de Danny saltou. Ele não estava mais chorando, mas balançou a cabeça.
"Você sabe o que aconteceu antes de me encontrar? Eu fugi de casa porque não
aguentava mais ver o meu pai. Eu tenho problemas na escola e não queria vê-lo uma vez
que ele descobrisse."
"Você estava com medo do que ele faria com você?"
Danny sacudiu a cabeça.
"Estava com medo do que eu faria com ele."
"Você não é perigoso."
"Eu machuquei alguém.” Ele explodiu, afastando-se de Lars. "Entramos em uma
luta, e eu não consegui controlar meu lobo. Esse garoto, Kirk Schoenherr... por um
tempo, costumávamos brincar juntos depois da escola." Seu rosto ficou vermelho. "Foi
estúpido. Eu não queria... Eu só não quero me sentir tão sozinho. Você sabe?"
Lars concordou. Ele sabia desse sentimento.
"Então, um dia, sua irmã mais nova entrou e nós viu. Foi só por um segundo. Eu
nem acho que ela sabia o que estava vendo, com certeza, mas... foi o fim. No dia
seguinte, ele me encurralou no vestiário durante a aula de ginástica. Ele e seus amigos
estúpidos. Eles me chamavam de todo nomes estúpidos e ignorantes que existem. Bicha,
filho da puta, Esquisito... e foi o jeito como ele disse. Como se fosse a pior coisa que
poderia dizer. Como se ele não fosse um deles. Eu só bati.” Disse Danny, limpando seu
olho novamente. Ele apertou os olhos fechados. "Eu o agarrei e arranhei. Se eu pudesse
voltar e mudar... Eu não sei o que teria acontecido." Os ombros de Danny
estremeceram com outra longa convulsão. Lars queria tanto confortá-lo, mas Danny não
iria deixar tocá-lo. Agora, ele nem sequer olhava para ele. Ele tinha que chamar a
atenção dele, e só conseguia pensar em uma maneira de fazer isso.
"É por isso que tinha a faca de prata?"
Os olhos de Danny arregalaram.
"Eu não ia usá-la.” Disse ele defensivamente.
"Então por que você a tem?" Lars perguntou. "Você a trouxe para cá, certo? Nós
não guardamos prata na casa. E você nunca se livrou dela, mesmo depois."
"Eu estava guardando.” disse Danny, com dor em sua voz. "Eu não sabia se você ia
ficar cheio d mim e me chutar para fora. Então, onde eu iria? O que eu faria, voltar para
os meus pais? Eles me odeiam." Ele baixou os olhos para seu colo novamente. "Eu só não
quero ser um fardo para ninguém."
"Você realmente se odeia tanto assim?"
"Essa coisa não é comigo.” Danny retrucou. "E se você quiser me ajudar, você
poderia me ensinar como me livrar dela. Ou obter o inferno fora de mim antes que ele
te machuque de novo."
"Mas não foi o lobo que tentou me machucar." Danny deu-lhe um olhar duro. Ele
estava com raiva, mas estava ouvindo. Lars continuou. "Eu vi o que aconteceu antes que
você me atacou. Você não tinha mudado. Você era um humano e estava conversando
com alguém que se parecia com você."
"Você não sabe do que você está falando.” Danny resmungou.
"Sim, eu sei. Eu fiz minha tese de mestrado sobre instintos de sobrevivência em
pesquisa do sonho. Sabe o que eu descobri? Toda noite, quando as pessoas vão dormir,
eles revivem certas experiências do dia, repetindo-as, repetidamente, durante cada ciclo
REM, tentando refazer as coisas que errou durante o dia. Tentando fazer essas coisas
direito. Isso nos ajuda na maturidade, a adaptar melhor à sociedade. E para fazer isso,
temos que abrir mão de certas idiossincrasias. Quando você tem um pesadelo, o que
você está enfrentando é o instinto de se adaptar e amadurecer que deu errado. Por uma
razão ou outra, você percebe o mundo como uma ameaça. Você acha que ele está
tentando levá-lo a abrir mão de algo que você não pode deixar de ir. Ou mudá-lo de uma
forma que você não gosta."
"Com a forma?"
O coração de Lars se apertou. Ele não quis dizer a parte seguinte, mas o cientista
nele, aquele bastardo, tão encantado com seus próprios pensamentos e ideias, não
poderia ajudá-lo.
"Como o acasalamento comigo. Você se sentiu mudar quando isso aconteceu, não
foi?"
Danny assentiu.
"Eu acho que parte de você está resistindo a mudança. Violentamente." Danny
virou o rosto para cima quando Lars falou. Ele ainda não havia tocado, ainda não tinha
saído do lugar na cama, para onde ele havia fugido. Ele não precisava ir a um psicólogo
para descobrir o que estava acontecendo com ele. Todas as histórias de fantasia que seus
pais haviam lhe contado sobre o acasalamento tinha subido à sua cabeça, e ele tinha
deixado as coisas acontecerem rápido demais. Ele estava assustando-o.
Passou um longo tempo antes dele responder.
"Isso é besteira.” Disse finalmente. "Eu gosto de como me faz sentir."
Timidamente, ele se virou para Lars e colocou a mão em sua perna.
Ele ergueu os olhos para encontrar Danny, a esperança o percorreu.
"Eu também."
"Pela primeira vez na minha vida, eu sinto que gosto de quem eu sou. Gosto de
poder sentir que perto de você não me odeio o tempo todo. Mesmo a parte do lobo.
Especialmente a parte do lobo." Sua voz falhou de novo, enquanto ele continuava. "Você
estava certo antes. Eu odiava a mim mesmo. Eu só não sei por que iria querer me
pendurar em quem eu era quando aquilo me deixava tão infeliz."
Lars pensou nos meninos na lanchonete e na forma como tinham tratado Danny,
Kirk, o menino que ele tinha enganado, sobre seus pais e a maneira como parecia tratá-
lo, do jeito que tinha feito com nojo de si mesmo. Praticamente todos com quem Danny
havia entrado em contato tinham atacado-o de uma forma ou de outra. Era fácil ver por
que ele estava com tanto medo de tornar-se vulnerável. Ele provavelmente estava
esperando o outro sapato cair.

Danny na profunda Escuridão (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora