capítulo 9 pt dois

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movimentos de deslizamento. Aquelas mãos não pareciam querer parar de se mover
hoje. Não parecia que tinha dormido muito na noite anterior.
Danny se aproximou dela lentamente, com as mãos nos bolsos.
"Como você me encontrou?"
Ela encolheu os ombros recatadamente.
"Uma mãe sempre sabe."
"Será?" Danny perguntou. Ele não pode conter a nota tensa em sua voz. Ele
duvidou que sua mãe se preocupou em saber algo sobre ele nos últimos treze anos a não
ser para manter distância. "Eu acho que é mais do que você disse para mim desde que
Thomas morreu." Ela mordeu o lábio.
"Seu pai... ele não era a pessoa mais fácil de se conviver. Por muito tempo, deixei
ele me dizer o que penso, mas agora..."
"E agora?" Danny perguntou, seu rosto ficando quente na memória do que tinha
acontecido na noite passada. "Você está deixando-o? Você conversou duramente com
ele?" Ele quase teve de rir com a inutilidade do mesmo, na impossibilidade de falar com
esta mulher que era praticamente uma estranha para ele. "Você tem alguma ideia de
como ele é perigoso? Ele foi ruim antes, mas ontem à noite..."
"Eu sei.” Disse ela, interrompendo-o. Sua voz estava mais forte agora, quase um
rosnado. Rapidamente ela esboçou um sorriso educado em seu rosto.
"Você não precisa se preocupar mais. Eu cuidei dele." Danny não conseguia
imaginar sua mãe tomando conta de nada.
"Como?"
Ela não respondeu, apenas colocou preocupadamente as mãos nos bolsos do
vestido.
"Você pode vir para casa agora. É seguro."
"Eu tenho uma casa. Eu vou ficar aqui."
"Ele não vai voltar."
"Onde ele está?"
"E agora que ele se foi, podemos ficar e conhecer melhor um ao outro. Nós somos
tão parecidos, você e eu, nunca cheguei a dizer-lhe como."
Danny olhou para ela, tentando encontrar seu olhar, mas ela o mantinha longe de
seu alcance. Seus olhos estavam selvagens quando eles corriam ao redor, olhando para
trás para a floresta, atrás da casa.
O caminho, ansioso desconfortável ela continuou sorrindo, não se manteve fixa de
pé para pé e deixar as mãos dançarem ao redor, isso o preocupou. Ele reconheceu aquele
comportamento em si mesmo. Era como ele agia, quando ele se sentia culpado.
"Como você me encontrou?" Danny perguntou novamente, capturando o olhar
quando chegou mais perto dela.
"Eu segui o seu cheiro.” Disse ela lentamente. Cada músculo no corpo de Danny
ficou rígido enquanto digeria o que ela disse e o que isso implicava, mas ela continuou.
"Seu pai estava errado. Não é uma maldição, é um dom. Para nós dois. Ele me ajudou a
encontrá-lo."
"O que é?" Danny mordeu sua língua até poder jurar que sentiu o gosto de cobre
de sangue inundando sua boca. Ele poderia sentir a tontura se aproximando. Para nós
dois. Ele estava ouvindo direito? Ela disse aquilo tão simplesmente, com naturalidade,
como se ele devesse acolher a novidade de braços abertos quando em vez disso se sentiu
mal do estômago.
"O que é um dom?"
"O lobo.” Disse ela em tom simples. "Assim como o meu. Seu pai nunca entendeu
o que estávamos..."
"Será que ele sabe? Sobre você?"
Mais uma vez, ela manteve a boca firmemente fechada, dizendo a Danny tudo o
que ele precisava saber. Sua cabeça girava com a força das memórias ao longo dos anos,
agora coloridas de forma diferente à luz desta revelação. A forma como seu pai o havia
tratado e a forma como ela ficou atrás, vendo, mas nunca interferindo. Ele pensou que
ela tinha medo dele, de seu temperamento, que sempre ameaçava explodir em violência,
mas ela sabia que podia cuidar de si mesma. Ela devia tê-lo protegido. Ela deveria ter
sido sua confidente, deveria ter estado lá para entender, para conversar com ele sobre o
que ele estava passando, não excluí-lo todo esse tempo.
"Não importa. Ele já morreu. Eu te disse, eu cuidei dele."
Suas palavras cuidadosas cortaram Danny como uma faca.
"O que aconteceu?” Perguntou ele, mas ela não respondeu. "Onde ele está? Você
contou? Ele te deixou?"
"Eu disse a ele.” Disse ela calmamente. "Ele está morto."
"Você o matou?"
Ele praticamente cuspiu as palavras para ela, elas estavam tão pesadas na sua boca.
Ele não tinha o melhor dos relacionamentos com seu pai, tinha mesmo sentido
genuinamente medo dele depois da noite passada, mas não achava que ele poderia feri-lo,
muito menos matá-lo, mesmo vendo o que ele fez na noite passada. Quão ciente sua mãe
estava antes para não conseguir mostrar-lhe misericórdia? Provavelmente muito pouco,
pensou ele, vendo a expressão dela. Quando ela lhe disse, seu rosto havia mostrado algo
parecido com orgulho não, culpa.
"Eu pensei que você ficaria feliz."
Danny recuou, incapaz de ouvir.
"O que há de errado com você?" Danny viu a máscara de controle de sua mãe
desmoronar em uma expressão infeliz de dor.
"Errado comigo?” Repetiu, com a voz engasgada com as palavras. "Nada há nada
de errado comigo. Eu sou como você. Você sabe como nós somos. Nós somos animais.
Nós não podemos controlar nossos instintos. Nós temos essas necessidades, esses desejos
escuros, para ferir as coisas. Seu pai nos fez sentir tanta envergonha deles, mas não há
necessidade disso. Foi um acidente."
"Tal como com Thomas?"
"Sim!” Respondeu ela, seus olhos selvagens procurando seu rosto enquanto se
aproximou dele, agarrando sua camisa. Instintivamente, Danny se afastou, mas ela o
segurou apertado. "Isso é exatamente o que foi. Seu pai nunca teria entendido o que eu
fiz, mas você..."
"O que você fez?"
Seus olhos se arregalaram com o som de suas palavras repetidas, e suas mãos
escorregaram de sua camisa, alisando as rugas que ela deixou no tecido quando segurou
em seus punhos. Esfregou-os nervosamente, evitando seu olhar.
"Foi tudo há tanto tempo. Quem consegue se lembrar do que aconteceu?"
Durante muito tempo, aquilo tinha sido verdadeiro. Só em sonhos Danny lembrou
dos pedaços do quebra-cabeça que ele era agora capaz de reunir. Ele ficou congelado,
olhando para os olhos azuis gelados de sua mãe, o mesmo azul como os seus, quando a
memória do seu sonho caiu sobre ele.
Era outono, e em algum lugar distante, ele podia ouvir a mãe chamando-o. Era
para entrar para o almoço, mas ele não queria ir para dentro ainda. Lá fora estava tão
bom. Depois de meses de calor do Texas, as folhas estavam começando a trincar debaixo
de seus pés e ele tinha começado a sentir uma brisa bem-vinda em sua pele. Estava quase
frio, e ele puxou seus braços ao redor dele, sorrindo para seu irmão.
"Está frio.”
Thomas sorriu.
"Eu sei um truque para deixá-lo mais quente.” Disse ele. "Quer ver?"
Pela primeira vez, viu-o se transformar. Danny deu uma risadinha. Aquilo era
melhor do que brincar de fingir. Ele queria experimentá-lo, mas não conseguia descobrir
como. Era como tentar mover um músculo quando ele não sabia onde estava.
Thomas abanou o rabo e rolou de costas, chutando as pernas por cima dele de
brincadeira.
"Eu não posso.” Disse Danny, mas Thomas apenas Thomas impaciente.
Danny fechou os olhos, tentando se concentrar. Foi quando ele ouviu o rosnado,
baixo e longo, bem diferente dos sons lúdicos que o lobo de Thomas tinha feito. Este
parecia vir de algo grande, ameaçador e com raiva. Ele engasgou em seco quando abriu
os olhos e observou.
Não era um lobo fazendo aquele ruído. Era sua mãe. Apenas seus olhos não
estavam da cor azul de antes, eles eram amarelos e estreitos.
Seus dentes estavam descobertos, mas eles não se pareciam com os dentes normais
de qualquer um.
Eles eram mais nítidos, mais definidos e ele não conseguia parar de olhar para eles.
Ele não conseguiu uma boa olhada no entanto. Ela já havia começado seu ataque.
Em um flash de pelos e garras, ela agarrou Thomas, e entre os seus lamentos e
gemidos aterrorizados, Danny estava muito chocado ao ver que sua mãe também tinha
desaparecido em uma massa de pele, agora totalmente lobo, como seu irmão. Quanto
maior o lobo tinha empurrado o menor para o chão, arranhando-o, tentando empurrá-lo
para o chão a rasgar a sua garganta.
Um gosto amargo e horrível subiu na garganta de Danny conforme os
choramingos assustados de Thomas subiam em gritos humanos de dor conforme seu
corpo retornou, nu, tremendo, debaixo do lobo que o atacou.
Ele estava tentando formar palavras. Estava tentando dizer que não, implorar por
sua vida, mas as palavras pareciam não ter significado, não para o animal selvagem que o
atacou. Seu coração estava batendo forte, enchendo-o com a necessidade de correr, fazer
algo, mas ele era apenas um garoto. E não queria se machucar. Ainda assim, ele podia
sentir que precisava correr, transformando-o, transformando-o em outra coisa. Algo
mais forte. Mais capazes de proteger.
Em sua forma de lobo, ele correu para a mãe, a interceptou, tentando puxá-la
para longe de seu irmão, mas era tarde demais. Ele ficou imóvel e sangrando na grama.
Longos arranhões vermelhos escorriam pelo seu corpo. Carne pendurada, carnuda
vermelha e crua soltava de sua garganta dilacerada. E o lobo ainda estava lá, olhando para
ele, os ombros curvados, orelhas para baixo, arreganhando os dentes.
Ele tinha que sair.
Danny correu, tão rápido quanto podia, através da floresta. Ele correu,
apavorado, por sua própria vida, com uma velocidade e destreza que não sabia que ele
possuía. Ouviu o lobo maior atrás dele, mas logo, não ouviu nada além do snap snap de
folhas quando suas patas tocavam o chão com cada salto delimitador.
Quando ouviu seu pai chorando pelo bosque, ele voltou, querendo apenas ter
certeza de que ninguém ficou ferido. Ele retornou como um lobo, porque queria proteger a sua família, mas a partir do olhar nos olhos de seu pai, assustado e com raiva e
distante, ele não achava que ele iria acreditar nele.
Quando ele passou para trás, não podia fazer nada senão chorar. Soluços longos
escaparam de sua garganta, e ele estendeu a mão para seu pai, querendo-o segurá-lo, mas
ele não o deixava chegar perto. Ele sufocou a necessidade assim como sufocou a memória
do que aconteceu, deixando-a afundar para baixo e para baixo para os recantos mais
distantes do seu espírito a cada passo, pesado que o levou para a casa. No momento em
que seu pai o empurrou para o banheiro para se limpar, ele mal conseguia se lembrar por
que estava chorando.
Tudo o que ele viu foi o olhar de acusação no rosto pálido e a culpa em sua mãe.
"Eu me lembro.” O rosto de Danny endureceu, enquanto olhava para sua mãe,
afastando-se dela com o peso de sua revelação. "Eu não lembrava por tanto tempo, mas
agora eu sei."
Todo esse tempo, os sonhos que tivera, os demônios interiores que o
assombraram... ele lutou longa e duramente para superar a culpa do que tinha
acontecido com Thomas. Tinha quase lhe custou seu companheiro.
E agora, para perceber que não era culpa dele mesmo? Era quase demais para
suportar.
"Você o matou. Deus, esse tempo todo... você me culpou. Você me disse que eu
era um monstro, quando você..."
Sua mãe se agachou defensivamente.
"Eu nunca disse isso."
"Você nunca falou comigo! Você mal disse uma palavra para mim."
Ela fez uma careta.
"Eu não podia arriscar que ele descobrisse. Você sabe o que ele teria feito
comigo."
"Provavelmente as mesmas coisas que ele fez para mim. Só que você era muito
covarde para lidar com isso."
Suas sobrancelhas juntaram com raiva, e ela zombou dele.
"Uma covarde?" Ela rosnou, os olhos piscando em amarelo. "Você sabe com
quem está falando?"
"Eu sei agora."
Seus olhos se estreitaram com o tom gelado da voz de Danny.
"Eu pensei que você, de todas as pessoas, iria entender."
"Compreender o quê?" Danny chorou. "Que você preferir fazer o seu filho pagar
por seus erros do que..."
"Não erros. Instintos.”
Danny podia sentir as ondas de calor de indignação lambendo seu rosto.
As discussões com seu pai sobre controle podiam tê-lo deixado miserável, mas no
momento, ele era grato por sua mãe ter mantido a boca fechada.
Ele não queria pensar no que teria acontecido com ele se o tivessem ensinado que
seu lobo tinha a desculpa para executar pessoas, quando estivesse selvagem e com mágoa.
"Os lobos não matam seus filhotes.” Disse ele. "Isso é algo que você decidiu por
conta própria."
Um riso bem silencioso foi emitido pela garganta de sua mãe. Sua expressão era
fria e sinistra.
"Não?” Ela disse, as palavras desaparecem em um grunhido quando se transformou
em sua forma de lobo.
Danny recuou quando viu sua mão por um em sua direção, orelhas apontadas em
ambos os lados da cabeça, dentes à mostra, corpo rígido e pronto para atacar. Danny
tinha passado toda a sua vida na sombra de culpa da crença de que ele matou seu irmão.
Só recentemente conseguiu tirar esse peso. O que quer que sua mãe havia feito, ele não
achava que poderia viver com a culpa de outra morte em suas mãos.
Ele podia correr, poderia se transformar e correr. Ele tinha sido mais rápido do
que ela antes.
Ele podia correr mais que ela agora. Mas o que aconteceria com sua nova família?
O que lhes aconteceria se ele fugisse, deixando-os para trás?
Ele não teve tempo para considerá-lo antes que um coro de grunhidos explodiu
atrás dele. Sua mãe deslizou as patas à sua frente em defesa, as orelhas caindo para trás.
Ele estava tentando se segurar no chão com sua mãe lá, mas tinha a sensação de que não
importa o quanto olhasse, ele ainda não estava intimidando o suficiente para provocar
esse tipo de reação. O que quer que estava atrás dele devia tê-la assustado muito, e ele
quase pulou quando sentiu pelo contra a mão quando uma besta rosnando veio
protetoramente para o seu lado.
Lars. Graças a Deus. Seu companheiro estava ao lado dele, emitindo um rosnado
baixo de advertência que fez sua mãe perder o chão, fugindo de volta sobre as patas
traseiras, mas aquele não era o único som que ouvia. Ele olhou por cima do ombro e seu
peito inchou com o que viu lá. Uma família. Sua família. Seu bando.
Ele levantou a cabeça quando virou de volta para sua mãe.
"Você não pode me machucar.” Disse ele. "Eu tenho um bando agora. Se você
tentar me machucar, terá que responder a todos nós. Porque nós cuidamos uns dos
outros."
Sua mãe gemia, sua cauda diminuindo em uma pose submissa. Suas patas dianteiras
cravadas no chão, quase como se estivesse implorando.
"Você não é bem-vinda aqui.” Disse Danny. "Se você voltar, se tentar nos
prejudicar..."
Lars saltou na frente dele em uma explosão de dominância. Atrás dele, Danny
ouviu os grunhidos dos outros. Sua mãe se afastou novamente, retirando-se para as
sombras das árvores que ladeavam o caminho de cascalho.
Com um último olhar, ela virou a cauda e escapuliu para longe.

Danny na profunda Escuridão (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora