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Raymond sentou na cadeira almofadada do estúdio de rádio e esperou em silêncio enquanto o locutor do programa anunciava a sua presença. Estava frio por conta do ar condicionado e seus dedos quase não sentiam o toque da madeira lisa da mesa, mas mesmo assim Ernest continuou sorrindo. Ninguém podia vê-lo, mas era importante. Simpatia era a chave de quase tudo.
Quando Raymond percebeu, era a sua vez de falar. Ele buscou a voz no fundo da garganta e pigarreou:
— Boa tarde, Alan. É um prazer estar aqui!
O outro concordou e também sorriu, seguindo adiante com a entrevista:
— Você é Raymond Ernest, autor do best-seller mundial Os sete psicopatas, que foi lançado há alguns meses — mas isso todos em Nothern Lake já sabem — riu, logo acrescentando: — Você é o orgulho desse pequeno vilarejo!
Raymond agradeceu. Alan continuou:
— Você pode nos contar um pouco sobre a história do livro?
— É a história de um hospital psiquiátrico localizado entre as montanhas, distante de tudo e de todos. Na ala feminina, existem sete pacientes, em especial, que desenvolvem um plano de fuga. As sete usam a noite para se vingar dos enfermeiros que as maltrataram durante os anos em que estiveram internadas. Dentro desse grupo há todos os tipos de mulheres, com todas as idades e níveis de demência. A história narra essa noite de terror vivida pelos funcionários, além de contar os relatos pessoais de cada uma das sete psicopatas.
Quando Raymond terminou, Alan o olhava vidrado. Parecia um fã.
— Uau! Arrepiante! — comentou — Eu li o livro todo em uma noite e posso dizer que não há nada parecido no mercado. É genial.
— Obrigado.
— Mas, diga-me, Raymond, haverá uma continuação? Escutei boatos por aí e queria aproveitar a sua ilustre presença para esclarece essa dúvida.
— Sim, sim, Alan, haverá. Já comecei a escrever e não deve demorar muito — mentiu.
Raymond só conseguia pensar em Brian e em como ele ficava furioso quando o escritor negava novos projetos. O agente dizia que era um assassinato às esperanças dos fãs, e Raymond precisava de seus fãs.
— Já tem um título? — Alan perguntou.
— Tenho, mas é segredo — riu.
Alan concordou e deu continuidade à entrevista, perguntando curiosidades sobre a história, detalhes de sua vida pessoal e pedindo para que Raymond chamasse a próxima música. Quando a entrevista acabou, o escritor agradeceu ao velho amigo pelo convite e saiu do estúdio, encontrando Brian no corredor encarpetado do prédio. Ele segurava um copo de café em cada mão e parecia orgulhoso.
— Você se saiu bem — parabenizou — Desviou das perguntas sobre a separação de forma delicada e não se exaltou.
Raymond pegou um dos copos.
— Eu sei o que eu faço, Brian. Vivi sem um agente por muito tempo.
— Eu sei disso. Até porque a sua carreira está um lixo.
— Ha-ha. — ironizou — Minha carreira está ótima.
Quando Raymond bebeu o liquido quente dentro de seu copo, praticamente o cuspiu para fora. O gosto era horrível.
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7 Psicopatas (COMPLETA ATÉ DIA 25/11)
HorrorRaymond Ernest é um escritor decaído. Depois de criar um thriller que vendeu milhares de cópias pelo mundo, ele se encontra em um profundo bloqueio criativo, não tendo inspiração nenhuma para escrever. Enquanto tenta superar a crise literária...