🌳
Parado na recepção do grande Hotel Nothern Lake, Raymond Ernest não conseguia fazer a mente parar de girar entre assuntos desconexos. O primeiro deles foi sobre o nome extremamente criativo do lugar; o segundo foi sobre como não poderia reclamar. Os outros hotéis da região não tinham nomes melhores e muito menos eram mais aconchegantes. Todos seguiam um padrão enjoativo composto de madeira e lareiras decorando todos os pequenos quartos no formato de chalés. Aquele era o único lugar em toda a Nothern Lake que Raymond poderia dizer, com toda a certeza, não ter a cara daquela vila quase pacata. Era moderno e cheio de vidros em uma construção típica de cidades grandes. No térreo havia até mesmo uma piscina com guarda— sóis espalhados ao seu redor, um bar convidativo e muito espaço sobrando uma vez que o frio nunca deixaria ninguém ao menos chegar perto da água.
Talvez aquele fosse o motivo das diárias daquele lugar serem tão caras. Só pessoas malucas e extremamente ricas teriam a insana ideia de se hospedar em um local no qual não se pode usufruir de nada que é realmente convidativo.
— Você vai ficar bem por aqui — Brian apareceu ao seu lado. Carregava a mala do escritor e olhava para as chaves do quarto reservado. — Te busco pela manhã, assim poderemos ver o estado do seu chalé com mais calma.
Raymond concordou com a cabeça, sem muita reação. Não acreditava no que tinha acontecido. Não de verdade. Mesmo que ainda sentisse o cheiro de queimado, tudo parecia irreal. Seus pertences espalhados sob a crosta negra e grossa das cinzas que antes fora a sua cabana certamente era algo horrível demais para se acreditar.
— Ei, cara, vai ficar tudo bem. Eram só bens materiais — Brian bateu em seu ombro — O importante é que você está bem.
O escritor não conseguiu concordar. Pegou a sua mala e seguiu para o elevador, onde se sentiu ligeiramente melhor quando isolado. Ainda pensava nas palavras dos bombeiros, que pareciam jovens demais para culpar a lareira sempre bem aquecida de Raymond pelo incêndio que destruiu o seu lar.
Raymond subiu os andares pensando na hipótese de sua morte. Aquela na qual comprar um celular descartável não existisse e, dormindo, seu corpo fosse tomado e queimado pelas chamas que antes o forneciam segurança. Ele morreria ali, ou, heroicamente, acordaria e conseguiria conter o fogo; nunca iria saber. Só sabia que, sem explicações ou avisos prévios, a sua preciosa cabana virara um amontoado de cinzas em meio à floresta verde e escura de Nothern Lake.
— Eu teria mais cuidado com o fogo, se fosse você.
O escritor acordou para a voz da moça encostada do outro lado do elevador. Estava tão distraído que não percebera sua presença até que ela continuasse a fala, brincando com o isqueiro em suas mãos:
— Ele não é amigável com todos.
Ele escolheu não responder. Por algum motivo, os cabelos escorridos, escuros e brilhosos dela pareciam ameaçadores quando combinados com os olhos verdes. Havia algo... estranho, ali. Raymond saiu assim que a porta do elevador se abriu e seguiu direto para o seu quarto. O corredor do hotel era longo, amarelado e escuro. As portas de madeira avermelhadas estavam polidas e ainda cheiravam a lustra— móveis, o chão desenhava um caminho de formas florais até o fim do trajeto. Raymond colocou a chave que recebera de Brian na fechadura e suspirou junto com o barulho da porta se abrindo.
Quando olhou para trás, a porta do elevador ainda se fechava. A mulher acenou para ele.
Raymond tomou um banho e depois se encolheu na grande cama do quarto, rodeando— se de almofadas e tentando fazer com que o barulho dos raios em meio à tempestade ficasse mais baixo. A chuva parecia não ter fim. A janela de vidro mostrava toda Nothern Lake morro abaixo, a piscina do Hotel transbordando pelo excesso de água e as nuvens carregadas que chegavam aos montes com a intenção de ficar. Era um clima infernal.
VOCÊ ESTÁ LENDO
7 Psicopatas (COMPLETA ATÉ DIA 25/11)
HorreurRaymond Ernest é um escritor decaído. Depois de criar um thriller que vendeu milhares de cópias pelo mundo, ele se encontra em um profundo bloqueio criativo, não tendo inspiração nenhuma para escrever. Enquanto tenta superar a crise literária...