🌳
Quando Sara e Raymond passaram pela porta de entrada, olhares se voltaram para eles. Toda a imensidão branca encardida, os funcionários em uniformes e os pacientes sendo movidos pararam o que estava fazendo para encarar o escritor e a mulher misteriosa. Os dois esperaram palavras, explicações ou gritos, mas nada veio. Tudo o que restou fora a confusão sobre a recepção.
Sara foi a primeira a balançar a cabeça e voltar a se movimentar. Ela andou até o balcão principal e pediu para que Raymond não a acompanhasse. Quando falou com a recepcionista, o escritor percebeu que ela apontou para ele com a cabeça, e foi só então que a outra cedeu, levantou— se de seu banco, deu a volta e parou ao lado de Sara, mandando-a acompanhá-la. Raymond as seguiu sem ser convidado, curioso.
— Como ficaram sabendo disso?
Estavam no fim de um corredor quando a recepcionista fez aquela pergunta. Na etiqueta presa do lado esquerdo de seu uniforme, Raymond leu "Vivian Earles" e percebeu que ela também era uma das personagens de seu livro. Ao contrário das psicopatas, era inofensiva, sendo apenas uma coadjuvante.
— Só... Sabemos. — respondeu Sara, com um sorriso presunçoso.
Raymond acordou de seu transe e balançou a cabeça. Sara, confiante ao seu lado, era um contraste alarmante em relação à confusão presente na postura e nos trejeitos do escritor — algo que foi quase motivo de risada quando ele perguntou:
— Sabemos do quê?
— De que sete pacientes sumiram deste hospital — respondeu Sara como se contasse com aquela pergunta.
Vivian olhou— os encabulada, como se estivesse sob algum tipo de ameaça.
— Eram sete das piores psicopatas que tínhamos aqui e a polícia quis manter isso em segredo. — Fez o sinal da cruz, pronunciando um "amém" — Ninguém queria pânico.
Só então Raymond deixou cair as fichas que diziam que as coisas estavam indo por um caminho muito diferente dos livros. Ele não se lembrava de deixá-las fugir em algum momento. Preferiu matá-las a permitir que aquilo acontecesse. Mesmo na ficção, tinha medo do estrago que poderiam causar.
Raymond entrou em desespero.
— Vocês deveriam contar! — pestanejou o escritor, agitado — As pessoas poderiam se proteger, evitar sair sozinhas. Esconder não ajuda em nada! O que tinham na cabeça?!
Vivian pareceu se sentir culpada. Devia estar pensando em todas as pessoas que tinham morrido por causa das fugitivas e no que poderia ter feito para evitar que as tragédias acontecessem. Assim como Raymond, no fundo achava que com um alarde, com o aviso de que estavam por aí e eram perigosas, as pessoas poderiam se proteger; já Sara, pesar de concordar em alguns pontos, não queria que aquilo acontecesse. Se a situação com as psicopatas virasse assunto internacional seria muito mais difícil de alcançá-las. Crawford precisava delas acessíveis para mandá-las de volta para o livro de Raymond.
— Sr. Ernest — começou Vivian. Ela tremia embaixo de suas palavras —, se alguma daquelas psicopatas quiser matar alguém, nada, nem prevenção e nem companhia, a impediria.
Aquilo fez Raymond ficar sem respostas. Ele engoliu em seco e não conseguiu se mexer quando Sara e Vivian voltaram a andar pelo corredor. O homem ficou estático, pensando no que aquilo significava para a própria segurança e a da sua família, e as outras passaram por uma porta logo no fim do caminho, qual se dividia em duas partes e tinha uma placa escrita "Ala C" sobre o batente.
Sozinho no corredor, Ernest olhou por sobre os ombros e percebeu a locomoção no salão de entrada. Se fechasse os olhos e se concentrasse, poderia escutar o som dos gemidos e dos gritos dos pacientes nos quartos ao redor. Raymond pesquisara muito sobre manicômios quando começara a escrever o seu livro, portanto tinha uma ideia do tratamento e das perversidades pelas quais os pacientes passavam, mas, aquilo... Aquilo era o Instituto Robert Ryan. O lugar que, nascido da parte mais perversa de sua mente, fora a casa das suas setes psicopatas, o lugar onde tudo era movido a extremidades cruéis.
![](https://img.wattpad.com/cover/42070412-288-k6781.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
7 Psicopatas (COMPLETA ATÉ DIA 25/11)
HorrorRaymond Ernest é um escritor decaído. Depois de criar um thriller que vendeu milhares de cópias pelo mundo, ele se encontra em um profundo bloqueio criativo, não tendo inspiração nenhuma para escrever. Enquanto tenta superar a crise literária...