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— Você vai ficar aí, olhando, sem fazer nada?
A expressão de Sara poderia ser classificada como desacreditada. O escritor, por sua vez, permanecia com as costas apoiadas no ladrilho frio das paredes do banheiro, tentando com todas as suas forças não surtar diante da cena que presenciava.
Sara Crawford aparecera no quarto de hotel dele trinta minutos depois de o escritor achar o corpo dentro de sua banheira. Ele não sabia o porquê, mas havia pensado em chamá-la antes mesmo de chamar a polícia. É claro que, sem o telefone da mulher, ele não tinha meios de contatá-la, mas, de alguma forma, ali estava ela. Ernest havia apenas pensado em Sara e a mulher misteriosa que parecia ter virado a sua vida de cabeça para baixo havia literalmente se materializado na sua porta, com um saco preto de lixo nas mãos e os longos cabelos loiros presos em um rabo— de— cavalo.
— Eu... — Raymond gaguejou ao responder. Todo aquele sangue fazia o seu estômago girar — Eu não sei o que poderia fazer para ajudar.
O escritor nunca pensou que tirar um cadáver de seu quarto de hotel poderia ser um dos problemas de sua vida, mas ali estava a situação: uma garota morta em sua banheira. E uma viva tentando se livrar da morta. Parecia um eterno nó em seu cérebro.
— Você pode pegar os braços dela. — respondeu Sara — Eu fico com os pés.
— Espera... O que você vai fazer?! — perguntou, aproximando-se, vendo-a não o levar tão a sério quanto ele desejava.
— Vou sumir com o corpo.
Raymond automaticamente imaginou Sara dirigindo com o corpo morto em seu porta-malas, procurando pela cidade um lugar afastado o suficiente para poder se livrar da carga.
— Não, não vai.
— Você quer mesmo estar ligado a dois assassinatos diferentes em menos de dois dias? Eu não iria querer se estivesse em seu lugar.
— É claro que não! Mas não podemos simplesmente deixá-la em um beco frio e isolado. Nós nem sabemos quem é.
— Eu não iria deixá-la em um beco frio e isolado — garantiu Sara, e Raymond suspirou aliviado antes dela completar: — Eu iria deixá-la na floresta, onde um caçador a encontraria mais cedo ou mais tarde.
— Isso não pode estar acontecendo — o escritor passou a falar consigo mesmo enquanto passava as mãos pelos cabelos, voltando a sentar no chão gelado e tentando pensar no que havia feito para merecer que todas aquelas coisas ruins estivessem acontecendo com ele.
— Ok, olha, tente se lembrar de tudo o que aconteceu. — Sara se ajoelhou ao seu lado — Tente se lembrar quem é essa garota morta dentro da sua banheira, ok? Você disse que a camareira estava no seu quarto quando saiu. Tem certeza de que não é o corpo dela?
— Tenho. Ela tinha o cabelo castanho. Essa menina é ruiva.
— Se parece com alguma personagem do seu livro? A camareira, digo.
Raymond levantou os olhos, fincando-os na porta de madeira do banheiro. Tentou se lembrar do rosto da mulher, mas todos os traços fugiam de sua memória, independente do esforço que ele fazia. Sara percebeu que o escritor não se recordaria tão cedo e caiu sobre os joelhos, sentando no espaço ao lado dele.
— Olha, eu sei que isso é péssimo, mas não posso deixar que te prendam. Não agora. Precisamos nos livrar do corpo antes que alguém veja. Entende isso? — perguntou ela.
— Por que você se importa? Nem me conhece.
Ela sorriu para ele. Um sorriso de certa forma triste, como se houvesse algo que precisasse falar, mas não pudesse.
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7 Psicopatas (COMPLETA ATÉ DIA 25/11)
TerrorRaymond Ernest é um escritor decaído. Depois de criar um thriller que vendeu milhares de cópias pelo mundo, ele se encontra em um profundo bloqueio criativo, não tendo inspiração nenhuma para escrever. Enquanto tenta superar a crise literária...