Havia uma coisa que o mundo não sabia sobre Florence Carter. Uma coisa que, posteriormente, ajudou a polícia em sua captura; a única coisa que ela lutou para que ficasse escondida do mundo: o seu medo do escuro.
Florence não suportava a escuridão. Em sua casa, a polícia encontrou cômodos repletos de luzes led pregadas nas paredes e em pontos específicos. Dentro dos armários, pares extras para a troca de qualquer lâmpada que pudesse queimar estavam espalhados pelas prateleiras. Carter também guardava lanternas perto da cama, embaixo dela e em compartimentos secretos.
Em sua cela do Instituto Robert Ryan, se as luzes não ficassem acesas, ela surtava. Algo que acontecia muito, afinal os funcionários não podiam priorizar Carter e deixar as outras pacientes dormindo com a luz acesa. Era preciso disciplina naquele lugar, e até que eles entendessem que o comportamento da psicopata não iria mudar Florence passou muitas noites na solitária. Era a punição que ela recebia pelos socos que dava nas paredes e pelas frases sujas e desesperadas que gritava atrás das barras da pequena janela do seu quarto. O escuro a aterrorizava tanto que ela não ligava para a dor física que teria que enfrentar pela desobediência: se os gritos fizessem com que os funcionários a tirassem da cela, estaria tudo bem. O caminho até a punição era composto por seis corredores iluminados que acalmavam a sua alma.
As terapias que deveriam ajudar Florence a superar aquele medo feroz não funcionavam. A psicopata se recusava a falar sobre ele. Ficava o tempo todo sentada em sua cadeira, com as algemas nos pulsos, passando os olhos arregalados pelo chão enquanto a sua psiquiatra tentava alcançá-la de algum modo, mas todas as sessões falhavam. Florence era tirada do consultório, levada para a sua cela e depois castigada por não cooperar, sendo obrigada a voltar na semana seguinte só para sofrer tudo de novo. Seu corpo já não guardava espaço para mais cicatrizes; sua cabeça estava uma loucura. Tudo o que ela pensava era em como precisava sair dali, fugir daquela escuridão.
Os planos de fuga que passavam pela cabeça de Carter, porém, não eram bons o suficiente. Todos estavam de olho nela, no Mar Vermelho. Seu passado nunca permitiria que a segurança a respeito de si diminuísse, porque todos lhe diziam que ela tinha a alma mais atormentada daquele lugar. Algo que ela não poderia discordar. Não era conhecida como Mar Vermelho por conta dos fios cor de sangue que compunham o seu cabelo. Não. O motivo era bem pior - quase uma lenda -, e passava bem longe do contexto bíblico que maioria das pessoas acabavam pensando. Carter tinha aquele apelido porque ao decorrer de dois anos, durante o período em que surtou com mais ênfase, viajou por um terço das cidades dos Estados Unidos e, onde passava, parava em restaurantes, trancava as portas e atirava em todas as pessoas que estivessem por lá. Em um dos restaurantes, um dia antes de ser capturada, estava acontecendo a festa de aniversário de uma garota de doze anos que nunca passou daquela idade.
Thomas White, assim como fez com a temida Black Angel, capturou Florence. Seguiu-a por semanas com o seu próprio carro, cortando a América do Norte para interceptá-la, e conseguiu. Então levou-a a julgamento, viu-a ser diagnosticada e internada e então nunca mais teve coragem de olhar para toda a dor que o Mar Vermelho causou. O detetive nunca se esquecia das fotos tiradas nas cenas dos crimes que Florence cometia: a mulher amava a cor escarlate e sempre se esforçava para deixar tudo coberto por aquele tom.
Carter encontrou seu fim junto com as outras seis psicopatas no incêndio que destruiu o Instituto Robert Ryan. Sozinha em sua cela, na escuridão, morreu depois de perder as unhas das mãos para as paredes de concreto do lugar que lhe servia de prisão. Ela mesma as arrancou para ver o vermelho uma última vez, já que seus cabelos tinham sido raspados uma semana antes, como punição.
E então ela nunca mais teve medo do escuro.
...
CONTINUA
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7 Psicopatas (COMPLETA ATÉ DIA 25/11)
TerrorRaymond Ernest é um escritor decaído. Depois de criar um thriller que vendeu milhares de cópias pelo mundo, ele se encontra em um profundo bloqueio criativo, não tendo inspiração nenhuma para escrever. Enquanto tenta superar a crise literária...