12 - Os Cantos Sombrios da Mente

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     Quando a porta se fechou atrás de Raymond e Sara, os dois ainda estavam de mãos dadas. Imersos na escuridão total de um cômodo desconhecido, sentiram medo. O tipo de medo que faz o coração latejar nos ouvidos e suor frio escorrer pelas mãos trêmulas. Sabiam que aquele era um caminho sem volta.

Deram um passo à frente, e com isso um estalo ecoou pelo lugar. A profundidade do som os deixou confusos porque, de repente, o cômodo parecia incrivelmente maior, como se estivessem em um galpão. Eles olharam para trás — para a porta por onde passaram — , mas ela não estava mais lá. Tudo o que os cercava era pura escuridão.

Deram continuidade à caminhada lenta. Por mais que estivessem apavorados, não podiam ficar parados e esperar pelo pior. Tinham que fazer alguma coisa. Sabiam, de alguma maneira, que aquele quarto com o número oito era uma pegadinha, um truque. Eles nem precisaram falar nada em voz alta para chegar à conclusão de que nada do que vissem ali dentro seria real. Por outro lado, foi difícil não acreditar nos próprios olhos quando uma luz se acendeu no meio do cômodo, formando um círculo perfeito ao redor de uma cama de hotel. Raymond e Sara se entreolharam, engoliram a seco e continuaram andando até que estivessem perto o suficiente para ver quem dormia no meio dela. Era Raymond.

O escritor tinha o antigo celular ao lado do travesseiro. No visor, a foto de sua filha brilhava atrás de um aviso de sete chamadas perdidas. Havia garrafas de bebida no meio dos lençóis e bitucas de cigarros perto de suas mãos. Raymond, o verdadeiro, pegou o telefone para atender ao chamado, mas a linha estava muda.

— O que...

Antes que o escritor pudesse terminar de falar, a figura sobre a cama começou a sangrar. Todos os lençóis e travesseiros ficaram manchados e derreteram em líquido vermelho como se sangrassem também, até que todo o chão virasse uma grande poça com cheiro metálico subindo cada vez mais.

Em poucos segundos o sangue batia em seus joelhos, e, então, em seus braços. Até que estivessem submersos.

Sara e Raymond respiraram fundo, pensando que morreriam ali, naquele momento. Então olharam para o feixe de luz ainda aceso ao redor de onde estava a cama e nadaram na direção de sua origem. Quase perdiam o ar quando chegaram à superfície. Raymond colocou a cabeça para fora da água e procurou por Sara para saber se ela estava bem, mas se encontrou sozinho em uma banheira branca de porcelanato transbordando sangue.

O escritor limpou o rosto, sentindo um gosto amargo na boca, e levantou o mais rápido que pôde. Saiu da banheira, recuou para perto das paredes e localizou uma porta à sua esquerda. Tentou abri-la, mas ela não se mexeu. Ao invés disso, o barulho da água transbordando sobre o chão o fez virar e encarar a banheira de novo. Ela não estava mais vazia.

Dentro da água agora suja de terra, o corpo de uma garota boiava. Ela tinha os olhos abertos e brancos e a pele roxa. Seus dedos estavam inchados e seguravam a borda da banheira com demasiada força. Raymond se aproximou e se ajoelhou ao lado dela. Seus traços eram familiares, delicados. O escritor sabia que já a tinha visto em algum lugar.

— Socorro! — alguém gritou.

Quando Raymond virou, a mesma garota estava encolhida atrás da pia do banheiro. Viva. Ele se levantou para ajudá-la, mas algo segurou o seu braço. Era a mão inchada do corpo na banheira. Ele se assustou e tentou se livrar do aperto dela, mas era forte, muito forte, e quando o homem percebeu tinha uma pedra amarrada nos calcanhares que o impossibilitava de andar.

Ele finalmente a reconheceu. Era a garota que ajudou a esconder no lago. A garota que devolveu para a Colecionadora. A menina desaparecida de Nothern Lake.

7 Psicopatas (COMPLETA ATÉ DIA 25/11)Onde histórias criam vida. Descubra agora