Leon
Os próximos dias eu vigiei a garota bem de perto. Eu poderia mandar alguém fazer isso por mim, mas achei necessário conhecer todas as faces da minha futura noiva. Eu não era do tipo idiota que não saberia dizer o que a noiva gosta de fazer ou sua cor preferida.
Só que não tinha muitas coisas a descobrir sobre ela. Em uma semana eu já conhecia sua rotina chata e sua vida pobre.
Ela acordava cedo e saia de casa às 6h30 da manhã, pontualmente. Ela não atrasava nem um minuto. Se eu olhasse em meu relógio e constatasse que elas estava dois minutos atrasada, poderia arruma-lo. Seria meu relógio que estaria errado.
Ela mora nos fundos de um academia. Um lugar horroroso, localizado em uma rua sem saída, em uma das favelas de São Paulo. A academia em si já é um horror. Fiquei imaginando a casa dela nos fundos. Eu não tinha entrado lá ainda.
As 6h35 ela entrava em uma padaria no quarteirão de trás da sua rua e comprava dois pães e a cada quinze dias, dois potes pequenos de manteiga. Ela andava a passos lentos até sua rua. A impressão que dava era que ela gostava da manhã e ficava apreciando o nascer do sol. Eu nunca andaria a pé por um lugar daquele, muito menos a passos lentos.
Antes de voltar para sua casa, ela parava na esquina, batia palmas e uma senhora magra e que devia ter por volta de uns oitenta anos,saia para fora e depois recebia um pão dela. A cada quinze dias, um pote de manteiga também.
Depois a garota entrava em casa, eu imagino que tomava o café da manhã e as 7h00 entrava na academia. Só saia de lá as 17h00. Provavelmente almoçava lá dentro.
Ela voltava até a casa da senhora na esquina, conversavam algumas coisas e sorriam na maioria das vezes. As 17h30 ela voltava para a academia e ficava treinando até as 18:30.
Quando saia sempre estava muito escuro. Ela olhava desconfiada para todos os lados e depois entrava em casa.
Todos os dias eram iguais. Até as roupas tinham uma sequência. Ela estava sempre de legues pretas e as camisetas coloridas eram revezadas. O tênis preto era sempre o mesmo.
A rotina só mudava no dia cinco de cada mês. Quando ela recebia o pagamento. Nesses dias ela não treinava. Assim que terminava de dar aulas, ela ia até um mercado próximo, fazia uma compra não muito exagerada e ela mesma carregava as sacolas até sua casa.
Geralmente por volta das 19h00 elas saia com os cabelos molhados recem lavados, passava na casa da vizinha deixar uma sacola e seguia até uma lanchonete do bairro. Comia um lanche e no caminho parava em uma sorveteria e comprava um cascão de duas bolas de morango. Achei interessante as duas bolas serem do mesmo sabor.
Ela só não trabalhava nos domingos e não saia de casa nesses dias.
Não tinha nada que mudasse nem um dia sequer. Em um mês eu conhecia a vida toda da garota e sabia tudo que precisava.
Eu não voltaria mais ali nos próximos cinco meses, mas cuidaria para que alguém olhasse ela pra mim.
Eu continuei minha vida normal como sempre. Porém me pegava pensando nela, nas suas condições de vida e em como alguém pode viver privado de tantas coisas.
Eu sempre tive tudo e nunca passei vontade de sequer uma coisa. Se eu simplesmente ficasse com vontade de comer um alfajor, pegava um avião e ia até a Argentina comer os melhores. Se sentisse falta do mar, ia até as ilhas do Caribe e me satisfazia.
Eu conheço tantos países que já perdia a conta. Mulheres então era um deleite que me dava ao luxo sempre. Modelos, atrizes, empresárias, enfim, se fosse bonita, elegante e inteligente, me satisfazia.
Carros era outro prazer. Eu sempre trocava por um melhor e mais potente. E a minha casa tinha sido projetada por um arquiteto irlandês. Um projeto único e surpreendente.
Eu tinha tudo. Ela não tinha nada. Simplesmente sem entender o porquê, isso me incomodava.
Meu único problema se chamava família. Meu pai e minha mãe eram um estorvo que eu sempre teria que carregar. Na empresa ele fazia questão de me atrapalhar em tudo. Quando decidiu que só me passaria a maioria das ações se eu me casasse, ele sabia que estava me ferrando. Talvez não imaginasse que ele não venceria.
Meu irmão era para eles tudo que eu nunca seria. O bom filho, o mais educado, amoroso, estudioso e babaca. William sempre se sobressaia em tudo e minha mãe fazia questão de deixar claro o quanto eu era inferior a ele. E eu o odiava por isso.
O problema é que o sentimento não era recíproco. Ele fazia de tudo para ficar ao meu lado, me defendendo, se preocupando comigo e dizendo o tempo todo o quanto eu era bom em tudo e como gostava de mim. Eu também o odiava por isso.
- eu acho que você precisa convencer o papai a deixar a maioria das ações com você, mesmo que não se case- ele me dizia sempre isso.
- então porque será que você tem que ser tão perfeito e mostrar que merece tudo Wil?- perguntei irritado.
Seu olhar de tristeza atravessou os meus. Eram tão parecidos fisicamente e tão diferente no resto.
- eu não tento mostrar que sou bom em nada Leon. Eu só tento ser eu e nada mais. Eu sou assim. Você também é uma pessoa boa. O problema que é que você tenta provar o tempo todo que é uma pessoa má. Eu sei que você não é essa pessoa.
- você não sabe nada sobre mim e se talvez você morresse logo resolveria todos os meus problemas- falei deixando ele sozinho em minha sala e saindo sem escutar a resposta.
Ele não daria uma resposta. Era bom demais para me ofender.
Eu tinha um poder de jogar tudo que me afetava em algum lugar em distante dos meus pensamentos. Era sempre isso que eu fazia.
Eu tinha problemas com meus pais e com o William, mas simplesmente eu virava as costas para tudo isso e nada importava se eles não estivessem a vista e me fizessem lembrar.
Eu só não estava conseguindo entender o que fazia da Megan diferente. Ela atormentava meus sonhos e até meus pesadelos. Eu torcia para que esse plano acabasse logo e eu pudesse sair dele da mesma forma que estava entrando. Frio e sem sentimentos. Sempre.Só pra que não esqueçam do nosso leon postei esse capítulo 😍😍😍
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O doce sabor do desejo (degustação )
RomanceEle precisa de uma noiva, a qualquer custo. Ou seu irmão ficará com o que lhe pertence! Ela precisa de dinheiro ou sua vida corre perigo. Leonel desconhece sentimentos. Sempre teve tudo na vida, mas a comparação excessiva com seu irmão perfeito, fez...