Cap 6

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Megan

Um, dói, três.....oitocentos e cinquenta..... Eu contava mentalmente esperando o sono chegar. Claro que não chegou. Tinha um idiota no quarto ao lado fazendo barulho sem pudor algum. E provavelmente acompanhado de uma vaca qualquer, e a desgraçada não parava de berrar.
Será que tem como a minha vida ficar pior? Eu duvido muito. Sozinha, morando com um estranho, sem trabalho e agora sem conseguir dormir.
Conclui que poderia ficar muito pior quando escutei um gato começar a miar. Eu não conseguia ouvir esse barulho e ficar sem fazer nada. Eu sabia bem o que era ficar sozinha no meio da noite sem abrigo e comida. Nem me dei ao trabalho de me trocar e desci as escadas, correndo, de pijama.
Como ele ainda se divertia com a mulher na cama, as luzes da casa ainda estavam acesas, o que facilitou o acesso. Abri uma das dezenas de portas que davam acesso ao jardim e sai a procura do gato.
Enrosquei o cabelo em alguns galhos, cortei o dedo em um espinho e fiquei completamente suja, me rastejando pelos cantos e depois de uns dez minutos o encontrei encolhido debaixo de uma roseira.
Era a coisa mais fofa que já tinha visto. Um gato persa caramelo.Com certeza fugiu de alguma casa.

O peguei com cuidado e como um assassino fugindo da policia, voltei ao meu quarto, trancando a porta

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O peguei com cuidado e como um assassino fugindo da policia, voltei ao meu quarto, trancando a porta. O gato não parava de miar.
- você tem que ficar quietinho se quiser ficar comigo. Ou vamos acabar os dois na rua.
Acariciei seus pelos macios, juntei algumas almofadas e um edredom e fiz uma cama no chão para ele.
O barulho no quarto ao lado tinha acabado. E o gato também sossegou. Enfim eu pude fechar os olhos e dormir.
Acordei no outro dia com alguma coisa em cima de mim. Levei um susto até me lembrar do meu novo colega de quarto.
- temos um problema aqui né! Se o leão resolver rugir e te descobrir, estaremos encrencados.
Peguei ele no colo e dei uma conferida, descobrindo que era fêmea.
- vamos te chamar de Leona. Assim se ele descobrir talvez não te mate, sabendo que fiz uma homenagem a ele. Vou providenciar comida pra você.
Me troquei, tranquei o quarto e desci. Eu precisava ir no mercado. Não tinha nada nem pra mim comer e eu não aceitaria nada daquele mesquinho.
Assim que desci a escada, dei de cara com Leon. Ele estava elegantemente vestido em um terno grafite.
- bom dia.- falei.
- bom dia. Dormiu bem?- ele perguntou sorrindo.
Imbecil, ele sabia que eu não tinha dormido bem.
- mentor impossível. Tenho um sono absurdo. Assim que deito na cama, durmo igual uma pedra. Nem uma bomba nuclear é capaz de me acordar.
Mentirosa. Meu sono era frágil, como cristal.
- que bom. Também dormi muito bem.
- você pode me dizer onde tem um mercado próximo?
- a três quarteirões daqui. Nessa mesma rua.
- ótimo. Vou fazer compras.
Sai em disparada. Não me sentia confortável conversando com ele.
Assim que cheguei no pequeno, mas luxuoso mercado do condômino, descobri que tudo lá custava o dobro do preço. Comprei só o básico e peguei leite e ração para o gato.
Quando voltei para casa, ele ainda não tinha saído.
- pedi para a Regina separar duas portas da dispensa para você guardar suas compras e uma das geladeiras da cozinha. Se quiser pelo menos me fazer companhia no café da manhã, vai ser bom. Preciso te perguntar algumas coisas.
- certo. Vou na cozinha preparar meu leite e já volto.
A cozinha dele era maior que a minha antiga casa. Tinha duas geladeiras gigantes, eletrodomésticos espalhados para todos os lados e até uma televisão ele tinha colocado em um canto. Tudo esbanjava dinheiro e ostentação na casa dele. Era tudo frio e silenciosos como o dono.
Encontrei a Regina preparando o café.
- bom dia Regina.
Ela se assustou com a minha presença e me olhou curiosa.
- bom dia. Você vai tomar café com o patrão?
- vou. Mas não se preocupe, a minha comida é diferente da dele. Eu sou muito enjoada para comer.
Eu tinha de arranjar uma desculpa. Se eu seria a noiva dele, era muito estanho não partilharmos da mesma refeição.
Ela pareceu estanhar, mas não comentou mais nada.
Depois de organizar meus alimentos, peguei um pão com manteiga e um copo de leite e fui para a sala de jantar.
A mesa era enorme e estava repleta de coisas boas. Frutas, bolos, vários tipos de suco e bolachas. Tudo para uma única pessoa. Como o mundo era injusto.
Ele estava sentado na ponta e fez sinal para que eu me sentasse na cadeira ao lado.
- tem certeza de que não quer nada?- ele perguntou enquanto devorava um pedaço de bolo de chocolate.
- tenho sim.
Comi em silêncio. Ele não parava de me olhar. Me mexi desconfortavelmente na cadeira.
- posso te fazer uma pergunta Meg?
- pode. Não sei se respondo, mas pode fazer.
- cadê sua famílias?
- estão mortos. Todos morreram.- menti.
- acidente?
- Sim.
- às vezes acho que é melhor ser sozinho.-ele disse reflexivo enquanto devorava o segundo pedaço de bolo.
- Talvez, mas nem todos os dias. Sempre é bom ter a quem recorrer.
Me lembrei de dezenas de vezes que fiquei doente e gemi sozinha, sem ter para quem ligar. De todos os aniversários que eram como um dia qualquer e ninguém vinha me dar um abraço ou trazer um bolo.
Mordi um pedaço do pão e engoli com dificuldade. Eu tinha perdido a fome ao falar disso.
Ele encarou minhas mãos e percebi que era por causa das cicatrizes. Herança da minha mãe.
- são marcas do uso de droga?
- não Leon. Eu não uso deogas, nunca usei e não pretendo chegar perto delas nunca.
- e porque tinha alguém querendo te matar?
O seu olhar buscou o meu. Eu já tinha percebido que ele olhava dentro dos meus olhos quando fazia uma pergunta. Ele parecia ver além e chegar até minha alma.
- não era a mim que queriam matar. Pediram dinheiro ou matariam outra pessoa.
Eu nem sei o porque estava explicando isso a ele. Mas me pareceu tão bom ter alguém para conversar.
- você disse que não tem família. É algum namorado?
Franzi a testa.
- eu não quero falar sobre isso. Não lhe diz respeito.
Tomei um gole de leite.
- tem razão, nada de você me diz respeito. Exceto nosso "noivado". Pretendo dar uma festa logo para oficializarmos isso. E vou receber um amigo, hoje, aqui em casa. Ele está de passagem e vai dormir aqui esta noite. Então você vai dormir no meu quarto, junto comigo.
Engasguei com um pedaço de pão e me encolhi assustada.
- pode ficar tranquila. Não vou te agarrar. É só pra manter as aparências. Ele nunca acreditaria que eu mantenho uma noiva na minha casa e longe da minha cama.
- eu não acho.....
- não me interessa o que você acha.- resmungou se levantando da mesa.- como eu já disse, minhas ordens, minhas regras. Até mais Megan.
Pisando firme, ele saiu, me deixando sozinha e com muita raiva. Arrogante e idiota. Era isso que ele era.
Terminei de comer meu pão e voltei para a cozinha, pegar comida para a Leona.
Subi em dispara para o quarto e fui recebida com pelos  macios se esfregando nos meus pés:
- voltei meu bebe. Trouxe comida pra você.
O resto do dia passou rápido. Aproveitei a televisão no quarto e coloquei alguns DVDs, ensaiando novos passos de dança. Limpei a bagunça que a Leona fez no quarto e precisei ir até a lavanderia e colocar na máquina de lavar as cobertas da sua cama improvisada. Seria complicado manter uma gata trancada no quarto.
No almoço comi só uma fruta. A Regina estava limpando a cozinha e não quis atrapalhar, fazendo meu almoço.
O leão da vez não apareceu em casa. O que foi um alívio. Seis hora da tarde me enfiei na cozinha e comecei a preparar um lasanha de frango e arroz. Eu estava morta de fome.
- não quer que eu preparare para a senhora?- a Regina perguntou.
Ela era uma senhor adorável. Devia ter uns cinquenta anos, baixinha e gordinha, e sempre tinha um sorriso afetuoso no rosto.
- não precisa. Obrigada.
- você vai fazer a comida do senhor Leon também? Ele deixou o cardápio da janta e não me disse nada.
- não Regina, eu vou fazer só a minha. Como eu disse, sou muito enjoada. A comida dele você vai preparar normalmente. Posso até te ajudar a preparar a dele se você quiser.
Como boas amigas, ficamos cozinhado juntas. O Leon tinha pedido risoto de camarão, acompanhado de purê de banana marmelo. Nenhum dos dois me pareceu agradável, mas como dizem, gosto não se discute.
A Regina me contou que trabalhava na casa há cinco anos e que nunca nenhuma mulher morou lá. Ela estava feliz pelo patrão finalmente ter encontrado sua alma gêmea. Mal sabia ela da verdade.
As sete em ponto, as comidas estavam prontas e escutei a voz do Leon. Ele chegava acompanhado  de alguém.
- Amor, cheguei.- ele gritou.
Respirei fundo, abrindo um sorriso bem falso e entrei na sala.
Ele se aproximou e me pegando desprevenida depositou seus lábios nos meus em um selinho rápido e carinhoso. Senti meu coração parar de bater e precisei me concentrar muito para prestar atenção no que ele dizia.
- esse é o amigo que te falei. Ruan estudou junto comigo na faculdade e agora mora em Londres, só veio resolver uns problemas com a família no Rio e parou aqui para tomarmos umas cervejas.
- prazer Ruan.- estendi a mão. Ele a beijou e me puxão em um abraço.
- eu nem acreditei quando o Leon disse que estava noivo. Pensei que nunca veria esse dia. Mas agora entendo o motivo dele querer se enforcar. Você é linda, simplesmente perfeita.
Sorri em agradecimento ao elogio e fui retirada dos braços dele, com um delicado puxão que o Leon deu no meu braço, provavelmente deslocando algumas costelas minha.
- te falei. Ela é perfeita. E MINHA! Amor você pode pedir para a Regina servir o jantar em quinze minutos? Vou acomodar o Ruan no quarto de hóspedes e tomar um banho, já descemos.
- claro querido. Vai lá, você deve estar cansado.
Isso soava tão falso dos meus lábios, que não enganaria nem uma criança. Eu estava tentando fazer o melhor. O problema é que eu simplesmente não conseguia ser tão falsa como ele.
Sai da sala e dei o recado para a Regina. Pedi que colocasse a minha comida na mesa também. Discretamente eu comeria só que preparei.
Subi para o quarto e alimentei a Leona. Tomei um banho rápido e coloquei um vestido preto, curto e frente única. Era uma das melhores roupas que eu tinha. O restante se resumia a roupas de academia.
Quando desci, os dois já estavam sentados na mesa me esperando.
Percebi um olhar malicioso do Ruan em minha direção. Ele com certeza era o tipo de amigo que o Leon teria.
O Leon se levantou e puxou a cadeira para que eu me sentasse. Assim que sentamos, se pegou em minha mão sobre a mesa, como um gesto possessivo.
Eles acabaram comendo mais a lasanha e o arroz que fiz, do que o restante da comida.
A conversa foi agradável e ri horrores com o Ruan. Ele contou várias aventuras suas pelo mundo afora e todas recheadas de confusão.
Depois da janta, eles foram assistir tv e beber. Eu pedi desculpas e disse que ia para o quarto.
Só quando cheguei no andar de cima, é que me lembrei que tinha que dormir no quarto do inimigo. Eu estava apavorada coma situação. Fui até meu quarto, peguei um pijama e minha escova de dente e tranquei a porta, deixando a Leona sozinha. Eu esperava que ela se comportasse durante a noite.
Quando abri a porta do quarto dele, um arrepio tomou conta do meu corpo. Eu estava com medo e o quarto gigante, ostentado por uma cama que parecia não ter fim, não ajudou.
Entrei no banheiro, me troquei e lavei o rosto tentando me acalmar.
Quando voltei para o quarto, sentei na cama e então percebi que estava tremendo. Droga!
Eu não podia nunca ficar em um quarto, sozinho com um homem, sem me lembrar daquela noite. Aquelas mãos me tocando por todo o corpo. Sem perceber, deixei um soluço escapar da minha boca. E percebi que dois olhos estavam na porta, me encarando profundamente.

O doce sabor do desejo (degustação )Onde histórias criam vida. Descubra agora