Cap 4

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Megan

Depois que entreguei o dinheiro, comecei a ter um pouco de paz novamente. Na verdade eu não apanhava mais, porque paz de espírito eu não tinha nunca. A dívida estava paga, mas a que custo?
Eu passei seis longos meses pensando no inferno que seria a minha vida ao lado daquele cara. Eu sabia muito pouco de como seria morar no mesmo lugar que ele, e até meu serviço provavelmente eu teria que abandonar. Se ficasse muito longe do lugar que ele morava, o pequeno salário de dançarina não daria nem para pagar o transporte.
A minha maior tristeza era abandonar a dona Aurora. A senhora que morava na esquina da minha rua, era sozinha como eu. Eu amava levar pão para de todos os dias e receber um sorriso quando fazia isso. Eu me sentia amada de alguma forma.
Quando completou o prazo que o Leon me deu, fiquei apreensiva, esperando ele aparecer. Depois de uma semana, recebi uma carta e uma caixa, que foram entregues pelo correio.
Abri a caixa e encontrei um longo vestido preto, simples, mas elegante, acompanhado de sandálias prateadas de salto agulha e brincos e colares de prata.
A carta, escrita à próprio punho, dava as explicações.
"Você precisa vestir o que está recebendo e estar pronta hoje à noite, as 20h00. Um carro vai buscá-la. Tente ficar o mais elegante possível, é aniversário de um amigo e será a partir de hoje que meu círculo social vai conhecê-la é saber que estou me "apaixonando" por você.
Não se atrase. Eu odeio esperar.
Cuide bem dos presentes, você terá que devolvê-los amanhã.
E acima de tudo, não esqueça de cumprir seu papel. Quero uma mulher apaixonada e fascinada por mim. Você precisa ser convincente.
Eu paguei caro pelo trabalho. Preciso de algo profissional"
                     Leonel Alster

A frieza nas palavras era chocante. Respirei fundo e não deixei me abater pelo mal estar que aquilo que causou. Eu estava acostumada a viver sem sentimentos, mas com certeza, ter alguém reafirmando o quanto minha existência era insignificante, não ajudaria.
No horário marcado eu estava em pé, de plantão no portão de casa, esperando ele aparecer. Como ele pediu, fiz o máximo que consegui para ficar elegante. A falta de um cabeleireiro e um maquiador profissional, não ajudou. Era o meu melhor. Ele tinha que se contentar.
Depois de meia hora de atraso, sendo que ele os odiava, um carro de luxo preto estacionou na esquina. Como a rua era sem saída, ele não se deu o trabalho de entrar e ter que manobrar depois.
Com os pés já latejando pela demora, segui em direção ao carro em passo lentos. Cada passo diminuía a minha integridade e aumentava a minha humilhação. Eu tinha me vendido, para um filho da puta qualquer.
Ele não se deu ao trabalho de abrir a porta e assim que o fiz, fui surpreendida pela sua visão. Ele era um filho da puta qualquer, mas eu não poderia negar que um filho da puta lindo de morrer. Eu nunca tinha visto cabelos tão negros em toda a minha vida, contrastando com os olhos azuis mais claros que minha mente pode imaginar. O rosto bem desenhado, completado por uma barba por fazer e os cabelos desgrenhados, definitivamente era uma perfeição.
- olá, boa noite.- eu disse tentando ser educada, enquanto me sentava sobre o frio banco de couro beje claro.
- boa noite Megan. Quanto tempo, espero que esteja tudo bem. Se não estiver, também não quero saber.- ele completou, me encarando e abrindo um sorriso malicioso que beirava um malévolo.
Depois de uma recepção "tão calorosa", não disse mais nem uma palavra. As batidas do som, pareciam acompanhar meus batimentos cardíacos. Agradeci mentalmente por isso ou provavelmente ele escutaria o quanto meu coração estava acelerado.
Foquei a atenção no caminho, evitando a todo custo olhar para ele.
Quando nos aproximamos de um salão de festas requintado, ele quebrou o silêncio.
- ele se chama Roger, o aniversariante.Temos negócios em comum. Sua mulher Melissandra, gosta de um bom elogio. Sorria e o resto deixe por minha conta.
Engoli seco e fiquei em silêncio. Não seria necessário nenhum comentário ou resposta. Ele não esperava isso.
Ele parou o carro em frente a uma escadaria e aguardou o manobrista se aproximar. Automaticamente levei minha mão até a fechadura. Fui interrompida por sua mão.
- não é elegante você abrir a porta. Espere por mim.
- você não achou deselegante eu fazer isso a dez minutos atrás.- o desafiei.
- lá não tinha plateia. Agora vamos encenar. E sou um ótimo ator.
As suas palavras se confirmaram quando ele abriu minha porta e estendeu a mão para que eu me apoiasse. Abriu um sorriso apaixonado e entrelaçou seus dedos nos meus. Alguns convidados que chegavam acenaram para ele e olharam curiosos em minha direção.
Ele se baixou, afastou meus cabelos que estavam soltos e sussurrou em meu ouvido:
- agora, dê um sorriso e um beijo em meu rosto. Para todos os efeitos acabei de sussurrar palavras apaixonadas em seu ouvido.
Me arrepiei ao sentir sua respiração em meu pescoço e me odiei por isso.
Atendendo ao seu pedido, sorri feito uma besta e depositei meus lábios sobre sua bochecha. Ele ficou tenso, o maxilar se enrijeceu no mesmo instante.
Uma pequena marca de batom foi deixada e como instinto, passei os dedos para limpar. Ele sorriu em retribuição e pegando minha mão entre os seus dedos, a beijou.
Para todos éramos um perfeito casal apaixonado.
As pessoas não esperavam ele ir até elas. Simplesmente se aproximavam e nos cumprimentavam. Elas bajulavam ele e eu sentia seu ego crescer a cada instante.
Quando o aniversariante se aproximou acompanhado da esposa, fiz como ele pediu e disse que seu vestido era exuberante. Percebi que estava ficando boa em mentir. Mesmo para o meu gosto, de uma garota pobre que nunca vestiu uma roupa de grife, eu sabia que flores e onças não combinavam em nada quando recortadas e costuradas como um mosaico. A fenda que se abria até o meio das coxas não ajudava.
Quando nos aproximamos de uma mesa, ele se adiantou me alertando:
- meu pai, minha mãe e meu irmão que estão sentados lá. Só mostre que me ama, não precisa ser amável e nem dispensar elogios a eles.
- Oh, Leon!- sua mãe disse antes que tivéssemos a oportunidade de falar alguma coisa- você demorou tanto! Não consegue chegar no horário nunca! Seu irmão....
- já sei mãe. O will sempre chega no horário.- ele a interrompeu irritado.- deixe eu apresentar a Megan, minha namorada.
- outra.- escutei seu pai dizer.
Eles pareciam ter saído de uma revista de cirurgião plástico. Eu não conseguia encontrar uma imperfeição nos rostos dos pais do cara. Senti um arrepio enquanto eles me analisavam de cima em baixo.
- seja bem vinda a família Megan- o irmão se levantou para me abraçar.- Foi o único a fazer isso.
Me encantei por ele. O abraço foi tão apertado e sincero. Alguém tinha que ter coração naquela família.
- o prazer é meu will. Eu sabia que tinha um homem especial na face da terra.- sorri fazendo menção ao meu "namorado"- não imaginava que pudessem existir dois.
Era um elogio. Will sorriu agradecido, mas senti o Leon se retesar e apertar meu braço com uma força excessiva, que com certeza deixaria uma marca roxa.
Ele puxou a minha cadeia e me sentei, no ninho das cobras. O jantar já estava sendo serviço e colocaram um prato na minha frente que não tinha uma aparência muito agradável. Uma carne coberta por um molho marrom que me lembrava outra coisa que não era comestível. Sorri com o meu pensamento bobo.
- e então Meg, vocês estão juntos faz tempo? Meu irmão nunca apresenta as namoradas- o Will disse.
- seis meses.- o Leon se adiantou dizendo.- decidi apresentá-la porque estamos morando juntos. Dessa vez é sério.
Docemente, ele acariciou minha bochecha e instintivamente fechei os olhos. Me odiei por isso também.
A plateia me olhava como se aquilo fosse algo raro. Completando meu papel, deixei minha cabeça pender sobre os ombros dele e sorri.
Foi um erro. A proximidade fez com que seu perfume entrasse pela minha corrente sanguínea e transformasse meu sangue em água com gás. Tudo borbulhava dentro de mim. Eu me odiava a cada reação do meu corpo.
- você levando alguém para morar com você? Isso realmente é algo novo.- o pai comentou- Não vai se cansar dela ou vai fazê-la de empregada?
Dei um pulo na cadeira assustada com o soco que o Leon deu na mesa.
- não admito que você fale da minha mulher assim. Se quiser continuar a me ver pai, vai respeita-lá.
Eu respirava com dificuldade, perdida no meio do fogo cruzado. Ele percebendo meu desconforto, fez o que um bom namorado faria: passou seu braço pelo meu ombro e me puxou para um abraço apertado.
Ele era bom no que fazia. E eu estava com muito medo.
Medo de ser massacrada no meio daquela família. Medo de como seria tratada por ele. E um medo maior ainda, de mim mesma. Medo, de que mesmo sendo mentira, eu sentisse falta desses abraços. Eu não me lembrava de ter sido abraçada na vida!

Quero comentários. Estou sentindo falta dos comentário de vocês! Estão gostando do nosso novo casal?
Quero saber tudo!!!!

O doce sabor do desejo (degustação )Onde histórias criam vida. Descubra agora