Capítulo Sete

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No dia seguinte, eu tive um sonho muito estranho. Sonhei que eu estava em um lugar escuro e escutava um homem gritar. Não um grito qualquer, mas um grito de dor e sofrimento. Acordei toda suada e com a respiração ofegante, olhei para o relógio que fica na minha mesa, ao lado do abajur, onde marcava nove e meia da manhã. Na minha opinião, era cedo demais para se acordar em um dia sem aula, mas parecia que eu estava sem sono, então resolvi me levantar e ir preparar o café da manhã para mim e Aaron. A casa já estava limpa! Frank era um mordomo muito eficiente, então tenho certeza que ele já tinha se encarregado de contratar alguém para dar um jeito naquela bagunça toda.
Desci pelas escadas arrumando os quadros, que estavam meio tortos, e fui direto para a cozinha. O dia estava frio e cinzento, mas Frank tinha acendido a lareira antes de sair e ido passar sua folga na casa de uma das suas filhas no interior.
Comecei a preparar ovos com bacon, fiz algumas torradas para mim e preparei uma tigela de salada de frutas para Aaron com bastante kiwi, banana, morango e abacaxi, que na verdade são as frutas prediletas do meu irmão.

Enquanto eu terminava de preparar o café, me lembrei da noite passada, tinha pequenos flashes do que tinha acontecido entre eu e Layla e, sem perceber, dei um sorriso aleatório. Lembrei, também, que a família dela estava viajando com a irmã e então, certamente ela estaria sozinha naquela casa enorme. Subi até meu quarto e me arrumei um pouco, deixei a mesa do café pronta e fui até a casa ao lado, passei pelo jardim que estava muito bem cuidado e então, toquei a campainha. Não demorou muito até a minha ansiedade bater e eu tocar a campainha freneticamente até alguém começar a destrancar a porta e abri-la.

- É... Oi.

- Oi, que... Surpresa ver você aqui, Candice.

- Me desculpa. Eu te acordei? - perguntei, um tanto sem graça.

- Não, eu já estava acordada. Então... No que posso te ajudar?

- Eu só queria saber se você tá a fim de tomar café da manhã. Achei que você iria estar sozinha aqui e então, pensei que você... Talvez... - perguntei, engasgando. Era notável o jeito que ela me deixava nervosa. Layla deu um sorrisinho e respondeu:

- Claro. Só me deixa trocar de roupa. Você não quer entrar e esperar uns minutinho?

- Sem problemas. Com licença - disse, entrando pela porta e indo em direção a um sofá que tinha na sala - Sua casa é linda.

- Obrigada. Fique à vontade, eu já volto. - disse Layla, subindo as escadas.

Não demorou muito até Layla voltar toda arrumada, eu não conseguia tirar os olhos dela descendo da escada. Ela veio até mim e se virou, pedindo para que eu colocasse o colar em seu pescoço.
Sua pele era tão macia, que eu tremia só de tocá-la, então presumo que demorei alguns segundos até conseguir encaixar o fecho do colar. Após colocar, Layla se virou, ficando frente a frente à mim e então, não conseguia parar de encarar os seu lábios vermelhos

- Então, vamos lá?

- É... Vamos... - respondi.

Ao voltar para a minha casa, Layla entrou olhando para todos os cantos, maravilhada com tudo. Ela olhava atentamente para o piano branco que tinha na minha sala de estar, passava a mão cuidadosamente em sua lateral. Após ela terminar de admirar a minha sala, ela me seguiu até a cozinha que ficava ao fundo, passando por um enorme corredor.
A mesa estava exatamente como eu havia a deixado, isso queria dizer que Aaron ainda não tinha acordado e certamente estava de ressaca.

- Fique à vontade, sente-se onde quiser. Eu vou chamar o Aaron. - disse, subindo as escadas.

- Tudo bem. Obrigada. - respondeu Layla, se sentando à mesa. Cheguei no andar de cima e caminhei pelo corredor até a última porta, onde ficava o quarto de Aaron, ao lado da outra escada, abri a porta e ele estava jogado na cama, quase morto.

- Aaron? - disse, cutucando ele - Aaron, você tá vivo?

- Hm... O que você quer, Candice? - perguntou ele, gemendo.

- Você não vem tomar café da manhã?

- Ahnn... Não... Me deixa dormir...

- Cara, eu chamei a vizinha pra tomar café conosco, vai ser falta de educação.

- Eu não tô nem aí, Candice.

- Então tá, até depois.

- Também te amo.

- Grosso.

Fechei a porta com força, só pra fazer barulho caso Aaron estivesse com dor de cabeça, e tenho certeza que ouvi ele dizendo um "ai". No momento, eu estava nervosa, eu nunca fiquei sozinha com a Layla e isso estava prestes a acontecer. Antes de descer a escada de volta, eu respirei fundo. Tentei me acalmar um pouco, até que fui até a cozinha.

- Meu irmão não vai descer, ele está muito mal.

- Ressaca pela noite passada?

- É!! - respondi, rindo da cara dele - Se incomoda se eu me sentar aqui do seu lado? - perguntei, apontando para a cadeira.

- Não, imagina! - respondeu Layla, afastando a cadeira para eu sentar - Então... Me conta, onde estão o Sr. e a Sra. Baker?

- Os meus pais estão viajando... Negócios, entende? Então... Você quer suco? Cappuccino? Chá? Água? Leite?

- Nossa... Eu aceito um suco.

- Ok!! Então... Eu fiquei sabendo que você é do Canadá. - falei, enquanto colocava o suco no copo de Layla.

- É, sou de Toronto!

- Isso explica você ser tão meiga!

- Então me acha meiga? - perguntou Layla, olhando para mim. Aquele clima que ia e voltava estava me matando, minhas mãos ficavam suadas cada vez que ela olhava em meus olhos. Meu coração parecia que ia sair pela boca. Não sei se eu conseguia disfarçar tão bem.

- É... Ahm... Quis dizer que você é diferente das outras garotas. Quer dizer, você é mais sensível, digamos.

- As pessoas sempre têm a impressão de que os canadenses são educados e sensíveis. - ela riu - Isso porque não conheceram minha ex namorada.

- O que aconteceu? Não precisa contar se não quiser, ok?

- Não, tudo bem! Então... Nós duas éramos o típico casal de conto de fadas, todo perfeito e mágico. Todos sentiam inveja daquilo, sempre me diziam que ela era 'muita areia pro meu caminhão', mas eu não ligava para isso.
Então, em um belo dia, nós tínhamos acabado de transar e eu estava deitada na barriga dela e estávamos assistindo Diário de Uma Paixão e daí eu pensei: "Meu Deus, essa é a mulher da minha vida". Lembro até que escorreu uma lágrima dos meus olhos naquela hora. E então... Uma semana depois, ela largou de mim sem mais nem menos.
O que me magoou foi ela ter dado várias desculpas ao invés de me contar toda verdade.

- E qual era a verdade?

- Até hoje, eu não sei exatamente o que era, mas ela está casada com um belo rapaz rico e bem sucedido, vai ser mãe de gêmeos daqui a 3 meses.

- Caramba... Isso... Isso deve ter sido horrível. Eu sinto muito. - disse. Na hora, eu não reparei, mas eu tinha colocado minha mão em cima da mão de Layla.

- Está tudo bem, isso faz um tempão. Hoje, eu fico feliz por ela ter achado alguém... Melhor do que eu.

- Eu te acho uma pessoa incrível.

- É muito gentil de sua parte. Bom, o café estava ótimo, mas eu preciso ir.

- Ah, ok, eu te levo até a porta. - disse, me levantando e indo com Layla até a porta. Ao abri-la, Layla se despediu com um beijo em meu rosto - Pode voltar aqui sempre que quiser e, mais uma vez, me desculpe por ter sido chata com você no passado...

- Até mais, Can. - respondeu ela, sorrindo.

- Até.

Only Wolf 3 - RecomeçoOnde histórias criam vida. Descubra agora