Capítulo Vinte E Três

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Os dias de trabalho não poderiam ser mais eletrizantes. Apesar de toda aquela movimentação, de estar novamente com a farda do F. B. I, eu ainda estava me sentindo triste por dentro.
Arrisco a dizer que a paisagem do meu novo escritório não ajudava muito, a cor laranjada do por -do-sol penetrante, dava uma ótima combinação com o verde escuro das folhas nas árvores. Aquilo remetia a horas e horas de interminavéis e longos suspiros dados por alguém que tinha uma vaga lembrança de contemplaçâo. A última vez que eu havia visto um por-do-sol tão bonito quanto, eu estava na praia com uma garota.

Talvez os suspiros eram uma somativa de várias outras coisas, talvez eu estivesse um pouco frustrada com o rumo que minha vida havia tomado. Me lembro de ter sonhado com a Juilliard desdo dia que eu ganhei um pequeno piano do meu avô. Ele era branco com várias flores rosas desenhados ao lado combinando com as teclas, que também eram rosa, mas de uma tonalidade diferente. A primeira música que eu aprendi pertencia a Mozart, velhos sonetos era aquilo que meu velho avô mais gostava. Passávamos horas praticando e tomando chá, enquanto minha vó ficava nos observando atentamente pelo sofá.
Era o momento mais feliz do dia.

Aquela lembrança aqueceu um pouco meu coração, me fez esquecer de minhas frustrações. Sorri enquanto lembrava da minha infância maravilhosa.

Quando enfim terminei o relatório, pude pegar minhas coisas e finalmente ir para a casa. Aaron havia me dito que iria fazer espaguete, então eu já podia esperar uma terrível intoxicação alimentar. Ele cozinhava mal pra caramba.

Ao descer no térreo, passo pela recepcionista e dou um sorriso. Ela responde mordendo os lábios e dando uma piscadinha. Não sou de ficar envergonhada mas aquilo me deixou com o rosto corado, tenho certeza.

Minha moto estava estacionada na garagem do prédio e antes que eu pudesse chegar até lá, recebi um telefonema um tanto estranho. O número era privado, o que me deixou um pouco apreensiva, decidi não atender e ir logo para casa.

Depois de vários anos andando de moto, o medo da velocidade havia desaparecido. Eu adorava a adrenalina que aquilo me submetia e então passava entre os carros com toda a facilidade, costurando as ruas como se fossem tecidos.
Ao chegar em casa, estaciono dentro da garagem e entro então pela porta dos fundos. O cheiro de comida já estavam exalando por todos os corredores, e olha que a casa dos meus pais era enorme. Tinha 20 cômodos divididos por três andares, era realmente muito grande.

Aaron estava sem camisa, apenas com um avental, ele parecia louco cortando uma cebola roxa estranhamente enorme enquanto cantarolava alguma música que eu ainda não estava entendendo :

- Precisa de ajuda? - Perguntei, rindo da situação.

- Não! Eu tenho tudo sobre controle! -Respondeu Aaron, derrubando um pedaço de cebola no chão. - Ops!

- Estou vendo! -Respondi, debochando. Me aproximei dele dando um beijo em seu rosto e em seguida subi para o meu quarto.

Vou tirando a roupa enquanto subo os degraus, ao colocar a mão na maçaneta da minha porta sinto o celular vibrando no meu bolso. - Número privado - Falo, ao olhar. Resolvo atender, mesmo estando apreensiva :

- Alô?!

- Pensei que nunca iria me atender...Recebi o seu recado.

- Ah.. É você.. Eu preciso falar contigo urgente.

- Hoje a meia noite vou estar te esperando no mesmo lugar em baixo da árvore. Não demore muito.

- A gente se vê lá.

- Até.

- Até.

Era um alívio saber que eu iria resolver aquele bendito problema. - Onde foi que você se meteu, Megan Acaster? - Disse, enquanto colocava a mão na testa preocupada.

- Quem era no telefone?

Meu corpo estremeceu todo ao ouvir a pergunta, senti meu coração quase saindo pela boca, com medo de que alguém tivesse ouvindo a conversa. Quando tomei coragem para olhar para trás o alívio foi de imediato :

- Charlotte! - Disse, com um frio na barriga. - Que susto, garota.

- Hmm tem alguém que parece que vai ter um encontro. - Disse ela, sorrindo. - Eu estava no banheiro quando ouvi sua voz.

- É.. Eu.. É.. Um encontro. Isso aí!

- Relaxa, eu não quis me intrometer.

- Não, não é isso. Eu só tomei um susto, o Aaron não tinha me dito que você estava aqui, Lotte. - disse, abraçando-a na tentativa de quebrar o gelo.

- Entendi. - Respondeu ela, rindo. - Bom, vou descer. Sabe-se lá o que seu irmão está fazendo naquela cozinha.

- O Frank faz muita falta. - Afirmei, sorrindo.

- Ôh se faz...Não vejo a hora dele voltar de férias. - Disse Charlotte. Ela desceu e eu a acompanhei com os olhos. Quando ela finalmente chegou as escada, fechei a porta, ofegante.

Tomei um longo banho e depois me troquei, coloquei um calça de moletom beje e uma blusa babylook branca para combinar com o tênis de cano médio. Meu guarda roupa ainda estava intacto, sorte que meu corpo não havia mudado muito. Eu continuava com as mesma medidas, apesar de parecer mais madura.
Desci até cozinha onde a mesa já estava pronta, Lotte ao me ver assoviou dizendo" Que gatinha!  ". Dei uma piscada para ela enquanto me sentava.

A comida até que estava com um cheiro bom, apesar de não confiar muito nos dotes culinários do meu irmão, fiquei impressionada com a quantidade de coisas que ele havia feito :

- E aí, rola um vinho? - Perguntei, roubando um pedaço de batata que estava sobre um frango assado.

- Ah.. eu acho que não sobrou nenhum da coleção do papai.. Mas.. Nós temos.. (pausa dramática).. Pepsi!

- Pepsi, Aaron, sério? - Disse gargalhando alto. - Você não cresceu não?

- Ela tem razão, amor! - Disse Charlotte, gargalhando junto comigo.

- Vocês são duas chatas! Ao invés de ficarem rindo, poderiam ter dito : Nossa Aaron, como esse jantar está maravilhoso.

- Sem chance! - Discordei, ainda rindo dele.
Aaron revirou os olhos e colocou a Pepsi sobre a mesa.

- Pelo menos a minha noiva gosta de tomar refrigerante no jantar, não é? - Perguntou ele, olhando para a Charlotte.

- Uhum! - Afirmou ela, piscando para mim. Dei um sorriso e então começamos a comer.

(...)

Only Wolf 3 - RecomeçoOnde histórias criam vida. Descubra agora