Onze anos após a morte de Rayn Anderson:
Voar ainda era um pesadelo em minha vida, mas depois da minha pequena viagem, eu precisava ir para casa, finalmente a minha casa. Peguei a estrada, poupei o fôlego que ainda me restava e fui.
Voltar a essa cidade parecia, para muitos, uma coisa sem importância alguma, mas para mim, era de extrema euforia. Passaram-se tantos anos, que eu não me lembro de quase nada, das casas, das pessoas, do ar, do meu próprio quarto. A única coisa que ainda permanecia da mesma forma era minha moto, após anos mantendo ela, milhares de dólares gastos para deixá-la da mesma forma foram usados, mas valeu a pena.
Ao chegar próximo à minha antiga casa, não pude controlar a ansiedade em olhar para a casa de Layla; a cor não era a mesma, o jardim estava bem florido e algumas crianças estavam brincando na frente com uma bola de futebol americano. Imaginei que os Svetha não morassem mais ali e estacionei a minha moto em frente à minha garagem. Logo, uma onda de nostalgia tomou conta de mim e eu toquei a campainha, aquele frio na barriga veio à tona e minhas mãos começaram a ficar trêmulas. Eu já estava quase desistindo de estar ali, quando um homem alto, de barba grisalha e um sorriso amável abriu a porta. Era Frank
- Em que posso ajudar? - perguntou ele.
Não me segurei e o abracei na mesma hora. Frank ficou sem reação alguma, mas ele devolveu o abraço após alguns minutos.
- Frank, sou eu. - disse, com os olhos cheios de lágrimas.
Ele me olhou da cabeça aos pés e, após uma confirmação, ele voltou a me abraçar, agora um pouco mais forte.
- Minha pequena, eu sonhei tanto com o dia que eu voltaria a te ver. Eu senti tanto a sua falta, Candice!
- Eu também senti sua falta, Frank.
- Me desculpe, é assim que eu devo te chamar? - perguntou Frank após o abraço, limpando as lágrimas que já estavam caindo de seus olhos.
- Eu não me importo que você me chame de Candice, mas foram tantos anos sendo chamada de Megan que eu me acostumei. - respondi.
- É um lindo nome, aliás, vou só te chamar assim daqui em diante, mas enfim... Entre, minha querida, entre.
Nós entramos e a casa continuou da mesma forma que estava desde quando eu estive aqui pela última vez, todos os traços, as cores, os enfeites, os móveis... Tudo inteiramente igual.
- Imagino que tenha sido difícil ficar aqui após a morte da minha mãe. - disse, me sentando à mesa.
- Ah... Ela estava muito doente, você lembra quando foi cuidar dela no hospital, não lembra?
- Sim, claro. Foi melhor ela ter ido, encontrado a paz. Câncer é uma doença horrorosa. -respondi.
- Mas mudando de assunto, pretende ficar? Vi que só trouxe uma mochila em sua moto. - perguntou Frank, enquanto trazia uma xícara de chá para mim.
- Eu não sei muito o que fazer, eu meio que estou seguindo o meu coração.
- E o que ele diz?
- Eu só consigo ouvir um único nome... Layla. - respondi.
Imediatamente, Frank mudou de feição e tossiu, como se estivesse prestes a me contar algo sobre.
- Ela ficou mal por muito tempo...
- E eu...
- ... Achei que ela nunca fosse encontrar alguém e seguir em frente. - disse Frank, me interrompendo.
- Achou... Como assim?
- Ela ficou noiva de uma mulher no ano passado, daí ela deixou a casa com a irmã dela e se mudou. Eu... Sinto...
- Não, não sinta, Frank. Ela só fez o que devia fazer. Ela seguiu em frente. - disse, enquanto meus olhos se enchiam de lágrimas, uma forma de dizer que aquilo era mais doloroso do que levar uma facada no coração. Eu não podia demonstrar, então engoli o choro e mudei de assunto. - E cadê o Aaron?
- Ahh, esse aí não parou de te procurar nem por um segundo. Nas minhas contas, ele já gastou 800 mil dólares só em viagem. Nós não sabíamos onde você estava.
- E você não tentou impedí-lo? - perguntei, rindo.
- Quem é que consegue? Você conheçe seu irmão, não é?
- Pois é. Mas e então, onde ele realmente está?
- Bom, falei com ele não faz nem meia hora e ele estava voltando para casa. Ele ficará feliz em te ver.
- Eu não vejo ele há onze anos.
- Foi uma infeliz coincidência quando você estava no hospital com a mãe de vocês e ele teve que ir resolver uns problemas no trabalho dele.
- É, eu queria tê-lo visto.
- Megan, querida. Vou levar suas coisas lá para cima. Continue bebendo o chá e coma esse bolo que está na mesa, eu fiz agora há pouco. Se precisar de algo, estarei no seu quarto arrumando sua cama.
- Tudo bem, Frank. Muito obrigada. - respondi.
Após ele ter saído, eu não consegui segurar às lágrimas, saber que Layla estava noiva de uma outra pessoa fez com eu sentisse que até a morte era mais confortável do que estar ali, viva, sem a pessoa que eu... Que eu amava.
Eu chorei, chorei por vários minutos e minha vontade era de continuar chorando até aquela angústia toda passar, mas não passou.
Após aquele momento terminar, fui até a geladeira e peguei um copo d'água para tentar me acalmar. Aquilo não ajudou muito, mas fez eu me recompor.
Depois de um leve suspiro, subi até o meu quarto, que eu encontrei todo arrumado como o Frank havia dito para mim; ele já não estava mais lá, o que era bom. Odiaria ter que explicar o porquê eu estava com aquela cara de choro.
Tudo estava exatamente igual, até o meu notebook estava ainda em cima da cadeira, como estava quando minha mãe entrou nesse quarto comigo aqui, da última vez.
Fui até a janela e olhei fixamente para o quarto de Layla, assim como o meu, o dela ainda estava lá. O que me deixava ainda mais angustiada. Sentei em minha cama, após passar alguns minutos olhando para a janela e me recordando de alguns momentos que nós duas tivemos ali, e adormeci.
[...]
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Only Wolf 3 - Recomeço
Romance2° lugar no ranking por uma semana (LGBT+) Quando tudo parecer perdido, recomeçar pode ser mais difícil do que imaginam. No último livro da trilogia Only Wolf, conto a história de Candice Baker que é mais uma garota que passa por toda a homofob...