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Vinte e cinco anos de casamento, foi o que durou o matrimonio dos meus pais. As vésperas dos meus dezessete anos os perdi em um acidente. Estávamos voltando da casa de praia da tia Guren, a lua já brilhava no céu e eu prestava atenção no meu celular, estava com o volume máximo nos meus fones. Tudo o que pude ver foi um clarão. Depois disso me lembro de acordar em uma sala de hospital. Minha perna e meu braço esquerdo estavam quebrados, havia fraturado uma costela e a clavícula e ainda somava um traumatismo craniano. Quando uma enfermeira entrou no quarto pedi informações, eu já estava internada a cinco dias, havia ficado quatorze horas em cirurgia e o fato de ainda estar viva era um milagre. Meu pai faleceu no local do acidente e eu não estava acordada para lhe dar meu ultimo adeus, eu havia perdido o meu porto seguro. Minha mãe estava em coma, já tinha sofrido três paradas cardiorrespiratórias, e os médicos a induziram ao coma e assim ficou durante doze meses. Algo lá no fundo me dizia para deixa-la ir, mas eu era egoísta demais para permitir isso.

Tia Guren passou a morar em minha casa, eu abandonei tudo para ficar ao lado da minha mãe. Passava vinte e quatro horas ao seu lado, não a abandonava por nada. Eu nunca deixei de estudar, porém fazia ao lado de sua cama. As pessoas ao meu redor já estava cansadas daquela situação e fui abandonada, não tinha mais amigos, o meu, até então príncipe estava me traindo e nem isso me importava mais. Eu só queria minha mãe de volta. Achava que não era pedir muito para uma menina mimada, criada de baixo das asas dos pais.

Depois de um ano, as economias da minha família estavam esgotando, eu já havia completado dezoito anos e a herança já estava em meu nome, com isso a Tia Guren se afastou e eu não tinha mais ninguém, literalmente. Os médicos tentavam me convencer a desligar os aparelhos a alguns meses e então eu decidi fazer o que todos esperavam. Autorizei o desligamento dos aparelhos, assinei todas as papeladas e organizei o velório. Com o pouco dinheiro que me restou peguei meu passaporte e comprei uma passagem apenas de ida para Chicago.

Eu nunca achei que fosse fácil perder alguém, mas também não imaginei nada tão difícil assim. Uma simples viagem, algo que fazia parte da nossa rotina. Cem quilômetros até chegar em casa, era o que faltava até tudo acontecer. Eu perdi as pessoas mais importantes, as que eu mais amava em toda minha vida. A dor só aumentava a cada minuto, mas eu já não chorava mais, era como se eu estivesse quase que acostumada a estar sozinha. Tudo que me sobrou foram as lembranças dos momentos que passei com meus pais que agora eram anjos para mim.

Por muitas vezes me pego pensando em toda a minha vida, me questiono que Deus é esse que minha mãe me ensinou a amar e seguir suas doutrinas, que me deu tanto e depois me tirou tudo. Porém minha fé é ainda maior que meus devaneios, sabia que tudo nessa vida tem um propósito. Eu não frequentava mais a igreja e tinha abandonado minha religião, mas nunca deixei de crer.

Eu agora, dentro deste avião estou sem rumo, vou atrás de algo novo. Vou voltar a viver, vou estudar para conseguir uma bolsa em alguma faculdade e farei meu sonho, o sonho dos meus pais, realidade. Não tenho feito planos, só vou deixar que meu destino seja traçado dia a dia.

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