Bem Vinda

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- Maravilhas à Mim!

A Rainha Vermelha fez sua saudação e todos repetiram suas palavras.
Bem, todos os que ali estavam a saudaram de volta, exceto um garota de cabelos loiros que ainda se escondia.

- Este baile foi feito para comemorar mais um céu em que eu nasci, e confesso que não sei quantos convidados mais teremos amanhã. A lista não para de crescer! - Ela bateu palmas e todos imitaram, sem muito ânimo, era o que se via.

- Como assim mais um céu? - Alice se viu confusa, e logo compreendeu que a Rainha Vermelha deveria ter usado a palavra "dia" ao invés de "céu" - Ela comemora o seu aniversário todos os dias?

A pergunta era para si mesma, mas uma mulher com pernas de pássaro e os dentes muito grandes a ouviu e sussurrou de volta.

- Desde que se tornou rainha, nós somos obrigados a comparecer ao seu aniversário todos os céus. Estamos exaustos e sequer podemos deixar de vir. Como sinto falta dos nossos antigos soberanos.

Alice franziu o cenho e encarou a mulher dentuça enquanto a Rainha ainda fazia seu discurso.

- Por que você não recusa o convite? Sei que não é educado, mas você pode simplesmente não vir.

A mulher lhe lançou um olhar frio, com um certo medo de Alice.

- Não imagino o porquê de eu me oferecer para ser o jantar de amanhã.

Com um frio passando por seu corpo, Alice se afastou da mesa do jantar, que agora lhe dava náuseas, decidida a não olhar para lá outra vez.

- E o meu querido sobrinho Guilhermo será o primeiro a dançar com a mais bela dama de hoje. - A Rainha prosseguiu e seu olhar varreu o salão, a procura de alguém. - Alice, onde você está, querida?

- Eu? - Alice sussurrou, descrente que fosse a única Alice ali, pois ela não devia ser a mais bela e não conhecia aquela rainha que lhe chamava.

Um convidado, metade homem, metade urso, se virou ao ouvi-la.

- Aqui está ela, Majestade! - Ele exclamou fazendo com que todos abrissem caminho para a garota, e ela corou, cheia de constrangimento e desejando repreender seu acusador.

A Rainha Vermelha sorriu largo, mostrando uma pequena brecha nos dentes centrais, e fez um gesto de mão. O Príncipe ao lado dela fechou suas asas muito brancas e foi até Alice, que ainda tinha as maçãs do rosto muito vermelhas.
Ver aquele rapaz tão belo de perto fazia com que ela desejasse se esconder mais ainda, mas ele ofereceu sua mão assim que chegou até ela, e agora não lhe restava outra coisa a não ser vê-lo melhor.
Imagine a surpresa de Alice ao encarar os olhos do Príncipe, olhos aqueles que eram como a noite estrelada, com de fato, estrelas muito brilhantes dentro. Seu rosto era belo e de expressão serena, mantendo os lábios rosados e bem desenhados em um quase sorriso.
Como alguém poderia ter a noite dentro de seus olhos? Alice pensou, ainda perplexa por aqueles olhos impressionantes.
Ela pegou a mão do príncipe e se permitiu ser levada para o centro do salão, onde ambos começaram uma valsa lenta.

- Perdoe - me, mas não compreendo o porquê de estar aqui. Eu não conheço essas pessoas. - Ela disse num sussurro e viu por entre as asas dele uma fina corrente dourada as prendendo.

- Lhe explicarei muitas coisas assim que a valsa acabar. - A voz dele soava angelical e um tanto rouca, como se fosse um sopro de vento num dia de calor intenso. - Eu prometo à você, Alice, lhe direi tudo o que você precisa saber.

Sentindo uma onda paz lhe acalmar os nervos, Alice olhou nos olhos do Príncipe Guilhermo mais uma vez e viu o quanto eram intensos e difíceis de compreender, mas ela assentiu com um gesto de cabeça, seguindo com a dança.
Logo, todos dançavam próximos deles e ela desviou o olhar para a Rainha Vermelha que ainda estava sentada, apenas agitando os pés.
Alice achou um tanto contraditório dar festas todos os dias e ainda assim, não aproveitá-las para dançar.
A música acabou e Alice se viu sendo levada por Guilhermo para o trono da Rainha, que a recebeu com um grande sorriso.

- Alice! Eu esperei tanto pela sua vinda.- A Rainha disse enquanto a jovem fazia uma reverência. - Nada me deixa mais feliz do que vê-la diante dos meus olhos, e isto quer dizer que eu não quero que você vá para muito longe.
Não me deixe triste, está bem?

A risada da Rainha Vermelha ecoou pelo salão, e todos ao redor riram junto, com a intenção óbvia de agradá-la.

- Estou honrada. - Alice decidiu fazer o mesmo que os convidados, não contrariar a Rainha Vermelha. - É realmente uma honra conhecer uma Rainha tão poderosa.

- Ora... - A Rainha lançou um olhar curioso á Alice, em seguida voltou seus olhos para o sobrinho. - ... ela me vê com bons olhos, que gentil.

Temendo ter sido descoberta por sua bajulação, Alice encarou a Rainha, que tinha um sorriso travesso nos lábios.

- Não pense que eu sou intrometida, mas ouso dizer que você adorou a companhia de meu amado sobrinho.
Tamanha beleza não existiria em outro alguém.

Alice corou de imediato naquele momento e mirou o chão de piso branco.
Desconversar era a solução.

- Alteza, não é minha intenção ofendê - lá quando digo mas, não lembro de conhecê-la.

A Rainha negou com a cabeça sem perder o sorriso.

- Não se preocupe, querida, não mesmo. O passado mora no ontem, e do ontem não devemos lembrar. Guilhermo a levará até o jardim para que tome um ar. Beba um pouco de Ogulídell, lhe fará bem.

Alice assentiu e acompanhou o Príncipe até o jardim.
A noite era tão bonita quanto o dia, mas agora o céu era uma explosão de estrelas coloridas e pareciam tão próximas que talvez, se Alice voasse, ela pudesse tocá-las.
Quando eles sentaram em um banco de pedras, ela não hesitou mais em expressar a sua curiosidade.

- O que é Ogulídell?



Me dá uma estrela do seu céu?

Alice e o Chapeleiro (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora