Coisas impossíveis

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A Lebre vinha alegremente quando chegou no lago das sereias e encontrou os gêmeos pescando lá.

- Olá, nobres cavalheiros.

- Olá, Lebre! - Eles disseram juntos e voltaram a olhar o lago.

A Lebre coçou a orelha esquerda confusa e se aproximou ficando ao lado deles, admirando o lago com ansiedade.

- Já pegaram algum Peixe de Fogo?

- Nenhum até agora. - Um deles disse.

O silêncio voltou e a Lebre lentamente aproximou seu focinho até a água.

- Acho que posso vê-los conversando entre si. - Ela sussurrou para eles.

- E o que eles dizem? - O outro estava agora ansioso.

Ela voltou a olhar para a água fazendo um suspense, e assentiu com a cabeça como se concordasse com o que "ouvia" dos Peixes de Fogo.

- Me parece uma longa história sobre conchas brilhantes no fundo do lago.

- Conte para nós! - Eles disseram juntos e animados.

- Bem... - Ela aprumou a postura e alisou sua pança mole. - Sinto que devia mesmo encontrá-los agora. Devo ter sentido o que o Chapeleiro chamava de "saudodes". Então é justo que eu lhes conte o que os Peixes de Fogo diziam. Mas pode ser um segredo. - Ela piscou com um olho apontando o dedo para eles. - Seriam vocês, capazes de guardá-lo?

- Você tem a nossa palavra. - Um dos gêmeos garantiu.

Então a Lebre sentou e começou a contar uma história sobre conchas brilhantes que caíram do céu direto na cabeça das Sereias Selenas da Lua.

Enquanto isso, Maise resmungava tendo a certeza de que a Lebre havia se esquecido dela.
Ela ia descer da árvore quando voltou a se esconder ouvindo vozes.

- ... e as asas foram colocadas em um enorme bloco de gelo. - Um Elefante Roxo Chorão falava com o outro. - ... a Rainha Vermelha deixou o Rei Branco para morrer e se foi. Ele não consegue ordenar que as asas voltem para as suas costas. Dizem que, ordens tão poderosas como aquela, as ordens da Rainha Vermelha, são impossíveis de ser quebradas.

- Eu pensei que não existissem coisas impossíveis. - O outro elefante roxo respondeu.

- É claro que existem coisas impossíveis. - O primeiro coçou as costas com a tromba. - Coisas impossíveis vêm para quem não as merece que sejam possíveis. Acho que o Rei Branco não tem sido bom como deveria ser.

- Ouvi que a Rainha Vermelha continua seu julgamento. - O outro respondeu com a voz trêmula. - Soube que ela está a procura de Maise, a rata redonda?

- Como é?! - Maise exclamou bem em cima deles que olharam para cima. - Vocês por acaso já olharam os seus tamanhos?!

- Maise! - Um elefante exclamou surpreso e olhou para os lados alarmado. - Perdoe o termo mas não imaginei que isto lhe incomodasse.

- E não incomoda. Mortos não se importam com muita coisa, certo?

Ela retrucou mal humorada e eles olharam entre si.

- O que há, velha Maise. Não se preocupe tanto. Vamos ajudar você.

Maise de repente se imaginou vivendo na apertada casa dos Elefantes Chorões.

- Eu não posso morar na casa de vocês.

- E não vai. - Eles responderam juntos.

- Bem... - Um deles começou. - ... você tem a sua casa. Volte para lá.

Maise se aprumou melhor nos galhos coloridos da árvore.

- Você quer mesmo a minha morte, não é? Eu não posso voltar para casa. Alguém deve estar me esperando lá.

- Não há ninguém lá. - O outro garantiu. - Passamos por lá agora a pouco. Mas se houver, coma um bolinho e desapareça. Pronto.

Maise arqueou as sobrancelhas e levou a mão à testa se dando conta do quanto era boba.

- Mas eu não tenho...

- Pegue o meu. - O elefante roxo ofereceu e começou a chorar. - Mas saiba que me fará falta depois. Eu vivo com fome.

- Eu lhe dou outro em breve.

Maise pulou da árvore e comeu o bolinho desaparecendo em seguida.

- Obrigada! - Ela se foi sem que eles se dessem conta disso.

Guilhermo estava em seu quarto quando Alice entrou de forma bruta e andou por ali ignorando o olhar intrigado que ele lançava à ela.

- Olá, querido. - Sua voz saiu doce como mel. - Acredito que você ainda não saiba da visita que fiz ao seu pai agora há pouco.

- Não. - Guilhermo franziu o cenho curioso. - O que você fez com ele?

- Você se importa? - Ela sorriu se aproximando e arrumando o traje real dele. Sua proximidade fez Guilhermo inspirar seu perfume e querer tocar seu rosto.

- Não. - Ele negou sentindo a voz falhar de desejo. - Você pode fazer o que quiser.

Alice riu baixo e assentiu olhando nos olhos dele.

- Você sabe que merece a minha total indiferença, não sabe? Sabe que merece dormir sozinho e viver sem os meus beijos.

Ele piscou constatando que ela sabia de tudo e engoliu em seco. Mas ele tocou seu rosto.

- No entanto, não consigo deixar de desejá-la cada vez mais. Eu sei que errei, mas te amo e isso nunca vai mudar.

Alice segurou a mão dele em seu rosto e quase sorriu.

- E eu te odeio e isso nunca vai mudar, Guilhermo.

Ele franziu o cenho e da mão que ela, segurava saiu sangue. Ele se afastou assustado e olhou um corte profundo na palma da mão que agora ardia.

- O que você fez?!

Mais cortes surgiam em seu braço e ele grunhiu de dor. Seu rosto sangrou com novos cortes e Alice lhe deu as costas saindo do quarto.
Guilhermo gritou de dor tirando a roupa e vendo mais cortes fundos em seu peitoral. Ele estava agora coberto de sangue.
Seu grito ecoou por todo o castelo.

Alice entrou em seu quarto e tirou seu vestido indo para um banho de banheira.
A água perfumada com o aroma de rosas acolheu seu corpo e ela relaxou.
Não demorou nada, Alice fechou os olhos parecendo como uma estátua muito bela, e as lágrimas começaram a rolar pelo seu rosto.


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Hei! O que você está achando dessa nova Alice?

Alice e o Chapeleiro (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora