Ele é Nosso

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As Sereias estavam sentadas nas rochas do lago e penteavam os cabelos umas das outras. Elas falavam sua própria língua quando foram interrompidas pelo farfalhar das folhas das árvores a cima. O vento soprou mais forte e o barulho de galhos quebrando se intensificou.
A única Sereia loira e que havia falado com Alice umedece os lábios e sorriu. A comida estava vindo.
Mas a comida era Guilhermo e ele caiu no lago desacordado. Todas sereias, cerca de quinze, pularam no lago para brigar pelo "alimento".

- Parem! - A Sereia loira já segurava ele que permanecia desacordado com a cabeça apoiada no ombro dela. Ela o abraçava pelas costas e as outras admiravam a beleza de Guilhermo. - Vejam o quanto ele é belo.

- Estamos com fome. - Uma mostrou os dentes pontiagudos para ela. - Vamos devorá-lo de uma vez!

- Ele tem asas, mas seu corpo é completamente humano. - A sereia loira disse fazendo um carinho no rosto de Guilhermo. - Lembra o Chapeleiro e a nobreza. Este deve ser seu sobrinho, o príncipe. Não vamos matá-lo ainda. Ele nos servirá para nossa própria reprodução e por fim os matamos. Esperamos ele acordar e...

- Guilhermo! - Alice chegou no lago e se assustou ao ver ele desacordado. - Você o salvou, não sei como posso lhe agradecer por isso. Muito obrigada, bela sereia.

- Ele é nosso! - Uma sereia tentou pegar Alice na margem mas o Chapeleiro a puxou para longe.

- O que você está fazendo? - Alice franziu o cenho se dirigindo a ela que extendia suas mãos de garras longas e roxas, tentando pegá-la. - As sereias são boas e...

- Não, minha vida. - Ele disse e Alice olhou nos olhos dele. - Elas devoram qualquer ser vivo que cair neste lago.

Alice demorou uns segundos para compreender o que ele disse e então seu medo lhe deu tremores.

- Guilhermo é um nobre. - Alice se adiantou levantando a voz. - Matá-lo seria o fim de todas vocês.

- Ao menos morreremos de barriga cheia! A comida anda escassa e eu não vou mais passar fome! - Outra sereia disse se aproximando de Guilhermo e Alice arfou pronta para pular e salvá-lo de alguma maneira. Mas a sereia loira mostrou os dentes para a outra sereia que se afastou irritada. Era evidente que ela era a líder.

- É MEU! - ela soltou um grito estridente e as outras sereias se afastaram receosas. - Ele é meu!

- ELE NÃO É SEU! - Alice exclamou furiosa pela primeira vez desde que chegou.

O Chapeleiro e todas as sereias voltaram seu olhar para ela. Alice estava transtornada de raiva daquela sereia.

- ELE É MEU! ORDENO QUE TRAGA-O ATÉ MIM! ME OBEDEÇA E NUNCA MAIS SE ATREVA A TENTAR MACHUCÁ-LO! SEQUER OLHE PARA ELE!
ME DEVOLVA ELE AGORA!

O silêncio que se seguiu foi assustador para as sereias e triste para o Chapeleiro. O Mentor, que via tudo de longe, estava perplexo com o ódio que Alice tinha na face. Os pensamentos do Chapeleiro se tornaram confusos.

Alice gosta de Guilhermo? Ela sente algo por ele ou só está fazendo o que faria a qualquer um? Eu não sei o que pensar...

A sereia loira obedeceu à contra gosto e levou Guilhermo para a margem. Alice e o Chapeleiro puxaram ele para fora do lago e ela contorceu o rosto tristemente ao ver que ela tinha um corte feio no ombro.
O Chapeleiro analisava o jeito que ela tocava no rosto de Guilhermo e sofria ao vê-lo daquela maneira.

- O que aconteceu? - Ela sussurrou para si mesma. - Ordeno que esse corte se feche. - O corte se fechou aos poucos até ficar apenas uma marca.

- E o que será de nós?! - A sereia loira questionou furiosa por ter perdido Guilhermo. - Estamos famintas e há poucos peixes no lago.

Alice respondeu sem sequer tirar os olhos de Guilhermo.

- Eu resolverei seus problemas em breve. Garanto que vocês serão muito felizes no lugar onde as colocarei. Chapeleiro, vamos levar Guilhermo para o seu castelo. Ele deve ter voado por muito tempo e na certa, fugia de algo que A Rainha Vermelha fez.

Alice ordenou que o vento levitasse Guilhermo e eles foram até o castelo branco.
O Chapeleiro olhou de lado para Alice que tropeçava, por prestar mais atenção nos galhos que podiam machucar Guilhermo.

- Ele ficará bem. - ele falou paciente. - Não se preocupe tanto, Minha Vida.

- É tudo culpa minha. - Ela tropeçou mais uma vez e se recompôs. - Eu não dei a devida importância aos problemas de Guilhermo. Esqueci que ele estava sendo procurado pela Rainha Vermelha. Achei que ao lado da mãe ele estaria seguro.

- Ele saiu do castelo, e vir para cá é muito perigoso. Eu não entendo o que ele procurava longe de seu reino.

- Sua asa ainda não estava completamente curada, e as asas deles já são fracas, como bem reparei. - Alice sentiu os olhos arderem com as lágrimas que queriam se formar. - Mas Guilhermo tem se mostrado muito teimoso. Não pára quieto um segundo, não é? Por que ele não acorda?

- Ele só  deve está muito cansado. - O Chapeleiro ajudou ela a saltar um tronco de árvore que havia caído e estranhou que ela se afastou depressa, como se somente Guilhermo importasse.
Seus olhos azuis não desviavam do corpo dele que seguia com o vento. Eles passaram pelo vilarejo e pegaram o caminho até a Árvore das Lamentações que falava alto.

- E as folhas renascem com o vento!

A árvore sorria e haviam algumas folhas novas nela, mas assim que ela viu Guilhermo, seu sorriso se fechou.

- ... O mesmo vento que sustenta o véu da morte. E quem diria que um coração tão frio poderia parar de bater ao congelar? Ele não deveria estar acostumado ao gelo? Não?

- O que ele disse? - Alice arfou em pânico. - O coração de Guilhermo parou? Congelou?! Chapeleiro, o que ele está dizendo?!

- Acalme-se, Alice. - O Chapeleiro tentou falar mas a árvore repetia o seu lamento enquanto suas recentes folhas secavam e caíam.

E as folhas renascem com o vento! O mesmo vento que sustenta o véu da morte. E quem diria que um coração tão frio poderia parar de bater ao congelar? Ele não deveria estar acostumado ao gelo? Não?

- Pare de dizer isso! - Alice exclamou enfim derramando suas lágrimas e bateu o pé irritada. Olhou para a passagem secreta do Chapeleiro. - Não há tempo! Ordeno que minhas costas ganhem asas!

E das costas de Alice nasceram grandes e brancas asas. O Chapeleiro se surpreendeu com aquilo e se afastou assustado. Alice logo aprendeu a usá-las e guiou Guilhermo que ainda levitava com o vento até o seu palácio.

Alice e o Chapeleiro (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora